Não precisam de nomes as palavras expressivas.
Esses nomes todos são para confundir
a verdadeira verdade.
É no silêncio que se diz tudo o que há
para ser dito,
no escuro é onde lemos o necessário,
o correto.
As verdadeiras palavras
não se chamam palavras,
se chamam sentimentos
Escrito a sangue, tangido à luz da noite, embrulhado no brilho das estrelas. [sem vaidade, apenas a realidade, verdadeira e certeira. com todo amor, todo horror] {aconselhado apenas para humanos e quase humanos}. CUIDADO, MUITOS SE PERDEM NO TORTUOSO CAMINHO!
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Vida, vida
Da folha em branco eu nasci,
em teu sangue cresci,
no teu coração vivi,
na tua mente sorri,
e gritei, chorei, agonizei
até te fazer despertar
e então morri
em teu sangue cresci,
no teu coração vivi,
na tua mente sorri,
e gritei, chorei, agonizei
até te fazer despertar
e então morri
Sentido inverso
Os teus poemas é que leio,
os romances são fingimentos.
Tua beleza é que enxergo,
os óculos são coincidência.
Do teu amor é que escrevo,
palavras são inevitáveis.
É de ti que preciso para viver,
o oxigênio é só desculpa
os romances são fingimentos.
Tua beleza é que enxergo,
os óculos são coincidência.
Do teu amor é que escrevo,
palavras são inevitáveis.
É de ti que preciso para viver,
o oxigênio é só desculpa
Ele, apaixonado
Eu já fui o rei dos mares,
o caçador dos leões,
o dono da terra.
Mas nunca nada me fez ser tão eu
como sou quando penso em ti.
Nada foi como é com tua existência,
nada era antes de ti,
ou melhor,
só o nada podia ser além de mim
sem ser contigo
o caçador dos leões,
o dono da terra.
Mas nunca nada me fez ser tão eu
como sou quando penso em ti.
Nada foi como é com tua existência,
nada era antes de ti,
ou melhor,
só o nada podia ser além de mim
sem ser contigo
Teus poemas de tão amorosos
me fazem poesia,
nos fazem amantes.
Enquanto eu tento reconstruir
em minhas palavras
o teu mesmo amor
- poético -,
mas só não sei falar
o que não foi dito
e irromper na margem do amor
para repetir os teus mesmo poemas
por não me ter nas palavras,
eu grito para escutarem
o quanto eu consigo te amar
e só minhas palavras inúteis ouvem
me fazem poesia,
nos fazem amantes.
Enquanto eu tento reconstruir
em minhas palavras
o teu mesmo amor
- poético -,
mas só não sei falar
o que não foi dito
e irromper na margem do amor
para repetir os teus mesmo poemas
por não me ter nas palavras,
eu grito para escutarem
o quanto eu consigo te amar
e só minhas palavras inúteis ouvem
O começo de mim
Rodopio no ventilador,
nado na escova sob o chuveiro,
danço com o liquidificador,
guardo o máximo de dinheiro.
Bebo água,
como mágoa,
quebro o espelho,
visto calças,
rasgo a cueca.
Amasso papéis,
enceno outros,
mato-os - os mesmos personagens
que me construíam.
Nasço e saio para passear com o sol
nado na escova sob o chuveiro,
danço com o liquidificador,
guardo o máximo de dinheiro.
Bebo água,
como mágoa,
quebro o espelho,
visto calças,
rasgo a cueca.
Amasso papéis,
enceno outros,
mato-os - os mesmos personagens
que me construíam.
Nasço e saio para passear com o sol
Nossas palavras
Eu te amo tanto
e com tal força
que não consigo exprimir em letras
o amor
- tão usual e repetido noutras bocas apaixonadas,
que chegou a se apagar.
Esse amor que nunca brilhou,
que desaparecia quando apagávamos a luz do quarto.
Eu te amo tanto
que escrevo estes versos
(ridículos e patéticos)
para um dia
serem apagados
pela mesma mão que os escreveu
e com tal força
que não consigo exprimir em letras
o amor
- tão usual e repetido noutras bocas apaixonadas,
que chegou a se apagar.
Esse amor que nunca brilhou,
que desaparecia quando apagávamos a luz do quarto.
Eu te amo tanto
que escrevo estes versos
(ridículos e patéticos)
para um dia
serem apagados
pela mesma mão que os escreveu
Vida astral
Nessa dança erótica em que vivemos,
nos comemos,
formamos uma cena esquecida
passada e repassada em uma jaula.
Damo-nos ao máximo e nada recebemos,
forçamos a vista até que enxergamos
um vazio dentro de cada um,
preenchido de nada,
de uma vida retesada.
E se um dia sairmos da caverna
não voltaremos,
mas ficaremos com uma falta fraterna,
encerrando a cena,
serrando as grades
de onde já fora Atenas
nos comemos,
formamos uma cena esquecida
passada e repassada em uma jaula.
Damo-nos ao máximo e nada recebemos,
forçamos a vista até que enxergamos
um vazio dentro de cada um,
preenchido de nada,
de uma vida retesada.
E se um dia sairmos da caverna
não voltaremos,
mas ficaremos com uma falta fraterna,
encerrando a cena,
serrando as grades
de onde já fora Atenas
Primeiros anos
Espera, que eles já vêm à mesa de jantar,
comer, se alimentar do que aqui há.
Eles estão sedentos, precisa de carne,
carne crua, fresca, fraca.
Já dá para sentir o cheiro de suor sujo
aproximando-se,
já se pode ouvir o uivo, cujo
o som vem alternando-se.
As gargalhadas imorais
estão impregnadas nos pelos
e se afundam mais e mais
entre seus dedos.
Calma, querida, eles só querem saciar-se,
só querem tua carne provar
e te mostrar, te ensinar
o que é aliviar-se.
Eles querem teus olhos fechados,
tuas pernas abertas,
teus braços suados,
eles te querem escancarada,
querem se divertir na madrugada.
Então deixa, deixa,
que o mundo tem desses prazeres,
todos esses deveres
de se vender para ter o que comer.
Os primeiros anos são os piores,
depois torna-se costume
essa violência que te consume,
a permissão que te devore.
Agora relaxa, para de chorar,
deixa doer, deixa sangrar
comer, se alimentar do que aqui há.
Eles estão sedentos, precisa de carne,
carne crua, fresca, fraca.
Já dá para sentir o cheiro de suor sujo
aproximando-se,
já se pode ouvir o uivo, cujo
o som vem alternando-se.
As gargalhadas imorais
estão impregnadas nos pelos
e se afundam mais e mais
entre seus dedos.
Calma, querida, eles só querem saciar-se,
só querem tua carne provar
e te mostrar, te ensinar
o que é aliviar-se.
Eles querem teus olhos fechados,
tuas pernas abertas,
teus braços suados,
eles te querem escancarada,
querem se divertir na madrugada.
Então deixa, deixa,
que o mundo tem desses prazeres,
todos esses deveres
de se vender para ter o que comer.
Os primeiros anos são os piores,
depois torna-se costume
essa violência que te consume,
a permissão que te devore.
Agora relaxa, para de chorar,
deixa doer, deixa sangrar
Doente viral
É melhor você me esquecer,
é melhor você se afastar.
Eu estou contaminado,
posso te matar,
não quero te contaminar.
É melhor você ir,
meu amor pode te adoecer.
Eu adoeci de outros amores,
agora estou morrendo,
o sexo me matou
é melhor você se afastar.
Eu estou contaminado,
posso te matar,
não quero te contaminar.
É melhor você ir,
meu amor pode te adoecer.
Eu adoeci de outros amores,
agora estou morrendo,
o sexo me matou
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Flores bissexuais - Capítulo V, Meus escorpiões
Eu estou com aids. Terceiro dia que acordo com essa frase a me torturar, cuspindo na minha cara todos os prazeres que tive. Meus sonhos eram perturbadores, Geni segurava uma criança ensanguentada - Toma, pega, o filho é teu -, Carlos me matava com seu pênis gigante. Eu, sempre acordando atormentado, os olhos ressecados por causa das lágrimas secas. Eu sempre tentava esquecer tudo, mas os pensamentos estavam impregnados em mim, eu não me via mais no espelho, só conseguia ver esses pensamentos. Sempre assim; quebrei todos os espelhos do apartamento, já não fazia a barba. Eu não saía mais de casa. Ninguém ligava, seria melhor assim, todos me esqueceriam, seria melhor assim. Pela terceira vez estou no banheiro, a faca ainda suja de margarina toca meu peito e acompanha a respiração. Duas horas na mesma posição, apesar do suor, a mão continua firme na mesma posição, a faca segura entre os dedos. A mente vazia me esvazia, me dá azia. Olhos famintos por cores. Batidas, batidas se confundem com o som de meu coração. Há alguém na porta, há alguém me chamando. A faca desliza, me alisa o peito, arranha o peito, o sangue forma uma imagem estranha no chão, como um pequeno sol vermelho. Sinto os olhos nas lágrimas, afogam-se, mas só o suor corre pelo meu rosto. As batidas frenéticas continuam, quase formam um ritmo, e eu preciso atender. Amanhã tento a morte novamente. Não visto calças, somente blusa e cueca. É o Carlos. Ele demora a abrir a boca, seus olhos estão tão conturbados quanto os meus. Eu já soube da doença. É, estou com aids. Sim, vim te buscar para te levar ao médico, agendei uma consulta. Tão rápido, você transou com ele também? A resposta é silenciosa, mais silenciosa que o silêncio, é fria e dolorosa, agressiva. Vista as calças. Já vestido estou esperando no hospital, durante a viagem não houve conversa e ainda não há. Nem olhares nem nada. Mas brigávamos, nos insultávamos por pense pensamento, nos xingávamos com silêncio. Teu pulmão não está muito bem, meu rapaz. Quando sai o resultado, doutor? Quinta-feira. Caso o resultado dê positivo, teremos de começar um tratamento imediatamente, e não te preocupes, não será assim tão doloroso. Sorrisos amarelos. Carlos me dá um tapa nas costas, amigável. Você fazia filmes pornôs? A Geni contou, não foi? Sim, eu fazia, era a única forma de viver, por incrível que pareça, eu me formei em Jornalismo, mas você sabe como é a vida, eu não tinha dinheiro para um aluguel, mas meu primo era produtor desse tipo de filmes, o salário não era nada mau, eram três mil e quinhentos por filme. E em algum desses filmes você teve que transar com Geni? Não, sempre era outro ator. Mas quando a vi no camarim... Ela é uma mulher inteligente, bonita e foi a primeira mulher a me beijar de verdade, me beijar com amor, nenhuma das outras mulheres que conheci queria amor. Ele então olhou para mim e, contra nossas vontades, nossos olhares se encontraram e o silêncio voltou a nos atormentar.
Geni se recuperava muito bem, eu ainda não havia visto como ela estava desde o jarro de flores. A enfermeira disse que ela estava dormindo, nem saberia que eu estava ali. Geni estava cada vez mais linda, seus cabelos despenteados eram ainda mais charmosos, seus lábios sensuais quase imitavam todas as curvas de seu corpo. a barriga não crescera ainda e ela ainda era linda, mais linda do que nunca. Estava tentado a beijar aqueles doces lábios, antes que eu desse um passo, suas pálpebras se levantaram, seus olhos encheram a sala de brilho. Vocês está aqui? Isso não é mais a porra de um pesadelo? Não, querida, eu estou aqui. Querida? Você me engravidou, um bebê, aids, estamos todos com aids, infectados, por causa de você, seu desgraçado! O quê? O quê você esperava, idiota? Mas... Mas o quê? Então foi você quem me adoeceu, Geni. Ela não respondeu, os bipes ecoavam pelo quarto. Sim, eu acho que sim, há tempos sinto pequenas bolinhas soba pele e não me sinto bem, me sinto fraca, eu sempre estava meio resfriada, com algumas dores de cabeça. Sim, querido, eu quem te passei a doença. Eu chorei, chorei com minhas últimas lágrimas, chorei e chorei. Está chorando de quê, quer que eu me desculpe? Eu não sabia o que dizer, não sabia o que falar, não sabia o que fazer, não sabia o que pensar. Não havia palavra a ser dita, abracei-a, ela não protestou. Abracei somente, com um afeto triste, até adormecermos na mesma doença repugnante e nojenta, a doença que tanto atormenta.
O senhor não pode ficar aqui. Era a enfermeira loira, a mesma que me atraia, agora era só mais um pedaço de carne podre, infectado pelo mundo, sujo. Ela abriu a janela para o sol voltar a nos perturbar, saí e fui para casa. A máquina de escrever estava escancarada, sentei-me, mas as palavras fugiam e tudo a ser dito tornava-se menos um pensamento vago despedaçado e jogado à lixeira. Parem, parem de gritar, estou cansado de tudo isso, me matem, estou aqui, mas parem de atrapalhar! Atrapalhar o quê? A infância desmentida, a adolescência imunda e rabiscada, destroçada e desgraçada, a velhice precoce e imoral, atrapalhar o quê? Vida de merda! Infância, infância, infância. A adolescência sem vida é a pior de todas as lembranças. Se é para morrer quer seja rápido, que chame a atenção, que faça barulho, que mude algo ao menos. Preciso de um revólver. Preciso me embebedar e transar.
Estou no sexto copo. Seu João, você conhece alguém que vende armas? Falo entre pausas e soluços. Deixa disso, rapaz. O senhor sabe, a cidade está ficando perigosa, cada vez mais violenta, aposto como você tem sua pistola para imprevistos e emergências. Seu olhar me consome. Tem uma casinha amarela, número 41, daqui a cinco ruas. Diga que conhece o Kléber, eu só não aconselho que vá nessas condições. Ponho uma nota de vinte no balcão e dou as costas com um até mais embriagado. As ruas estão vazias, eu não estou tão inconsciente, ainda consigo pensar e caminhar, número 41, casa amarela. Boa noite, senhora. Eu preciso de um revólver de pequeno porte. Desculpe, mas não vendemos armas, o senhor deve ter se confundido. O Kléber que me encomendou essa arma. Suas pálpebras pesam. Entre então. Sei que o Kléber não te conhece, se ele quisesse algo, viria ele mesmo. Sorrio um sorriso puro de álcool, me erro. Então, o que você quer? O revólver mais barato e balas. Pago duzentos reais e volto para casa, sem cambalear, talvez a aids iniba o efeito do álcool.
Agora é só puxar o gatilho, o cano já está enfiado em minha boca, posso senti-lo em minha garganta, ele arranha tudo que penso, agora é só puxar o gatilho e deixar a bala fazer todo o resto, o trabalho será mínimo. Ninguém sentirá falta de mim, ninguém, absolutamente ninguém. É fácil, basta puxar o a porra do gatilho. Basta puxar! Tudo estará feito, é isso então. Todas aquelas garotas, os beijos, as loiras, as morenas, os seios, as nádegas, os livros, os poemas, o bebê, Geni. Meu filho seria órfão de pai. Não, seu pai é e será Carlos. Basta puxar. Puxe! PUXE! Vamos lá. Vamos lá! Só você vai, tudo fica, tudo ficará para trás. Porra! Puxa a merda do gatilho. Merda! Ah! A vida tão cantada não tem nada mais que a morte, viver não é mais belo que morrer. O gatilho, droga. Puxa!
Então, puxo o gatilho.
Então, puxo o gatilho.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O fundo do poço
O fundo tão tanto quanto profundo em que perfeitamente me encaixo
é meu refúgio úmido e imundo, meu perfeito lugar,
meu lugar de não ser, não viver, não amar, não pensar.
Minha própria mão me aperta, me envolve, me arranha o coração,
meu coração me sufoca e me faz não parecer, me faz não fazer.
Eu tento em outro intento,
quero não repetir, não cair, não fingir, quero não querer.
Mas ainda assim continuo, influo e me fluo num fluxo indiferente,
um fluxo perturbado quer sempre me conturba os pensamentos,
que sempre me cria os pensamentos
e me faz sofrer na precariedade de escrever, na inutilidade de saber.
Permaneço na velha tentativa de reconhecer a antiga imagem enferrujada e inacabada,
a velha imagem (tentativa) de me ser através do vidro,
através do espelho repugnante que sempre me formou no futuro do antes,
da água poluída e indistinta, a água de meus fluidos a me afogar, a me perturbar,
a me forçar, a me pecar e me tentar.
Mas a música me ensurdece, o som me enfraquece,
o poema não me escreve, o dia não me nasce,
permito que cada palavra me rasgue e me lasque
como se a grama em que me deito fosse lascas a me perfurar, me amaldiçoar,
como se cada minha grama me fosse o peso mais pesado e mais torturante,
como se tudo nada me fosse,
como se a comida já nem fosse necessária, como uma piada hilária
na perdição de encontrar algo da maior utilidade na vida solitária,
como se cada nota fosse irrelevante, como se cada dor não fosse lancinante,
como se houvesse alguma outra nova esperança como as esperanças de nunca ter sido criança.
Então me busco nas buscas irracionais e imorais pelos caminhos mais banais.
Busco a não-resposta pelas coisas que nunca fui e nunca tive, nunca vivi.
Mas no fim encontro apenas a cela,
não há nada, não há ela.
Desencontro meu coração, reencontro a suja prisão, me perco em uma mesma visão
e permaneço, permaneço calado em meu pecado, mudado.
E tudo haveria se eu tivesse gritado, pedido ajuda, mesmo sabendo que nada nunca muda,
nada nunca é, nada nunca é nada, nada nunca é.
Eu penso, fico propenso a um outro final, um outro canal, menos noturno, mais matinal.
Me procuro nas fotografias, me procuro em algum recanto da poesia, procuro alegria
e só encontro a tristeza, só encontro a falta, a vontade de nunca existir.
Não há fotos, não há rostos, não há, não ar.
Eu me sinto, me aperto em meu cinto e saio para rua, saio à procura da lua,
não a vejo, não a encontro, me perco, me mudo, me tudo.
Caio para um lado, caio para o outro, me faço o pecado de não pecar,
preciso de resultado, o resultado que tanto me pedem, que tanto me fedem.
Eu quero um outro meu, quero ser teu, quero que me caia em cheio o céu,
quero me enfiar e parar de respirar, quero parar, parar, parar.
Me rapto num movimento rápido, capto as outras intitulações que nunca me couberam, nunca vieram.
Caminho a uma outra parada na eterna madrugada,
nado à outra margem, me banho com a vagem que me leva sempre à mesma viagem sem retorno,
sempre no mesmo forno, no mesmo fosso, no mesmo osso, o mesmo crime doloso
de ser.
E eu não entendo, não compreendo, nem mesmo vendo enxergo,
eu não sei o que é, não sei como é, não sei o quanto é, não te posso quando me der,
não te possuo quando me quiser, não estarei quando vier, não poderei quando puder.
E eu corro, corro morro acima, morro e morro.
Morro no frio gélido e incalculável, causado pelo vento incontrolável, pelo desejo inevitável.
Peço um pedaço de pão apenas, um pouco de teu coração, um aperto de mão.
Um beijo quente e irreverente, um beijo que seja o único dos beijos.
Um abraço entre teus braços, um abraço que me viva, um abraço forte, um abraço da morte
é meu refúgio úmido e imundo, meu perfeito lugar,
meu lugar de não ser, não viver, não amar, não pensar.
Minha própria mão me aperta, me envolve, me arranha o coração,
meu coração me sufoca e me faz não parecer, me faz não fazer.
Eu tento em outro intento,
quero não repetir, não cair, não fingir, quero não querer.
Mas ainda assim continuo, influo e me fluo num fluxo indiferente,
um fluxo perturbado quer sempre me conturba os pensamentos,
que sempre me cria os pensamentos
e me faz sofrer na precariedade de escrever, na inutilidade de saber.
Permaneço na velha tentativa de reconhecer a antiga imagem enferrujada e inacabada,
a velha imagem (tentativa) de me ser através do vidro,
através do espelho repugnante que sempre me formou no futuro do antes,
da água poluída e indistinta, a água de meus fluidos a me afogar, a me perturbar,
a me forçar, a me pecar e me tentar.
Mas a música me ensurdece, o som me enfraquece,
o poema não me escreve, o dia não me nasce,
permito que cada palavra me rasgue e me lasque
como se a grama em que me deito fosse lascas a me perfurar, me amaldiçoar,
como se cada minha grama me fosse o peso mais pesado e mais torturante,
como se tudo nada me fosse,
como se a comida já nem fosse necessária, como uma piada hilária
na perdição de encontrar algo da maior utilidade na vida solitária,
como se cada nota fosse irrelevante, como se cada dor não fosse lancinante,
como se houvesse alguma outra nova esperança como as esperanças de nunca ter sido criança.
Então me busco nas buscas irracionais e imorais pelos caminhos mais banais.
Busco a não-resposta pelas coisas que nunca fui e nunca tive, nunca vivi.
Mas no fim encontro apenas a cela,
não há nada, não há ela.
Desencontro meu coração, reencontro a suja prisão, me perco em uma mesma visão
e permaneço, permaneço calado em meu pecado, mudado.
E tudo haveria se eu tivesse gritado, pedido ajuda, mesmo sabendo que nada nunca muda,
nada nunca é, nada nunca é nada, nada nunca é.
Eu penso, fico propenso a um outro final, um outro canal, menos noturno, mais matinal.
Me procuro nas fotografias, me procuro em algum recanto da poesia, procuro alegria
e só encontro a tristeza, só encontro a falta, a vontade de nunca existir.
Não há fotos, não há rostos, não há, não ar.
Eu me sinto, me aperto em meu cinto e saio para rua, saio à procura da lua,
não a vejo, não a encontro, me perco, me mudo, me tudo.
Caio para um lado, caio para o outro, me faço o pecado de não pecar,
preciso de resultado, o resultado que tanto me pedem, que tanto me fedem.
Eu quero um outro meu, quero ser teu, quero que me caia em cheio o céu,
quero me enfiar e parar de respirar, quero parar, parar, parar.
Me rapto num movimento rápido, capto as outras intitulações que nunca me couberam, nunca vieram.
Caminho a uma outra parada na eterna madrugada,
nado à outra margem, me banho com a vagem que me leva sempre à mesma viagem sem retorno,
sempre no mesmo forno, no mesmo fosso, no mesmo osso, o mesmo crime doloso
de ser.
E eu não entendo, não compreendo, nem mesmo vendo enxergo,
eu não sei o que é, não sei como é, não sei o quanto é, não te posso quando me der,
não te possuo quando me quiser, não estarei quando vier, não poderei quando puder.
E eu corro, corro morro acima, morro e morro.
Morro no frio gélido e incalculável, causado pelo vento incontrolável, pelo desejo inevitável.
Peço um pedaço de pão apenas, um pouco de teu coração, um aperto de mão.
Um beijo quente e irreverente, um beijo que seja o único dos beijos.
Um abraço entre teus braços, um abraço que me viva, um abraço forte, um abraço da morte
domingo, 23 de dezembro de 2012
Em partes
Eu tenho forças,
mas como levantar uma pedra
sem as mãos?
Me amputaram as próprias mãos.
Eu tenho fé,
mas como posso caminhar
sem os pés?
Me amputaram os próprios pés.
Eu tenho coração,
mas como posso enxergar
sem os olhos?
Me arrancaram os próprios olhos.
Eu tenho amor,
mas como posso amar
sem o coração?
Me roubaram o coração
mas como levantar uma pedra
sem as mãos?
Me amputaram as próprias mãos.
Eu tenho fé,
mas como posso caminhar
sem os pés?
Me amputaram os próprios pés.
Eu tenho coração,
mas como posso enxergar
sem os olhos?
Me arrancaram os próprios olhos.
Eu tenho amor,
mas como posso amar
sem o coração?
Me roubaram o coração
sábado, 22 de dezembro de 2012
Pelos velhos sonhos
Nos cantos mais escuros e empoeirados
foi que me guardei e me sujei de mim,
me refiz pra ti e te fiz o outro lado amado,
tentei te reencontrar e me despistar o fim.
Acabei-me então, acabei meu coração,
me inventei numa outra estação
e te esqueci na minha própria lembrança de não existir,
te desmereci na minha outra criança que sempre quis cair,
sempre quis desistir de não ser, de não viver.
E tive de permanecer, aguardar o melhor momento
para reiniciar aquele velho tormento
que nos foram a eterna infância
com a ânsia de amar, de desejar, de querer e não dizer.
Nós nos fizemos um outro ser
que apenas nós podemos entender,
apenas nós podemos viver e encantar,
apenas nós podemos amar
foi que me guardei e me sujei de mim,
me refiz pra ti e te fiz o outro lado amado,
tentei te reencontrar e me despistar o fim.
Acabei-me então, acabei meu coração,
me inventei numa outra estação
e te esqueci na minha própria lembrança de não existir,
te desmereci na minha outra criança que sempre quis cair,
sempre quis desistir de não ser, de não viver.
E tive de permanecer, aguardar o melhor momento
para reiniciar aquele velho tormento
que nos foram a eterna infância
com a ânsia de amar, de desejar, de querer e não dizer.
Nós nos fizemos um outro ser
que apenas nós podemos entender,
apenas nós podemos viver e encantar,
apenas nós podemos amar
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
A parte que te fui
Eu me perdi em meus papéis,
me criei em meus pensamentos infiéis.
Perdi meus cadernos de poesia
em algum outro antigo dia.
Eu me afoguei nas palavras,
me morri nos verbos invariáveis,
me comi as minhas larvas,
me banhei com minhas lágrimas descartáveis
e me tornei a outra parte sem arte e sem sentimento,
a parte que não tem coração,
a parte que se consome na própria sensação de ser sem viver.
Eu me tornei a outra parte irreconhecível,
te lancei as piores mágoas como um míssil,
te encarnei as minhas piores dores
e te desfiz todos os amores
num outro amor
que sempre foi apenas dor
me criei em meus pensamentos infiéis.
Perdi meus cadernos de poesia
em algum outro antigo dia.
Eu me afoguei nas palavras,
me morri nos verbos invariáveis,
me comi as minhas larvas,
me banhei com minhas lágrimas descartáveis
e me tornei a outra parte sem arte e sem sentimento,
a parte que não tem coração,
a parte que se consome na própria sensação de ser sem viver.
Eu me tornei a outra parte irreconhecível,
te lancei as piores mágoas como um míssil,
te encarnei as minhas piores dores
e te desfiz todos os amores
num outro amor
que sempre foi apenas dor
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Caminhada ao nada
Descobrindo as coisas indescobríveis
era que eu aprendia a vida,
libertava os bichos aprisionados
e que ninguém mais via,
só meus dois olhos
recobertos de poeira do tempo
qual meu ouvido afogado
em todos os sons
daquelas quebras entrecortadas
entre o nada interminável
parado no caminho diário,
me esperando para acolher
o silvo do começo de outra vida
da mesma vida igual
na diferença de sempre em nunca
quando controlo sedento
o pasto febril de verde,
remontando o sorriso
do passado, relembrando o presente.
O peso sufocável da mala
ainda me faz parar de metro em metro
desembarcando os vermes antigos,
vermes de outro corpo
que tentam sugar as palavras
perdidas e reencontradas
da tristeza de não as ter.
A janela fechada que se abria,
ainda com trancas,
mostrava as pétalas remotas
de outro jardim - quase o mesmo.
As pétalas de flores e rosas
fugitivas do sol vadio e rei.
O sol formado por todas as luzes
criadas na janela das pétalas.
Quando na estrada dum lugar
que já não sei qual é,
sustentado por estas pedras imundas,
estas pedras mesmas que o afundam.
Sinto o cheiro dos bafos
em panos de hálitos,
tecendo-se do desconhecido e inconformado.
O tecido que se repete, repete o repetido,
tornando ainda o inverso diferente
em um fim inicial, confuso
mas tangível.
Em dedos, que, na falta do afável,
encontravam o tocável
e sentiam o quê ninguém escutava
nem sentia nem via nem cheirava
nem provava
da mesma prova
que agora me testo rapidamente
para não chorar
e vomitar as palavras
com algum retorno de sentido,
alguma asa poderosa
sentida e entendida por todos
e mesmo pudesse despentear e guardar uma pena
para escrever acrósticos
respondendo tudo,
não deixando rastro sequer
do que já fui eu,
do que já foi palavra
era que eu aprendia a vida,
libertava os bichos aprisionados
e que ninguém mais via,
só meus dois olhos
recobertos de poeira do tempo
qual meu ouvido afogado
em todos os sons
daquelas quebras entrecortadas
entre o nada interminável
parado no caminho diário,
me esperando para acolher
o silvo do começo de outra vida
da mesma vida igual
na diferença de sempre em nunca
quando controlo sedento
o pasto febril de verde,
remontando o sorriso
do passado, relembrando o presente.
O peso sufocável da mala
ainda me faz parar de metro em metro
desembarcando os vermes antigos,
vermes de outro corpo
que tentam sugar as palavras
perdidas e reencontradas
da tristeza de não as ter.
A janela fechada que se abria,
ainda com trancas,
mostrava as pétalas remotas
de outro jardim - quase o mesmo.
As pétalas de flores e rosas
fugitivas do sol vadio e rei.
O sol formado por todas as luzes
criadas na janela das pétalas.
Quando na estrada dum lugar
que já não sei qual é,
sustentado por estas pedras imundas,
estas pedras mesmas que o afundam.
Sinto o cheiro dos bafos
em panos de hálitos,
tecendo-se do desconhecido e inconformado.
O tecido que se repete, repete o repetido,
tornando ainda o inverso diferente
em um fim inicial, confuso
mas tangível.
Em dedos, que, na falta do afável,
encontravam o tocável
e sentiam o quê ninguém escutava
nem sentia nem via nem cheirava
nem provava
da mesma prova
que agora me testo rapidamente
para não chorar
e vomitar as palavras
com algum retorno de sentido,
alguma asa poderosa
sentida e entendida por todos
e mesmo pudesse despentear e guardar uma pena
para escrever acrósticos
respondendo tudo,
não deixando rastro sequer
do que já fui eu,
do que já foi palavra
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
O poema que nunca leste
A linha do horizonte não existe mais,
eu me perco defronte a ti,
o mar rasga a realidade
que já nem existe,
a realidade que é triste.
O ar marinho te faz marinha,
o sul te faz o leste,
leste meu, leste europeu.
O leste que te guarda tua manha,
o leste que te tem a Alemanha.
Eu te perdi naquela última manhã,
te fiz de mim a outra parte distante,
lembro-te como qualquer alemã,
imagino um próximo inesquecível instante.
Tu me pões no caminho errado,
me fazes de mim mesmo meu pecado,
então me sigo pela sombra tua,
me deito na rua,
observo cada nuvem nua,
nasço a lua
eu me perco defronte a ti,
o mar rasga a realidade
que já nem existe,
a realidade que é triste.
O ar marinho te faz marinha,
o sul te faz o leste,
leste meu, leste europeu.
O leste que te guarda tua manha,
o leste que te tem a Alemanha.
Eu te perdi naquela última manhã,
te fiz de mim a outra parte distante,
lembro-te como qualquer alemã,
imagino um próximo inesquecível instante.
Tu me pões no caminho errado,
me fazes de mim mesmo meu pecado,
então me sigo pela sombra tua,
me deito na rua,
observo cada nuvem nua,
nasço a lua
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Entre Sodoma e Sheol
Espero em teu último desespero um dinheiro sem
cheiro não inteiro,
mas pela metade a metade que te é caridade,
a caridade que te falta na necessidade de fugir
da cidade.
E ir para algum outro lugar em que ninguém
saiba tua idade.
Ir para um lugar onde não haja lar, mar ou
qualquer outra coisa que se possa amar.
Tu buscas uma nova busca inútil.
Escutas cada conselho fútil e sem mérito que te
arrebentas num estrépito.
Fazes tuas fezes e esqueces tuas preces.
Esqueces mesmo tuas vestes.
E fechas os olhos inertes,
pensas cada pensamento incoerente e inerente a
ti,
cada tormento intento,
em que tento um tanto quanto me ser em outro
antro
Perdoavelmente necessário
Se me exagero nas palavras
é para te engrandecer nas imagens,
para te reviver nas milhões de viagens
que me permito,
que me imito.
Exagero também teus meio exageros,
te aperfeiçoo com tuas reais perfeições
para inventa proliferadas afeições
as quais me entrego, pego tuas necessidades
quase vaidades, unicamente verdades de mentira.
Adjetivo tua existência,
substantivo teus desejos mais selvagens,
teus princípios mais animais,
enquanto te apaixonas pelos lados mais humanos
que ainda se escondem sob os panos
de ser.
Ainda te amo enquanto te odeio
através do espelho;
ainda te tenho enquanto te perco
em meio ao caos urbano,
o caos subvertedor;
ainda te faço enquanto te desfaces
em nossas corrupções animais, sem faces.
Eu te desenho nas estrelas,
desloco teus ideais
para que se pareçam com os astros
mais deformados e sinistros,
os astros gigantescos e amedrontantes.
Tu me tens no teu único próprio
de pensar,
me ordenas com teus pedidos imperativos
que me ativam num desligamento
do que é viver,
como ganhar no que é perder,
construir uma queda infinita e inafável,
cair entre as rochas inenarráveis,
se debater nos sentimentos intermináveis.
Tu me queres vestido em teus desejos,
em tuas vontades perpétuas
que perfumam esse relacionamento
e se formam num pensamento
apalpável e inimaginável,
um pensamento inexistente
que persiste em seu querer
existir, cair em nossas mão,
fazer do coração a principal razão
de se ter nada no mar de tudo
em que nos banhamos, nos cantamos
a arte desconhecida e querida,
deferida com nossos gritos incessantes
e constantes.
No nosso riso eu me percebo um estranho em tua percepção sem explicação
e então interfiro qualquer lógica,
capto tuas interferências,
rapto tuas transmissões
para nos instituir tuas visões,
me apreendo enquanto aprendo tuas lições
quase confissões, assassinas
de minhas convicções.
Eu me empurro para onde me puxas,
sussurro ao ralo nossa paixão,
justifico nossas necessidades
por meio de provas absurdas
que formam nossas precisões injustificáveis
e por meio de nossas procissões me perdoas os perdões imperdoáveis
é para te engrandecer nas imagens,
para te reviver nas milhões de viagens
que me permito,
que me imito.
Exagero também teus meio exageros,
te aperfeiçoo com tuas reais perfeições
para inventa proliferadas afeições
as quais me entrego, pego tuas necessidades
quase vaidades, unicamente verdades de mentira.
Adjetivo tua existência,
substantivo teus desejos mais selvagens,
teus princípios mais animais,
enquanto te apaixonas pelos lados mais humanos
que ainda se escondem sob os panos
de ser.
Ainda te amo enquanto te odeio
através do espelho;
ainda te tenho enquanto te perco
em meio ao caos urbano,
o caos subvertedor;
ainda te faço enquanto te desfaces
em nossas corrupções animais, sem faces.
Eu te desenho nas estrelas,
desloco teus ideais
para que se pareçam com os astros
mais deformados e sinistros,
os astros gigantescos e amedrontantes.
Tu me tens no teu único próprio
de pensar,
me ordenas com teus pedidos imperativos
que me ativam num desligamento
do que é viver,
como ganhar no que é perder,
construir uma queda infinita e inafável,
cair entre as rochas inenarráveis,
se debater nos sentimentos intermináveis.
Tu me queres vestido em teus desejos,
em tuas vontades perpétuas
que perfumam esse relacionamento
e se formam num pensamento
apalpável e inimaginável,
um pensamento inexistente
que persiste em seu querer
existir, cair em nossas mão,
fazer do coração a principal razão
de se ter nada no mar de tudo
em que nos banhamos, nos cantamos
a arte desconhecida e querida,
deferida com nossos gritos incessantes
e constantes.
No nosso riso eu me percebo um estranho em tua percepção sem explicação
e então interfiro qualquer lógica,
capto tuas interferências,
rapto tuas transmissões
para nos instituir tuas visões,
me apreendo enquanto aprendo tuas lições
quase confissões, assassinas
de minhas convicções.
Eu me empurro para onde me puxas,
sussurro ao ralo nossa paixão,
justifico nossas necessidades
por meio de provas absurdas
que formam nossas precisões injustificáveis
e por meio de nossas procissões me perdoas os perdões imperdoáveis
domingo, 9 de dezembro de 2012
O beijo mais frio
As trombetas infernais soaram às três da madrugada,
estava em chamas a vermelha enseada
que corria ao meu redor
e me possuía num olhar só.
Os raios de sol inexistentes
iluminavam aquela nossa pistola no chão
e dançavam uma valsa tristemente
que me lembrava a morte de nosso duplo coração.
Parece-me que foi ainda ontem
quando esbarrei em teu corpo perfeito
e cruzei meu olhar com o teu
e me fiz perdido entre a multidão
e te queimei o coração
com o beijo inesperado,
o abraço destroçado,
o mundo apressado.
E te levei para os lugares meus
tão desconhecidos e esquecidos,
te mostrei os lugares em que vivi
e só eu conhecia,
só eu vivia.
Te fiz minha amante inseparável,
te quis teu semblante indeflagrável.
Então me perdi entre o quarto escuro,
me joguei em teus braços,
te guardei as mil juras de amor,
te envolvi tua pele em minha pele,
desencontrei o que restava de mim
em teu corpo,
me deixei cair sob os lençóis,
te deixei sentir teus tantos sóis
na cama enluarada,
na nossa cama embotada
de alegria e felicidade,
alegria e felicidade da paixão interminável,
do laço entre nossos corações, inseparável,
dos nossos sentimentos inigualáveis,
das nossas promessas inquebráveis.
E passeamos ao mar,
passamos ao céu,
encontramos nosso lar.
E guardamos, resguardamos.
Fomos nós os mesmos que permeamos
a correr tantos anos,
a viver sob nossos panos,
a saber nossa ciência imprópria,
a querer nosso desejo sem história,
a ser nossa impaciência envoltória,
a ler nossos poemas apaixonantes,
nossas vontades distantes
que jazem nessa caverna verdejante.
O portão enferrujado já não abre mais,
a porta já não suporta tanta paz,
então te peço que me ame,
que me apaixone,
que não desligue o telefone.
Te peço tantos outros pedidos
nunca respondidos,
te vivo nas cenas e nos textos jamais vividos.
Eu te sou nosso incomparável ser
que me pede para morrer.
Então tento, tanto tento, segurar a corda,
segurar o último fio que nos une,
suportar o peso descomunal e insuportável
que me asfixia,
aguentar o cordão que me envolve a garganta
e sufoca.
E eu tento, eu permaneço e continuo,
tentando e tentando.
Mas és tu mesma quem me acordas e cortas a última corda, me cortas em mil pedaços.
Nada precisou dizer, nada precisou fazer,
fiquei apenas a observar aquela traição,
a destruição que tanto planejaste
com aquele outro homem
(tão mais belo e forte),
aquele mesmo homem que me vingaste.
Eu te perdoei, eu gritei,
me gritei,
te gritei
para que voltasses
e me perdoasses meus pecados,
me perdoasses meu recados de amor,
me perdoasses minha paixão,
me perdoasses meu perdão.
Meus olhos me afogaram em lágrimas então,
meus lábios me murmuraram
aquelas tuas frases inesquecíveis
e me lembraram meus ferimentos irreversíveis.
Me permiti correr,
me perder entre as rochas sujas e impuras
na mata que fora nosso palco,
que fora floresta bela
e era agora pântano, enlameado e destroçado.
Eu te via com teu novo amor por todos cantos
e já me perdoara,
tentava não mais amar,
parar de me apaixonar
e aquilo crescia dentro de mim,
crescia sem nunca ter fim.
Fugi,
fugi para um lugar longe de mim,
longe de ti
e fui viver na estação do sol,
fui viver no último terminal,
fui morar nesse próspero lamaçal.
Tudo sem nada, sem graça, sem vida,
muito pouco.
Tudo até te reencontrar,
reencontrar-te naquele meu mesmo pantanal,
tu sofreras como sofri
com outra traição
sem perdão e sem razão,
traição daquele teu homem.
Voltaste para os braços meus,
mas sem amor,
afundada em toda tua dor,
ali estavas, inocente e descrente,
frágil e indefesa.
Colado em corpo teu
te beijei, te amassei a roupa rasgada, suada e desencontrada.
Te voltei meus olhos reluzentes de paixão,
novamente te ofereci meu coração,
tu aceitaste e o esmagaste num teu desgaste entre teus dedos,
disseste querer ter meu coração
no mesmo lugar em que estava o teu - no mesmo estado -,
disseste querer me ser
assim como foras tu
e me destruíste então,
me deixaste ruir
enquanto eu só podia ouvir
teus risos contidos,
misturados às tuas secas lágrimas
que nunca derramara por mim.
Seguraste, assim, minha mão e caminhaste, me levaste,
nos encaminhaste àquela haste, àquela ponte amaldiçoada
e aterrorizante, à ponte distante e vibrante.
E foi lá, sobre as ondas irônicas que se arrebentavam no píer,
o mar sem afeto,
o céu encoberto pelo nosso teto,
que me fizeste teu último pedido,
as palavras te saltaram a boca
feito vômito,
te estrangularam a língua
e perduraram no ar,
me deixaram com náusea
e quase caí ao mar,
mas tua mão me salvou
pela centésima nona vez,
nos abraçamos e choramos,
misturamos nossas lágrimas
entre infinitos tormentos.
Teus lábios se distanciaram novamente
e te beijei para impedir que falasse
aquelas mesmas palavras,
mas ainda com os lábios grudados aos teus
ainda pude ouvir o teu pedido,
o último verso de teu poema:
"Acabe logo com meu coração que já não vive, não resiste".
Lá estava a arma em tua mão,
a segurei, te abracei com toda força minha,
quase sufoquei
e no abraço, assim, disparei.
Te senti o sangue percorrer o peito, a vida esvaziar-te
e me manchar a blusa branca
com teu sangue que me banhou todo o corpo.
Teu olhar inerte olhava o céu
enquanto eu beijava teus lábios mortos e congelados,
teu coração petrificado ia em direção ao fundo sombrio do mar.
Pus a maldita arma em minha boca
e disparei,
tu me traíste novamente
- havia uma bala apenas,
aquela bala encravada em teu coração.
Vaguei, voltei pelo caminho errado
e me desencontrei uma vez outra mais
em meu estado sem vida,
sem quase existência,
com total consciência.
E ainda é madrugada em minha vida,
o sol não nasce,
a lua não brilha,
as estrelas não existem,
apenas há nuvens,
nuvens negras
que me obscurecem ainda mais
o obscuro que me tornei,
o artefato anti-religioso que ditei
e esfriei no inverno mais rigoroso e gelado.
O perdão não existe, o fim já acabou,
tudo já terminou
e continuo amaldiçoado,
cansado de existir,
cansado de ser,
cansado de viver,
cansado de mim,
cansado de estar cansado.
As palavras me são lembranças,
o tormento maior,
daquele amor em que existi e fui e vivi.
Não posso sem ti, não posso sentir.
Não posso ser, não posso poder.
Há muito deixei de ser, deixei de viver e existir,
há muito me abandonei em mim mesmo num canto escuro e imundo desta metrópole agitada.
Tu estás ainda mais viva agora,
em tua plena liberdade,
em tua infinita felicidade do esquecimento,
da vida terna eterna,
enquanto estou preso em mim,
em meu próprio pensamento.
O disparo foi meu,
o sangue era teu,
mas quem morreu fui eu
estava em chamas a vermelha enseada
que corria ao meu redor
e me possuía num olhar só.
Os raios de sol inexistentes
iluminavam aquela nossa pistola no chão
e dançavam uma valsa tristemente
que me lembrava a morte de nosso duplo coração.
Parece-me que foi ainda ontem
quando esbarrei em teu corpo perfeito
e cruzei meu olhar com o teu
e me fiz perdido entre a multidão
e te queimei o coração
com o beijo inesperado,
o abraço destroçado,
o mundo apressado.
E te levei para os lugares meus
tão desconhecidos e esquecidos,
te mostrei os lugares em que vivi
e só eu conhecia,
só eu vivia.
Te fiz minha amante inseparável,
te quis teu semblante indeflagrável.
Então me perdi entre o quarto escuro,
me joguei em teus braços,
te guardei as mil juras de amor,
te envolvi tua pele em minha pele,
desencontrei o que restava de mim
em teu corpo,
me deixei cair sob os lençóis,
te deixei sentir teus tantos sóis
na cama enluarada,
na nossa cama embotada
de alegria e felicidade,
alegria e felicidade da paixão interminável,
do laço entre nossos corações, inseparável,
dos nossos sentimentos inigualáveis,
das nossas promessas inquebráveis.
E passeamos ao mar,
passamos ao céu,
encontramos nosso lar.
E guardamos, resguardamos.
Fomos nós os mesmos que permeamos
a correr tantos anos,
a viver sob nossos panos,
a saber nossa ciência imprópria,
a querer nosso desejo sem história,
a ser nossa impaciência envoltória,
a ler nossos poemas apaixonantes,
nossas vontades distantes
que jazem nessa caverna verdejante.
O portão enferrujado já não abre mais,
a porta já não suporta tanta paz,
então te peço que me ame,
que me apaixone,
que não desligue o telefone.
Te peço tantos outros pedidos
nunca respondidos,
te vivo nas cenas e nos textos jamais vividos.
Eu te sou nosso incomparável ser
que me pede para morrer.
Então tento, tanto tento, segurar a corda,
segurar o último fio que nos une,
suportar o peso descomunal e insuportável
que me asfixia,
aguentar o cordão que me envolve a garganta
e sufoca.
E eu tento, eu permaneço e continuo,
tentando e tentando.
Mas és tu mesma quem me acordas e cortas a última corda, me cortas em mil pedaços.
Nada precisou dizer, nada precisou fazer,
fiquei apenas a observar aquela traição,
a destruição que tanto planejaste
com aquele outro homem
(tão mais belo e forte),
aquele mesmo homem que me vingaste.
Eu te perdoei, eu gritei,
me gritei,
te gritei
para que voltasses
e me perdoasses meus pecados,
me perdoasses meu recados de amor,
me perdoasses minha paixão,
me perdoasses meu perdão.
Meus olhos me afogaram em lágrimas então,
meus lábios me murmuraram
aquelas tuas frases inesquecíveis
e me lembraram meus ferimentos irreversíveis.
Me permiti correr,
me perder entre as rochas sujas e impuras
na mata que fora nosso palco,
que fora floresta bela
e era agora pântano, enlameado e destroçado.
Eu te via com teu novo amor por todos cantos
e já me perdoara,
tentava não mais amar,
parar de me apaixonar
e aquilo crescia dentro de mim,
crescia sem nunca ter fim.
Fugi,
fugi para um lugar longe de mim,
longe de ti
e fui viver na estação do sol,
fui viver no último terminal,
fui morar nesse próspero lamaçal.
Tudo sem nada, sem graça, sem vida,
muito pouco.
Tudo até te reencontrar,
reencontrar-te naquele meu mesmo pantanal,
tu sofreras como sofri
com outra traição
sem perdão e sem razão,
traição daquele teu homem.
Voltaste para os braços meus,
mas sem amor,
afundada em toda tua dor,
ali estavas, inocente e descrente,
frágil e indefesa.
Colado em corpo teu
te beijei, te amassei a roupa rasgada, suada e desencontrada.
Te voltei meus olhos reluzentes de paixão,
novamente te ofereci meu coração,
tu aceitaste e o esmagaste num teu desgaste entre teus dedos,
disseste querer ter meu coração
no mesmo lugar em que estava o teu - no mesmo estado -,
disseste querer me ser
assim como foras tu
e me destruíste então,
me deixaste ruir
enquanto eu só podia ouvir
teus risos contidos,
misturados às tuas secas lágrimas
que nunca derramara por mim.
Seguraste, assim, minha mão e caminhaste, me levaste,
nos encaminhaste àquela haste, àquela ponte amaldiçoada
e aterrorizante, à ponte distante e vibrante.
E foi lá, sobre as ondas irônicas que se arrebentavam no píer,
o mar sem afeto,
o céu encoberto pelo nosso teto,
que me fizeste teu último pedido,
as palavras te saltaram a boca
feito vômito,
te estrangularam a língua
e perduraram no ar,
me deixaram com náusea
e quase caí ao mar,
mas tua mão me salvou
pela centésima nona vez,
nos abraçamos e choramos,
misturamos nossas lágrimas
entre infinitos tormentos.
Teus lábios se distanciaram novamente
e te beijei para impedir que falasse
aquelas mesmas palavras,
mas ainda com os lábios grudados aos teus
ainda pude ouvir o teu pedido,
o último verso de teu poema:
"Acabe logo com meu coração que já não vive, não resiste".
Lá estava a arma em tua mão,
a segurei, te abracei com toda força minha,
quase sufoquei
e no abraço, assim, disparei.
Te senti o sangue percorrer o peito, a vida esvaziar-te
e me manchar a blusa branca
com teu sangue que me banhou todo o corpo.
Teu olhar inerte olhava o céu
enquanto eu beijava teus lábios mortos e congelados,
teu coração petrificado ia em direção ao fundo sombrio do mar.
Pus a maldita arma em minha boca
e disparei,
tu me traíste novamente
- havia uma bala apenas,
aquela bala encravada em teu coração.
Vaguei, voltei pelo caminho errado
e me desencontrei uma vez outra mais
em meu estado sem vida,
sem quase existência,
com total consciência.
E ainda é madrugada em minha vida,
o sol não nasce,
a lua não brilha,
as estrelas não existem,
apenas há nuvens,
nuvens negras
que me obscurecem ainda mais
o obscuro que me tornei,
o artefato anti-religioso que ditei
e esfriei no inverno mais rigoroso e gelado.
O perdão não existe, o fim já acabou,
tudo já terminou
e continuo amaldiçoado,
cansado de existir,
cansado de ser,
cansado de viver,
cansado de mim,
cansado de estar cansado.
As palavras me são lembranças,
o tormento maior,
daquele amor em que existi e fui e vivi.
Não posso sem ti, não posso sentir.
Não posso ser, não posso poder.
Há muito deixei de ser, deixei de viver e existir,
há muito me abandonei em mim mesmo num canto escuro e imundo desta metrópole agitada.
Tu estás ainda mais viva agora,
em tua plena liberdade,
em tua infinita felicidade do esquecimento,
da vida terna eterna,
enquanto estou preso em mim,
em meu próprio pensamento.
O disparo foi meu,
o sangue era teu,
mas quem morreu fui eu
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Pensamento natimorto
Por prédios e prédios
me perco entre becos de passo em passo
passo minha vida a esse céu,
me jogo neste poema ao léu,
me rogo a um outro eu.
Resido no eu presídio, aprisionado em meus resíduos.
Meu peso me empurra a esses pesadelos
de todo não meus, de todos me resta a vontade de perdê-los.
Me penso e penso para sonhos disfarçados e despedaçados,
sonhos sem sonhos.
Eu então busco um outro coração,
talvez, menos útil num último suspiro, num último giro,
em outra vez que esqueci na mesma tal vez de ser meu próprio ex.
Num cladograma confundo-me entre aborto e amorto,
diluo-me na solução sem divisão de real e surreal:
a invenção do natural de morrer em contrapartida a viver e nascer
me perco entre becos de passo em passo
passo minha vida a esse céu,
me jogo neste poema ao léu,
me rogo a um outro eu.
Resido no eu presídio, aprisionado em meus resíduos.
Meu peso me empurra a esses pesadelos
de todo não meus, de todos me resta a vontade de perdê-los.
Me penso e penso para sonhos disfarçados e despedaçados,
sonhos sem sonhos.
Eu então busco um outro coração,
talvez, menos útil num último suspiro, num último giro,
em outra vez que esqueci na mesma tal vez de ser meu próprio ex.
Num cladograma confundo-me entre aborto e amorto,
diluo-me na solução sem divisão de real e surreal:
a invenção do natural de morrer em contrapartida a viver e nascer
sábado, 24 de novembro de 2012
sábado, 17 de novembro de 2012
Telefonema
Em teus fonemas me perdi e pedi outras distrações,
outras ações menos importantes que nos deixem mais distantes.
E aquele último telefonema que te foi apenas mais uma cena em teu cinema
me foi quase o fim que me deixou sem mim
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Calo de sentimentos
Continuo a me buscar
e consigo apenas me perder,
me esquecer na inutilidade de tentar te amar,
tentar te convencer.
Eu bem queria te falar de tudo que há em mim,
tudo que encontrei no fim,
tudo que ainda sinto e dói,
mas me calo na dor desse calo de sangue,
permaneço, enlouqueço,
tento me encaixar num lugar em que não caibo - meu corpo -,
tento me encontrar num lugar em que não respiro - a vida -,
tento me aproximar dum lugar que não conheço - o amor
Clareza sem certeza
Apenas sofro em mim mesmo no silêncio árduo que criei,
o silêncio que me arde as têmporas e é imperceptível para ti.
Me escondo nas verdades que já tanto me machucaram
como se fosse um refúgio do que fujo.
Não te falo de minhas dores para não te magoar,
não te falo dos sofrimentos para não te atrapalhar os pensamentos.
Finjo então, finjo e fujo. Finjo estar em outro estado,
finjo ser um outro.
Mas continuo eu mesmo em mim, tão verdadeiro e certeiro,
continuo a gritar o grito impossível de escutar,
continuo a chorar meu choro sem lágrimas, encharcado em mágoas.
Eu continuo a continuar, a caminhar na estrada descontínua em que sempre me perco
o silêncio que me arde as têmporas e é imperceptível para ti.
Me escondo nas verdades que já tanto me machucaram
como se fosse um refúgio do que fujo.
Não te falo de minhas dores para não te magoar,
não te falo dos sofrimentos para não te atrapalhar os pensamentos.
Finjo então, finjo e fujo. Finjo estar em outro estado,
finjo ser um outro.
Mas continuo eu mesmo em mim, tão verdadeiro e certeiro,
continuo a gritar o grito impossível de escutar,
continuo a chorar meu choro sem lágrimas, encharcado em mágoas.
Eu continuo a continuar, a caminhar na estrada descontínua em que sempre me perco
sábado, 10 de novembro de 2012
Dia noturno
Na noite de trevas que me envolve,
noite a que me entrego,
a noite obscura que me anoitece e tece a madrugada
partida e encolhida, a madrugada sem vida em que vivo,
me crio num rio de tempo atemporal, floral sem qualquer radical,
sem nada de maternal ou paternal,
o rio quase lamaçal nesse lamaçal de nosso pantanal.
E então que surge o sentimento virginal e matinal
sob o sol, sob luz que me induz
a um outro calor sem amor, calor que me arde na infinita tarde,
sem nexo, do plexo que me sustenta as veias de viver em teus nervos de ser.
E continuo na caminhada à noite, no ciclo, no vício, no dia,
a poesia, quase alegria, sem motivo, sem tempo,
determinada com tormentos
noite a que me entrego,
a noite obscura que me anoitece e tece a madrugada
partida e encolhida, a madrugada sem vida em que vivo,
me crio num rio de tempo atemporal, floral sem qualquer radical,
sem nada de maternal ou paternal,
o rio quase lamaçal nesse lamaçal de nosso pantanal.
E então que surge o sentimento virginal e matinal
sob o sol, sob luz que me induz
a um outro calor sem amor, calor que me arde na infinita tarde,
sem nexo, do plexo que me sustenta as veias de viver em teus nervos de ser.
E continuo na caminhada à noite, no ciclo, no vício, no dia,
a poesia, quase alegria, sem motivo, sem tempo,
determinada com tormentos
domingo, 4 de novembro de 2012
Assustado, mudado
Mais um resultado resultado dos cálculos renais que me destroem em outros canais,
um outro assunto natimorto abordado, um novo aborto absorto e torto.
Com tudo sou sem nada, absolutamente. Absoluto resoluto num luto de tudo,
mudo, muto o abrigo em que me obrigo um amigo, ligo, brigo, luto.
Brinco com teus brincos de mundo, de tudo, te lembro um futuro dezembro,
te faço nossos membros, te faço nossos ossos, te visto num visto
revisto teu vestido, íntimo te dito, o que é tido por ti,
o que é dito por mim, o que é fim de carmim, o que é não e sim,
o que é nós enfim
um outro assunto natimorto abordado, um novo aborto absorto e torto.
Com tudo sou sem nada, absolutamente. Absoluto resoluto num luto de tudo,
mudo, muto o abrigo em que me obrigo um amigo, ligo, brigo, luto.
Brinco com teus brincos de mundo, de tudo, te lembro um futuro dezembro,
te faço nossos membros, te faço nossos ossos, te visto num visto
revisto teu vestido, íntimo te dito, o que é tido por ti,
o que é dito por mim, o que é fim de carmim, o que é não e sim,
o que é nós enfim
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Como falto ao asfalto
Tua alma é feita com mesmo material que compõe a paixão inatingível,
paixão que arrebata, mata.
Tua música é o que me aprisiona em teus cabelos
e me faz crer em teu novo jeito de se dar,
teu próprio jeito de observar
cada coisa que nos compõe,
que faz ser de tudo uma outra coisa - sinônimo de amor.
Eu tento reaver teu evento num único momento
que como todo pensamento me é um tormento
e o desinvento, me levo ao vento.
Em tuas veias corre esse asfalto
que me alimenta,
asfalto feito de terra dura, suja, amada.
Tua pele é de plástico
- que polui e desanima -,
plástico que desentendo, revendo.
Tu és fabricada pelo mesmo que fabricou a lua,
o brilho de ser e viver,
a luz de se perder, a luz do querer.
Teu corpo:
fabricado
como fabricaram a poesia,
montado como montaram cada palavra,
produzido como produziram o amor
paixão que arrebata, mata.
Tua música é o que me aprisiona em teus cabelos
e me faz crer em teu novo jeito de se dar,
teu próprio jeito de observar
cada coisa que nos compõe,
que faz ser de tudo uma outra coisa - sinônimo de amor.
Eu tento reaver teu evento num único momento
que como todo pensamento me é um tormento
e o desinvento, me levo ao vento.
Em tuas veias corre esse asfalto
que me alimenta,
asfalto feito de terra dura, suja, amada.
Tua pele é de plástico
- que polui e desanima -,
plástico que desentendo, revendo.
Tu és fabricada pelo mesmo que fabricou a lua,
o brilho de ser e viver,
a luz de se perder, a luz do querer.
Teu corpo:
fabricado
como fabricaram a poesia,
montado como montaram cada palavra,
produzido como produziram o amor
Desinteressantes paixões
Teu olhar me impregna e me faz ver meu novo ser
em tua nova razão de viver, de conhecer outra inconsequente paixão
que te renova a vontade, te refaz a verdade e te imita a realidade.
Teu olhar é a parte indescritível que em ti é o que tanto tens,
teu olhar é o que tanto necessito olhar,
teu olhar é quase a razão de amar,
quase a consequência de cantar.
Teu olhar é a parte indescritível que em ti é o que tanto tens,
teu olhar é o que tanto necessito olhar,
teu olhar é quase a razão de amar,
quase a consequência de cantar.
Teus olhos são as estrelas que iluminam o céu na noite mais obscura,
teus olhos têm a mesma luz que admiro no brilho da lua,
têm o mesmo amor que te reflete em mil reflexões,
em mil outras paixões
Sem precisar falar
De não saber o que é verdade,
estar poluído com a mais suja vaidade,
de se perder no que há de mais desnecessário.
É tudo isso que me faz perguntar se há outro inventário,
um lugar em que eu caiba em mim.
Eu busco, então, não saber de nada, enfim,
tento não saber de mim.
É em ti que me busco
numa outra parte desconhecida da poesia do amor,
tento sentir na mais complicada paixão o mais puro ardor,
para me perder em teu complexo calor,
me perder no teu querer ser,
no teu viver,
para nunca te perder
estar poluído com a mais suja vaidade,
de se perder no que há de mais desnecessário.
É tudo isso que me faz perguntar se há outro inventário,
um lugar em que eu caiba em mim.
Eu busco, então, não saber de nada, enfim,
tento não saber de mim.
É em ti que me busco
numa outra parte desconhecida da poesia do amor,
tento sentir na mais complicada paixão o mais puro ardor,
para me perder em teu complexo calor,
me perder no teu querer ser,
no teu viver,
para nunca te perder
domingo, 28 de outubro de 2012
Não amar
É o desespero sem medo,
é a emoção sem sensações,
é viver sem sentimento.
Tudo é tão menos
quando é sem você.
Mal posso viver,
mal posso querer,
posso apenas escrever
é a emoção sem sensações,
é viver sem sentimento.
Tudo é tão menos
quando é sem você.
Mal posso viver,
mal posso querer,
posso apenas escrever
sábado, 27 de outubro de 2012
Quase existes
Nosso amor que mal existe é triste e inexiste na própria vontade de ser,
vontade quase igual à de morrer.
Esse amor a quem escrevo, um alcoviteiro, destruído quase por inteiro,
amor que entrego a quem não conheço
e escrevo a ti - tu que não me tens, nem te tens, por não ser, não viver.
Eu tento te abraçar, te enxergar na claridade desta escuridão infinita,
eu tento de tudo para te sentir, mas apenas consigo cair na tentativa de amar,
tentativa de me aproximar, respirar o teu mesmo ar.
Mas não és, não podes,
te vejo apenas no reflexo distorcido de outras imagens confusas,
imagens que desconheço e tento imitar
nas linhas que escrevo, no quase amar
vontade quase igual à de morrer.
Esse amor a quem escrevo, um alcoviteiro, destruído quase por inteiro,
amor que entrego a quem não conheço
e escrevo a ti - tu que não me tens, nem te tens, por não ser, não viver.
Eu tento te abraçar, te enxergar na claridade desta escuridão infinita,
eu tento de tudo para te sentir, mas apenas consigo cair na tentativa de amar,
tentativa de me aproximar, respirar o teu mesmo ar.
Mas não és, não podes,
te vejo apenas no reflexo distorcido de outras imagens confusas,
imagens que desconheço e tento imitar
nas linhas que escrevo, no quase amar
domingo, 21 de outubro de 2012
A louca dança das palavras
GRITARGRITARGRITARGRITARÁ!
AMARAMARÁ!
FAZERFAZEREVERECEBERECADOMISSOBRASIL!
seretomadoratordoadorar.
Traficarficarmaralarebaterça-feira,quarta-feiralontem.
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEpEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSoSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
CCCCCCCCCCCCCCCCCCeCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
RRRRRRRRRRRRRRRRRRtRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEiEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVzVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEaEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
RRRRRRRRRRRRRRRRRRrRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR.
braziLindoINDOVINDORGULHO.
ROMAROMAMOR
AMARAMARÁ!
FAZERFAZEREVERECEBERECADOMISSOBRASIL!
seretomadoratordoadorar.
Traficarficarmaralarebaterça-feira,quarta-feiralontem.
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEpEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSoSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
CCCCCCCCCCCCCCCCCCeCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
RRRRRRRRRRRRRRRRRRtRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEiEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVzVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEaEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
RRRRRRRRRRRRRRRRRRrRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR.
braziLindoINDOVINDORGULHO.
ROMAROMAMOR
Paixão-servidão
Tu és meu muso eterno,
minha única consolação desta vida, deste coração.
Tu és minha poesia infinita, a materialização das rimas mal articuladas,
a justaposição dos versos desafinados a que me entrego e renego,
és o novo antigo que me admira e me faz tentar ser tanto quanto nunca poderei ser,
me faz conquistar uma fortuna imaginária de substantivos nossos,
substantivos que regam os adjetivos-raízes de nossa paixão.
Teu corpo forte e denso é a poesia imagética que me atrai para essa beleza magnética,
me leva àquele outro lugar em que me refugio na sensação de te ter,
de poder te querer, poder te amar livremente e inconsequentemente.
Teus músculos esculpidos pela arte mais celestial me chamam
para te amar com toda força possível - leal e vital.
Te peço que me abrace e me beije desesperadamente,
te peço que me consuma na mais verdadeira paixão carnal,
em nosso único particular e plural carnaval.
Te consumo também em minha imaginação, fisicamente,
como se fosses o único produto que encontro e que vejo,
me entrego subitamente a esse amor,
te sirvo como uma súdita, uma escrava da vida, serva do amor necessário
- o amor mortal no qual espero me sufocar e morrer,
o amor que espero em um outro eu nascer
sábado, 20 de outubro de 2012
Obrigação de cada coração, cada costureiro que se costura quase por inteiro, que se faz num canteiro chamado poesia
Nas amarras vitais
me refugio entre costuras cotidianas,
me construo em tecidos raros.
Me costuro nas nossas intimidades,
me faço nesses laços gigantescos
que interligam os desejos contraditórios
e migram para a força de viver,
a força de fazer acontecer pelo escrever,
força de continuar pelo costurar,
força de cantar pelo precisar
me refugio entre costuras cotidianas,
me construo em tecidos raros.
Me costuro nas nossas intimidades,
me faço nesses laços gigantescos
que interligam os desejos contraditórios
e migram para a força de viver,
a força de fazer acontecer pelo escrever,
força de continuar pelo costurar,
força de cantar pelo precisar
Melosamente te necessito, quase evito
Não te entender é o que me faz te querer,
o não te ter é o que me faz te amar,
cantar cada palavra como se fosse nova.
O não poder te abraçar é o que me faz lembrar que há esse amor
impossível de entender,
impossível de escrever.
O não poder te beijar é o que me faz pensar que és tudo que tanto preciso
e sempre busquei
sem saber ao certo o que buscava.
O não te ver me faz te escrever,
não te tocar me faz te cantar,
não te observar me faz te desejar
o não te ter é o que me faz te amar,
cantar cada palavra como se fosse nova.
O não poder te abraçar é o que me faz lembrar que há esse amor
impossível de entender,
impossível de escrever.
O não poder te beijar é o que me faz pensar que és tudo que tanto preciso
e sempre busquei
sem saber ao certo o que buscava.
O não te ver me faz te escrever,
não te tocar me faz te cantar,
não te observar me faz te desejar
Nada além de nada
Hoje me deu uma vontade imensa de escrever
desesperadamente e impossivelmente,
escrever continuamente em linhas tortas,
em ideias mortas,
escrever em versos imaginários,
escrever em adjetivos vários,
escrever em lucrativos pedaços
os laços que me ligam a algo
que nunca entendo, nunca emendo e nem mesmo escrevendo sei o que é,
o que nunca sei se é ou não é.
Eu preciso continuar, sem parar, cantar sem falar,
amar sem necessitar, lembrar com o esquecer,
eu preciso escrever.
E as palavras me pesam, me torturam,
as palavras me perseguem,
infernizam meu inferno eterno,
criam problemas inexistentes e persistentes
numa lógica paraconsistente, uma lógica moderna.
O poema me sangra,
o poema chora e me afogo nas lágrimas densas, concentradas da poesia
que de nada tem a alegria obrigatória e nego, me desapego do que já sei como o que nunca saberei.
Absolutamente sou nada na madrugada perpétua de escrever,
absolutamente nada sou na madrugada imortal de viver,
perpetuamente sofro na solidão de ser,
obrigatoriamente me alegro na esperança de morrer.
Tudo me serve apenas no resumido documento ilegal:
a não-ciência, a displicência duma consciência sem experiência.
Se escrevo ou se vivo não é por querer,
não é por amar,
é por precisar, por ser dever.
Feliz não sou,
pareço apenas
- justamente por não o ser,
justamente por não poder.
Enlouqueço-me nos períodos que não se anexam,
nos sentidos que não se completam
e se detestam.
Me ponho em meus ossos como se não houvesse músculos
que se retesam,
como se houvesse sangue apenas,
sangue que é o sentimento de não saber o que é ser
e querer viver como se não existisse o morrer,
como se só existisse o escrever,
tento não ser o que tanto preciso ser,
viver como sempre quis viver,
mas a conjugação verbal me retorna ao estado infernal que tanto me ponho,
ao que tento tanto escapar e inutilmente fugir para o meu próprio lugar,
ao que tanto quero te falar e precisamente cair em tua cama de amar,
esse vão que não te entendes
e te adora em teus momentos tão nossos,
tua qualidade inigualável,
tua necessidade incomparável de querer uma outra pessoa,
uma outra coisa que destoa
nessa confusão a que se segue o nosso eu,
pois sou o que és em mim,
és o que sou em ti.
Da obviedade te mostro toda complexidade virginal e marginal
do que é intocável a nossas pequenas mãos,
intolerável ao nosso coração embalado pela canção
inundada pelas oxítonas sensitivas,
as paroxítonas amorosas
que nos permeiam nessas proparoxítonas comestíveis
(as irregularidades irresistíveis e invisíveis dos verbos
gravados na madeira do lugar que nos encontramos tão desencontrados).
Não é voluntária minha decisão de me entregar e confessar
a necessidade de viver na consequência constante de escrever
desesperadamente e impossivelmente,
escrever continuamente em linhas tortas,
em ideias mortas,
escrever em versos imaginários,
escrever em adjetivos vários,
escrever em lucrativos pedaços
os laços que me ligam a algo
que nunca entendo, nunca emendo e nem mesmo escrevendo sei o que é,
o que nunca sei se é ou não é.
Eu preciso continuar, sem parar, cantar sem falar,
amar sem necessitar, lembrar com o esquecer,
eu preciso escrever.
E as palavras me pesam, me torturam,
as palavras me perseguem,
infernizam meu inferno eterno,
criam problemas inexistentes e persistentes
numa lógica paraconsistente, uma lógica moderna.
O poema me sangra,
o poema chora e me afogo nas lágrimas densas, concentradas da poesia
que de nada tem a alegria obrigatória e nego, me desapego do que já sei como o que nunca saberei.
Absolutamente sou nada na madrugada perpétua de escrever,
absolutamente nada sou na madrugada imortal de viver,
perpetuamente sofro na solidão de ser,
obrigatoriamente me alegro na esperança de morrer.
Tudo me serve apenas no resumido documento ilegal:
a não-ciência, a displicência duma consciência sem experiência.
Se escrevo ou se vivo não é por querer,
não é por amar,
é por precisar, por ser dever.
Feliz não sou,
pareço apenas
- justamente por não o ser,
justamente por não poder.
Enlouqueço-me nos períodos que não se anexam,
nos sentidos que não se completam
e se detestam.
Me ponho em meus ossos como se não houvesse músculos
que se retesam,
como se houvesse sangue apenas,
sangue que é o sentimento de não saber o que é ser
e querer viver como se não existisse o morrer,
como se só existisse o escrever,
tento não ser o que tanto preciso ser,
viver como sempre quis viver,
mas a conjugação verbal me retorna ao estado infernal que tanto me ponho,
ao que tento tanto escapar e inutilmente fugir para o meu próprio lugar,
ao que tanto quero te falar e precisamente cair em tua cama de amar,
esse vão que não te entendes
e te adora em teus momentos tão nossos,
tua qualidade inigualável,
tua necessidade incomparável de querer uma outra pessoa,
uma outra coisa que destoa
nessa confusão a que se segue o nosso eu,
pois sou o que és em mim,
és o que sou em ti.
Da obviedade te mostro toda complexidade virginal e marginal
do que é intocável a nossas pequenas mãos,
intolerável ao nosso coração embalado pela canção
inundada pelas oxítonas sensitivas,
as paroxítonas amorosas
que nos permeiam nessas proparoxítonas comestíveis
(as irregularidades irresistíveis e invisíveis dos verbos
gravados na madeira do lugar que nos encontramos tão desencontrados).
Não é voluntária minha decisão de me entregar e confessar
a necessidade de viver na consequência constante de escrever
O burguês andarilho
Apesar de seguir na mesma direção confusa dos trilhos,
me sinto num ciclo oval, num infinto lamaçal.
E eu sigo as setas invisíveis que clareiam o céu,
sorrio para a lua que me sorri em sua clareza,
crio para mim um eu que sempre me deu
um outro mundo para viver,
um outro mundo para morar,
um outro tudo para cantar,
um outro nada para amar.
E eu penso para um lado,
penso o outro lado,
repenso a vida destemida a que me entreguei,
a que me criei, em que te inventei para que fosses um outro
não igual a qualquer um,
diferentemente do que todos outros já foram
diferentes.
Eu me pus em ti, nesse pus poético,
inchado de letras,
embebecido nas pontuações sem emoções
musicais, emoções banais
que nada parecem com essas distrações ciumentas
ou com a tal felicidade minha que tanto atormentas
me sinto num ciclo oval, num infinto lamaçal.
E eu sigo as setas invisíveis que clareiam o céu,
sorrio para a lua que me sorri em sua clareza,
crio para mim um eu que sempre me deu
um outro mundo para viver,
um outro mundo para morar,
um outro tudo para cantar,
um outro nada para amar.
E eu penso para um lado,
penso o outro lado,
repenso a vida destemida a que me entreguei,
a que me criei, em que te inventei para que fosses um outro
não igual a qualquer um,
diferentemente do que todos outros já foram
diferentes.
Eu me pus em ti, nesse pus poético,
inchado de letras,
embebecido nas pontuações sem emoções
musicais, emoções banais
que nada parecem com essas distrações ciumentas
ou com a tal felicidade minha que tanto atormentas
Meu eu desamado
O amor me desfez numa vez desencantada,
o amor me desfez duma tez desenfreada,
meu amor odiado,
meu amor desolado.
Meu grande amor sou eu,
meu grande amor nunca me amou,
meu grande amor nunca me teve,
eu nunca tive um amor,
só me foi dor e dor e dor,
com o calor das palavras desalmadas,
com o clamor dos destroços de todos lados,
com os sujos substantivos enlameados.
Meu amor nunca foi de verdade amor,
sempre foi uma vaidade cheia de dor
- vaidade dolorosa
(dor vaidosa).
Eu não me chamo mais pelo nome,
não me quero mais como sou,
não me ouço mais em minhas palavras,
não me tenho mais em mim.
Eu não posso mais nada de mim
o amor me desfez duma tez desenfreada,
meu amor odiado,
meu amor desolado.
Meu grande amor sou eu,
meu grande amor nunca me amou,
meu grande amor nunca me teve,
eu nunca tive um amor,
só me foi dor e dor e dor,
com o calor das palavras desalmadas,
com o clamor dos destroços de todos lados,
com os sujos substantivos enlameados.
Meu amor nunca foi de verdade amor,
sempre foi uma vaidade cheia de dor
- vaidade dolorosa
(dor vaidosa).
Eu não me chamo mais pelo nome,
não me quero mais como sou,
não me ouço mais em minhas palavras,
não me tenho mais em mim.
Eu não posso mais nada de mim
Não queria
Eu não queria te amar tanto,
não queria te cantar meu pranto,
não queria me guardar teu canto.
Eu não queria este amor
nem toda a dor que nele jaz
- da paz que nos faz o cais entre ódio e paixão -,
sofrimento de todos nossos tormentos,
figura constante em nossos pensamentos.
Loucura incessante nos ossos lentos
do viver, do não ter e não querer,
não saber nem ser
não queria te cantar meu pranto,
não queria me guardar teu canto.
Eu não queria este amor
nem toda a dor que nele jaz
- da paz que nos faz o cais entre ódio e paixão -,
sofrimento de todos nossos tormentos,
figura constante em nossos pensamentos.
Loucura incessante nos ossos lentos
do viver, do não ter e não querer,
não saber nem ser
Queria
Eu queria ter mais dessa poesia, viver nessa alegria,
mas nada sou sem tua companhia,
eu queria mais do tudo que posso ter.
Não queria este fim apocalíptico,
inverso de nosso amor - quase fictício,
quase vício.
Eu quero todo teu lero-lero,
quero uma tarde com esse sol amarelo,
quero o que quero e espero te ter em mim,
em nosso fim próximo ao infinito indistinto
mas nada sou sem tua companhia,
eu queria mais do tudo que posso ter.
Não queria este fim apocalíptico,
inverso de nosso amor - quase fictício,
quase vício.
Eu quero todo teu lero-lero,
quero uma tarde com esse sol amarelo,
quero o que quero e espero te ter em mim,
em nosso fim próximo ao infinito indistinto
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
À margem da passagem
Eu tenho medo de tudo,
tudo é cedo,
tudo é tarde
e arde na contradição de não existir esta canção.
Eu não sei responder nem crer em outra alternativa
que não a de ser e sofrer em uma alma viva,
cheia de ideias nocivas e decisivas
- mães de atos sem segurança,
tentativas sem esperanças
tudo é cedo,
tudo é tarde
e arde na contradição de não existir esta canção.
Eu não sei responder nem crer em outra alternativa
que não a de ser e sofrer em uma alma viva,
cheia de ideias nocivas e decisivas
- mães de atos sem segurança,
tentativas sem esperanças
domingo, 14 de outubro de 2012
A alemã que nunca tive à manhã
Tu és o ocidental,
eu sou o oriental
- outra metade perdida
desta terra dividida -,
entre nós há o muro
a nos subjugar
em sua grandeza
na frieza de nossa guerra
sem fim,
nossa Berlim.
E enquanto te armas,
amas o outro diferente que és,
amo o mesmo indiferente que sou,
condenado e submisso
às tuas armas
eu sou o oriental
- outra metade perdida
desta terra dividida -,
entre nós há o muro
a nos subjugar
em sua grandeza
na frieza de nossa guerra
sem fim,
nossa Berlim.
E enquanto te armas,
amas o outro diferente que és,
amo o mesmo indiferente que sou,
condenado e submisso
às tuas armas
A dormência de nossa inocência guerreira em inteira guerra
Em cada cadeira a maneira humana
beira a traição ariana
a que serves
e não te serve como princípio,
mas te mata na neve sob a desculpa de teu pecado-vício.
O mesmo conselho te rasga o recado refletido em teus olhos-espelhos
marcados pelos desejos ilícitos alheios,
onde vês o que vejo e reclamas às moscas - moscas que lavam com lamas do sentimento o qual tanto amas. Do povo os ouvidos ouvem os mesmos pedidos repetidos,
direitos quase deveres escondidos ao lado esquerdo de onde guardam os seres
(e não vivem,
não dizem,
não gritam,
irritam,
limitam,
imitam),
os seres que lês nas canções
sem padrões ou distinções
- pedaços dum mesmo todo torto e morto
no lodo poético em que balanças, frenético,
sem mesmo saber ou poder parar para não atrasar
o outro compromisso repulsivo e impossível
de se cumprir no comprimento
curto do tempo-tormento:
o riacho do qual acho as ondas
as quais rondas em tua cabeça
e pedes que cresça nas defesas
em cada nascente torrente no alto da montanha
chamada medo,
em que, sempre cedo,
te vês a morte, o existir,
o ser repugnante que deseja cair - e na queda dormente viver
beira a traição ariana
a que serves
e não te serve como princípio,
mas te mata na neve sob a desculpa de teu pecado-vício.
O mesmo conselho te rasga o recado refletido em teus olhos-espelhos
marcados pelos desejos ilícitos alheios,
onde vês o que vejo e reclamas às moscas - moscas que lavam com lamas do sentimento o qual tanto amas. Do povo os ouvidos ouvem os mesmos pedidos repetidos,
direitos quase deveres escondidos ao lado esquerdo de onde guardam os seres
(e não vivem,
não dizem,
não gritam,
irritam,
limitam,
imitam),
os seres que lês nas canções
sem padrões ou distinções
- pedaços dum mesmo todo torto e morto
no lodo poético em que balanças, frenético,
sem mesmo saber ou poder parar para não atrasar
o outro compromisso repulsivo e impossível
de se cumprir no comprimento
curto do tempo-tormento:
o riacho do qual acho as ondas
as quais rondas em tua cabeça
e pedes que cresça nas defesas
em cada nascente torrente no alto da montanha
chamada medo,
em que, sempre cedo,
te vês a morte, o existir,
o ser repugnante que deseja cair - e na queda dormente viver
Tradução sem convicção
Traduzir teu ser é a principal razão do meu viver,
a principal diversão que eu posso ter.
Mas não consigo ver, vir ao teu corpo,
convir com teus atos,
dizer-te que minto,
condizer com o que sinto.
Me embriago com tuas palavras, me perco dentro desta cúpula de verniz,
enquanto mordo-te o nariz
engulo teu dom de atriz
e domina-me com cada letra que diz
- com o que sempre desejaste
(com o renovador desastre,
a sensação com que ficaste
e sem mim mesmo me deixaste).
Na minha ânsia de amar estrangulei a necessidade de te falar
e me estraguei em tua vaidade de cantar,
me renovei em nossas lágrimas de mar.
Nos óleos corporais, afoguei os olhos mortais
nas eternas orações vitais - as estruturas do amor demais.
E construímos nossa moral sob o infinito coral,
guardião do mal, açucarado de sal,
desmascarado e imortal - base leal de nossa paixão letal
a principal diversão que eu posso ter.
Mas não consigo ver, vir ao teu corpo,
convir com teus atos,
dizer-te que minto,
condizer com o que sinto.
Me embriago com tuas palavras, me perco dentro desta cúpula de verniz,
enquanto mordo-te o nariz
engulo teu dom de atriz
e domina-me com cada letra que diz
- com o que sempre desejaste
(com o renovador desastre,
a sensação com que ficaste
e sem mim mesmo me deixaste).
Na minha ânsia de amar estrangulei a necessidade de te falar
e me estraguei em tua vaidade de cantar,
me renovei em nossas lágrimas de mar.
Nos óleos corporais, afoguei os olhos mortais
nas eternas orações vitais - as estruturas do amor demais.
E construímos nossa moral sob o infinito coral,
guardião do mal, açucarado de sal,
desmascarado e imortal - base leal de nossa paixão letal
Idoneidade cidadã, vaidade da manhã
O roubo na catedral,
o assalto da paróquia,
a estrada sob o lamaçal,
o meu ultrapassado Nokia.
Mundo de capital, de animal.
O dinheiro sem precisão,
o jornaleiro sem diversão.
O grito das crianças,
o pedido por solidariedade,
a crença em uma nova verdade,
o desejo de novas esperanças.
A música que alarma e desperta,
aperta a alma, acalma tua mão
enfurnada na luva preta perto de meu peito,
tudo me faz lembrar o sempre que nunca aconteceu,
o tudo que sempre guardei em meu nada,
o amor falso que rola sob as rodas dos carros,
que atropela cada transeunte
e funde a massa da cidade,
coberta pelo tempero que nasce da vaidade.
Meus pensamentos ultrapassam o sinal,
colidem com as verdades,
destroem os melhores ideais
em desejos surreais
que não valem dois reais,
em pecados desnecessários
enxaguados por sentimentos vários
o assalto da paróquia,
a estrada sob o lamaçal,
o meu ultrapassado Nokia.
Mundo de capital, de animal.
O dinheiro sem precisão,
o jornaleiro sem diversão.
O grito das crianças,
o pedido por solidariedade,
a crença em uma nova verdade,
o desejo de novas esperanças.
A música que alarma e desperta,
aperta a alma, acalma tua mão
enfurnada na luva preta perto de meu peito,
tudo me faz lembrar o sempre que nunca aconteceu,
o tudo que sempre guardei em meu nada,
o amor falso que rola sob as rodas dos carros,
que atropela cada transeunte
e funde a massa da cidade,
coberta pelo tempero que nasce da vaidade.
Meus pensamentos ultrapassam o sinal,
colidem com as verdades,
destroem os melhores ideais
em desejos surreais
que não valem dois reais,
em pecados desnecessários
enxaguados por sentimentos vários
sábado, 13 de outubro de 2012
Amor ulterior
Tão solitário tornaste esse pedaço
num mortuário em teu encalço,
dentro de teu pensamento falso
eu pendo e repenso, me faço.
Em teu voo rasante
eu nado em teu peito amante,
encaixo-me no espaço em que não cabes,
me suporto no cabo da na mente em que não caibo.
É para mim que fechas as portas dos portos,
pões os pontos nos pólos desolados, isolados.
É em mim que pontuas tuas palavras paliativas,
pele ativa, olhos desativos.
E em química física
me formo na forma do corpo,
encorporo teus movimentos em modernos sentimentos,
em velhos pensamentos
que ainda não morreram por ter alimentos
nascidos dos desvios
do que era amor e confundiu-se com o que deverias ser paixão,
o que deveras devora meu coração
num mortuário em teu encalço,
dentro de teu pensamento falso
eu pendo e repenso, me faço.
Em teu voo rasante
eu nado em teu peito amante,
encaixo-me no espaço em que não cabes,
me suporto no cabo da na mente em que não caibo.
É para mim que fechas as portas dos portos,
pões os pontos nos pólos desolados, isolados.
É em mim que pontuas tuas palavras paliativas,
pele ativa, olhos desativos.
E em química física
me formo na forma do corpo,
encorporo teus movimentos em modernos sentimentos,
em velhos pensamentos
que ainda não morreram por ter alimentos
nascidos dos desvios
do que era amor e confundiu-se com o que deverias ser paixão,
o que deveras devora meu coração
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Cegamente
Atrás de cada porta de cada casa há um caso,
sobre cada coisa torta há uma outra vitrina
a refletir a menina que foste, a menina que nunca soube patavina,
a menina a quem tanto chamei Marina.
Atrás de cada mulher há uma vida tão máscula
quanto feminina à vida de cada homem em sua cápsula,
como cada cor de artigos sem cláusulas.
E sob o mar há um surreal aquático céu
tão sonhado pelo garoto que tanto chamaram Gabriel,
o garoto de mãos sujas de graxa,
à procura do que nunca se acha.
Dentro de cada nuvem há palavras que surgem e rugem selvagemente
em direção à todas selvagens mentes obscuras, obtusas,
mentes que buscam desentender a única possibilidade de entender
para tentar viver sem sofrer,
como se houvesse alguma esperança de não morrer
ou morrer já criança, sem esperança.
Em toda essa água esverdeada
há, reservada, uma mágoa azulada
para cada órgão que não possa
onde posso.
Em cada beco vejo a ânsia por (noutro coração) solidão,
e é isso que me peço, impeço um outro recesso meu,
não perduro, não perdoo nenhum perdão,
nenhuma recessão, nenhuma concessão.
Nesta terra planto cada tormento
para colher um único pensamento,
me invento entre as rachaduras de rochas,
me incendeio no solo solar - em suas tochas.
Repito o mesmo grito num desejar invicto,
me refugio nos seios desta mata que me mata e cala a mente
num refringente apetite indulgente
que me controla e assola meu corpo
na redoma de ser esse bioma de escrever
sobre cada coisa torta há uma outra vitrina
a refletir a menina que foste, a menina que nunca soube patavina,
a menina a quem tanto chamei Marina.
Atrás de cada mulher há uma vida tão máscula
quanto feminina à vida de cada homem em sua cápsula,
como cada cor de artigos sem cláusulas.
E sob o mar há um surreal aquático céu
tão sonhado pelo garoto que tanto chamaram Gabriel,
o garoto de mãos sujas de graxa,
à procura do que nunca se acha.
Dentro de cada nuvem há palavras que surgem e rugem selvagemente
em direção à todas selvagens mentes obscuras, obtusas,
mentes que buscam desentender a única possibilidade de entender
para tentar viver sem sofrer,
como se houvesse alguma esperança de não morrer
ou morrer já criança, sem esperança.
Em toda essa água esverdeada
há, reservada, uma mágoa azulada
para cada órgão que não possa
onde posso.
Em cada beco vejo a ânsia por (noutro coração) solidão,
e é isso que me peço, impeço um outro recesso meu,
não perduro, não perdoo nenhum perdão,
nenhuma recessão, nenhuma concessão.
Nesta terra planto cada tormento
para colher um único pensamento,
me invento entre as rachaduras de rochas,
me incendeio no solo solar - em suas tochas.
Repito o mesmo grito num desejar invicto,
me refugio nos seios desta mata que me mata e cala a mente
num refringente apetite indulgente
que me controla e assola meu corpo
na redoma de ser esse bioma de escrever
Futuro do pretérito sem mérito
Eu nem saberia qual é o dia ou com que poesia eu te diria
a completitude de nossa alegria, o que nos resta da festa passada.
Eu nunca saberia te dizer "Te amo",
nunca aprenderia a te abraçar sem te sufocar,
te beijar sem te machucar,
eu nunca te compreenderia,
nunca aprenderia nada sobre o amor.
Eu nunca seria teu outro completo,
nunca poderia te dar um teto,
eu mesmo nunca seria eu.
Eu não veria as coisas que vês,
nunca quereria as coisas que queres - as coisas com que me feres.
Eu só me apaixonaria,
me feriria nas próprias armadilhas,
me perderia nas minhas gigantes ilhas,
eu mesmo.
Eu te amaria,
gritaria para te ensurdeceres,
pediria que te calasses
para escutares os nossos sussurros incompletos e modestos.
Eu me aproximaria
do infinito tão sensual, tão bonito e consensual.
Mas nunca te daria tudo do que tanto precisas,
tudo que mereces.
Eu ouviria tuas preces, aclamaria tua beleza,
duvidaria das nossas certezas
e construiria destruições,
afirmaria os corações confirmados para serem confinados.
Eu seria tão outro apaixonado,
seria tão mais amado,
te falaria tanto mais que os poemas poderiam concretizar.
Eu te acariciaria num poente, entre nossas mentes,
te atiraria o nada de viver, de se ver,
te apaziguaria os átomos pelos nossos desejos em que vejo a vontade de crescer,
a verdade de nascer contra a vaidade de morrer.
Eu não poderia,
eu não,
mas outro.
Eu amaria,
te viveria
a completitude de nossa alegria, o que nos resta da festa passada.
Eu nunca saberia te dizer "Te amo",
nunca aprenderia a te abraçar sem te sufocar,
te beijar sem te machucar,
eu nunca te compreenderia,
nunca aprenderia nada sobre o amor.
Eu nunca seria teu outro completo,
nunca poderia te dar um teto,
eu mesmo nunca seria eu.
Eu não veria as coisas que vês,
nunca quereria as coisas que queres - as coisas com que me feres.
Eu só me apaixonaria,
me feriria nas próprias armadilhas,
me perderia nas minhas gigantes ilhas,
eu mesmo.
Eu te amaria,
gritaria para te ensurdeceres,
pediria que te calasses
para escutares os nossos sussurros incompletos e modestos.
Eu me aproximaria
do infinito tão sensual, tão bonito e consensual.
Mas nunca te daria tudo do que tanto precisas,
tudo que mereces.
Eu ouviria tuas preces, aclamaria tua beleza,
duvidaria das nossas certezas
e construiria destruições,
afirmaria os corações confirmados para serem confinados.
Eu seria tão outro apaixonado,
seria tão mais amado,
te falaria tanto mais que os poemas poderiam concretizar.
Eu te acariciaria num poente, entre nossas mentes,
te atiraria o nada de viver, de se ver,
te apaziguaria os átomos pelos nossos desejos em que vejo a vontade de crescer,
a verdade de nascer contra a vaidade de morrer.
Eu não poderia,
eu não,
mas outro.
Eu amaria,
te viveria
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Desabafo de bafo sem cheiro ou dinheiro
Não sei o que sentir, aonde cair, não sei a quem pedir.
Não posso nada, possuo nada além de mim.
Não conheço os substantivos que nomeiam os sentimentos,
não sei quais os nomes dos meus pensamentos.
Não me dou os nomes certos por não precisá-los,
encará-los.
Me continuo nas próprias palavras - tratado pela psicologia da poesia,
pela lógica doutra ótica que não a real,
noutra lente dum mesmo grau
Não posso nada, possuo nada além de mim.
Não conheço os substantivos que nomeiam os sentimentos,
não sei quais os nomes dos meus pensamentos.
Não me dou os nomes certos por não precisá-los,
encará-los.
Me continuo nas próprias palavras - tratado pela psicologia da poesia,
pela lógica doutra ótica que não a real,
noutra lente dum mesmo grau
domingo, 7 de outubro de 2012
A densidade de minha precariedade
Nosso amor nascido da terra não tem nada que preste,
é amor terrestre, nativo,
inativo e sem objetivo.
É amor sem princípio, nascido do vício de ser,
precavido para nascer,
desaparecido se é viver,
o amor que tanto tento, neste movimento lento,
fazer desaparecer - esquecer
Amor nativo, inativo
Eis que sou
o teu outro
tão diferente,
indiferente ao que feres
ou deferes
- ao que permaneço
sem mente,
de frente
à semente
do amor natimorto
(o sentimento torto,
absorto na própria
impossibilidade exagerada
pela nossa vaidade exacerbada)
o teu outro
tão diferente,
indiferente ao que feres
ou deferes
- ao que permaneço
sem mente,
de frente
à semente
do amor natimorto
(o sentimento torto,
absorto na própria
impossibilidade exagerada
pela nossa vaidade exacerbada)
sábado, 6 de outubro de 2012
Xuxu
Desvirginá-la,
te tirar toda a pureza que possa haver
com a frieza do meu ser
e saber se és tão fiel em cada manhã
- te beijar a face cruel, te beijar tuas maçãs
e te apertar o coração
com o mesmo amargo dum limão
(a outra fruta menos carnosa de tua carne vistosa)
te tirar toda a pureza que possa haver
com a frieza do meu ser
e saber se és tão fiel em cada manhã
- te beijar a face cruel, te beijar tuas maçãs
e te apertar o coração
com o mesmo amargo dum limão
(a outra fruta menos carnosa de tua carne vistosa)
domingo, 30 de setembro de 2012
Capacitação e combustão
Eu sei que gostas,
te carregas em minhas costas,
te calas com as palavras natimortas
e pedes os pés de ser, de ler e viver.
Tens em ti as marítimas costas,
sempre sem viver, só ler, só ser,
sempre em linhas próprias tortas
te carregas em minhas costas,
te calas com as palavras natimortas
e pedes os pés de ser, de ler e viver.
Tens em ti as marítimas costas,
sempre sem viver, só ler, só ser,
sempre em linhas próprias tortas
O gelo que és meu coração
De trás pra frente, de frente pra trás,
tudo tanto menos quanto mais,
todas as terras, todas as pás,
sem zelo, sem paz,
de gelo, ademais
vê-lo e sê-lo num mesmo frio
de querê-lo no grau mil
tudo tanto menos quanto mais,
todas as terras, todas as pás,
sem zelo, sem paz,
de gelo, ademais
vê-lo e sê-lo num mesmo frio
de querê-lo no grau mil
Me ensina, Gina
E geras em cada geração o que eras em teu estratagema,
gemes e sentes e giras em tua loucura numa fissura quase,
tão dura que te fazes outras faces em cada fase,
para que passes e fales que em mim há um teu.
Então, minha menina, vem, dizes, Gina, cura minhas cicatrizes, me ensina
sejas todas minhas atrizes, me ensina a ser só teu, e, repentina,
faz do que só tu és capaz,
faz de mim teu único rapaz
sábado, 29 de setembro de 2012
Amor sem sal, desleal
Minha mente mente inconsequentemente e, invariavelmente,
faz surgir a mesma semente de cair sobre terra, de nascer serra,
de fazer ou morrer.
A carapuça de ursa é o que usas para suas duas faces capazes de azares,
mas só sabes dos ares que não são teus, os ares meus, do amor semi-deus
faz surgir a mesma semente de cair sobre terra, de nascer serra,
de fazer ou morrer.
A carapuça de ursa é o que usas para suas duas faces capazes de azares,
mas só sabes dos ares que não são teus, os ares meus, do amor semi-deus
Dado marcado
Neste asfalto te falto o respeito e falo em teu peito
de todo amor computadorizado realizado num ato,
concretizado entre o mato.
E na marca do teu sapato há a cara dum outro rato
que te foi teu gato parametrizado num aparato menos real que o leal jurado por tua lealdade,
tua verdade que sempre foi vaidade de tua outra metade - eu
de todo amor computadorizado realizado num ato,
concretizado entre o mato.
E na marca do teu sapato há a cara dum outro rato
que te foi teu gato parametrizado num aparato menos real que o leal jurado por tua lealdade,
tua verdade que sempre foi vaidade de tua outra metade - eu
Confissão doutra confusão
Eu me sinto inseguro, caminhando entre muros,
penetro nos furos de dias puros.
E me perdi na pureza da tristeza diária e precária
em que nos vemos, em nos resolvemos, em que nos envolvemos.
Eu canto teu canto no nosso canto, tanto quanto cantas teu pranto,
eu mantenho teu manto em mim, com toda proteção de todo santo,
toco com o coração o violão oco de coco em coques como se cavalgasse em cavalos camuflados,
como como se fosse outra comida, como se fosse outra vida, como se fosse em outra medida.
Mas és tu quem me rege, quem norteia meu sul, quem me faz a paz sem mais, sem sais de mares.
Tu quem me fazes querer cantar e me perder em Caetano, cantando Buarque,
querendo que me marques, fazendo de nossos corpos nossos parques
penetro nos furos de dias puros.
E me perdi na pureza da tristeza diária e precária
em que nos vemos, em nos resolvemos, em que nos envolvemos.
Eu canto teu canto no nosso canto, tanto quanto cantas teu pranto,
eu mantenho teu manto em mim, com toda proteção de todo santo,
toco com o coração o violão oco de coco em coques como se cavalgasse em cavalos camuflados,
como como se fosse outra comida, como se fosse outra vida, como se fosse em outra medida.
Mas és tu quem me rege, quem norteia meu sul, quem me faz a paz sem mais, sem sais de mares.
Tu quem me fazes querer cantar e me perder em Caetano, cantando Buarque,
querendo que me marques, fazendo de nossos corpos nossos parques
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
O amargo trago vago
Eu me surjo nas palavras sujas de sua boca,
eu me sujo seja como for,
me perco na outra própria roupa,
me faço no me próprio amor.
Eu me faço num pedaço como aço em pé de aço,
eu me passo como em cada laço e desfaço todos os passos.
Eu vou em mim como sou,
eu voo sim
e assim, como comida, me estrago num outro trago, como as cinzas que eu trago,
os restos de mim, meu modesto fim
eu me sujo seja como for,
me perco na outra própria roupa,
me faço no me próprio amor.
Eu me faço num pedaço como aço em pé de aço,
eu me passo como em cada laço e desfaço todos os passos.
Eu vou em mim como sou,
eu voo sim
e assim, como comida, me estrago num outro trago, como as cinzas que eu trago,
os restos de mim, meu modesto fim
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Fragmento 3
É a mesma vida da vida que eu tenho,
tão desvivida e tão querida,
a vida sem amor, sem compaixão
que morreu na dor de meu coração.
A vida inesperada, tão insensata e ingrata,
a vida de cada coisa que fiz,
que quis, infeliz.
A vida que eu vivia e agora morre,
a vida que é morte.
A vida nua, crua, sem mim,
de fim, assim.
A vida que nunca foi minha,
a vida que nunca vivi
na vida em que morri
tão desvivida e tão querida,
a vida sem amor, sem compaixão
que morreu na dor de meu coração.
A vida inesperada, tão insensata e ingrata,
a vida de cada coisa que fiz,
que quis, infeliz.
A vida que eu vivia e agora morre,
a vida que é morte.
A vida nua, crua, sem mim,
de fim, assim.
A vida que nunca foi minha,
a vida que nunca vivi
na vida em que morri
domingo, 23 de setembro de 2012
655321 - Vida dum ato só
Como se fosse tudo lembrança, eu tento reviver essas partes despedaçadas de um mesmo sonho, mas só tento. Porque as partes não parecem ter sentido ou elos, mas são de um mesmo único, sei que são. Eu morria toda semana, sempre no mesmo dia, no mesmo horário, sempre na mesma quarta-feira, sempre a mesma morte. E agora sou apenas um espectro do nada, um inútil a mais, algo que não vive, só existe. Algo que só existe nessa solidão do palco, essa solidão tão companheira e amiga.
Não sei o que foi que me deu, só lembro do eco daqueles passos matinais que talvez nunca ouvi, esqueci do resto. Meu nome é como uma epigrama esquecido num canto, e por mais que eu force, ele não vem. Então tento falar pausadamente, quero que todos entendam, mas falo peremptoriamente – por causa do mundo, da sensação de ter emoção. Mas é sem movimento, sem fala, sem nada é que o teatro nasce, cresce e acontece.
Mas a primeira lembrança é a lembrança de amanhã, mesmo hoje sendo o dia antes de anteontem, posso ver aquela imagem distorcida e medrosa, aquele guarda-chuva vermelho. Não chovia, mas ele era como uma proteção do que poderia me atacar, os tantos demônios que sempre me atormentaram. Eu poderia falar de Deus, mas falo do inferno. Deus é um pouco demais, é pesado pra mim. Não sei se foi meu olfato que mudou, minha visão que distorceu o meu paladar, mas agora é tudo tão virtual, meu tato é tão natural, sem falar da audição, que, por escutar o tudo, não serve para nada. E meio esfumaçada há aquela imagem estranha – não sei se sou eu outra personagem qualquer. Isso agora já não tem importância, é tudo a mesma coisa. E assim foi que começou a história, confusa e sem nexo, até porque não fui eu quem criou a história, eu só conto, não faço, quem me dera fosse eu quem criou essa história, quem me dera eu fosse o escritor da minha vida... Eu só observo esses pontos vagos cheios de uma infinidade de possibilidades incertas, isso no tempo que havia tempo, pois agora o tempo parou e não há mais espaços, apenas alvitres recortados e rachados sob a memória. Então aquela personagem se pões a caminhar um início duma saga, uma longa viagem, dá os primeiros passos, aprende falar, conhece o primeiro amor... Ah!, Aquele amor. Era ela bela, perfeita, nós nos amávamos pra valer. Eu não sabia se era um amor inventado ou criado ou se realmente existia. Eu não sabia de nada, o importante é que era amor, mesmo que ela fosse somente ilusão. E nós brincávamos, dançávamos, cantávamos desafinadamente, mas cantávamos, olhávamos para tudo, apaixonados. Tudo isso foi rápido até que acordasse e percebesse ser aquilo só mais um sonho, mais uma história qualquer, uma história que me usou. Afinal é isso que a arte fez e faz comigo: Me usa. Eu mesmo não sei o que faço agora, só obedeço, só obedeço. É essa a arte que fala de amor, de sexo, guerra, violência, felicidade... E me faz sofrer, chorar. Até me fazia querer morrer quando eu ainda era vivo. Agora eu peço para ela me fazer viver. Ela não me escuta mais, não me usa mais, eu já não sirvo. “Não sou nada, nunca serei nada. Não posso querer ser nada”, Fernando Pessoa! Eu sou só uma peça que sobrou, invisível e insensível, só existe aí, na cabeça de vocês. Se não fossem esses seus cérebros maravilhosos, seus pensamentos, eu não estaria aqui, porque ninguém pensaria em mim, ninguém me veria assim.Mas em mim cabem todos os sonhos do mundo, “meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim”, Caetano! E se olho para o céu a noite não é para apreciar a lua ou as estrelas, mas para olhar para mim, tentar me entender, entender cada coisa que compõe todas as coisas.
É só mais um vértice da crônica rápida de minha... (não diria vida, porque aquilo não chamo de vida), diria busca. Sim, busca pelo nada, que perdi tanta coisa no inútil, naquele negócio de tentar fazer e ser, mas só saía o que não sei dizer nem escrever, o que só sei sentir. E eu sentia dores e sofrimentos, sentia tudo dos choros que ouvi de minha mãe, de meu pai, da dúvida de Deus, nas ruas e nos quartos, da dúvida de tudo, da falta de carinho, falta de amor. As guerras, os tiros, as drogas, as traições, o ódio; por isso de tudo acabei preferindo o nada e fui buscar a rosa, rosa perfeita nas próprias imperfeições, rosa onírica. E no caminho de encontrar algo mais e além encontrei a tristeza, conheci o que é tristeza de verdade, úmida e dolorosa, neste vazio chato, sem adjetivos, sem palavras. Eu pelo menos não sabia a ordem, se eram três, dois ou nada. Eu ia pensando e caminhando, quando cheguei lá e vi a rosa, a rosa de Alencar, de Drummond, de Zé Celso, quase chorei, mas não consegui chorar, tentei rir e só ouvi um grunhido. Foi quando o mundo me apareceu diante de minhas lentes e pude ver toda a multidão a me olhar, todos a me reprovar. Estendi o braço até a rosa, desentendi, quase a segurei. Então me senti caindo – do muito ao pouco –, permaneci com o braço estendido, a mão suada e trêmula a se erguer para o horizonte, pedindo socorro. Mas ninguém fazia nada, meus músculos doíam enquanto eu via cada um rir de mim ou chorar, mas não seguravam minha mão. E eu gritava, xingava. “Segura a minha mão, segura minha mão. Por favor! É só segurar. É só...”, então tudo escureceu, tudo desapareceu. E da escuridão me veio essa luz impiedosa que brota dos olhos de cada um de vocês e me obriga a confessar o que me aconteceu, me obriga a viver, mesmo que por um instante, na morte a vida que não lembro e depois voltar a morrer entre as vírgulas. Voltar para o mesmo lugar em que me encontrei e esqueci, o mesmo lugar que quis tantas vezes estar, o lugar de mim manchado com o beijo ensolarado e melado do vento imprevisível e incontrolável da vida. E justamente nessa parte me perguntam qual o porquê de viver, mas não quero, não posso, não respondo, só creio, recrio, faço acontecer a vida desvivida e personificada da máscara que criei na tentativa de dizer, ser, sempre no momento de não morrer. Dizem que existem pessoas que não merecem nem a si mesmas, acho que sou uma dessas pessoas
Mas cadê a poesia nessas horas, cadê teu mundo, Sofia? Está aqui! Sim, está aqui. Como? As palavras são fortes demais, elas me torturam, elas agora mostram... A rosa está aqui, está dentro de mim, a rosa nunca esteve distante, eu é que não percebi. [GARGALHA]. A rosa está aqui! Eu precisei morrer para perceber, mas agora vou voltar para o meu lugar. Vou renascer, reviver, reescrever a vida, vou ser feliz como só eu. Poderei voltar a sorrir de verdade, voltar a escutar o próprio grito. Poderei me ver no espelho, chorar para mim, correr e sentir o peito bater! Vou escutar meu coração novamente, escutar me chamarem pelo nome, abraçar e sentir o calor, suar. Poderei voltar a viver e repetir os mesmo verbos de sempre, tão novos e repetidos: sonhar, esboçar, caminhar, ganhar, perder, comer, depois correr, atuar, desenhar, parar, poder. Eu vou poder tanta coisa, vou fazer tanta coisa que mal posso esperar para voltar e nascer. Voltar, viver!
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Eu agradeço, me desculpo, peço licença, poucos ouvem, poucos respondem. Ao som da palavra Obrigado há quem forme uma expressão de perplexidade, como se fosse uma palavra de outro idioma, sem tradução. Caminho entre a indiferença de cada pessoa, entre os pensamentos ambulantes e aprisionados no desejo de acontecer. Eu vivo entre a fronteira de ser e fazer. Mas há uma fúria inebriante em mim, causada pelo patético dos ébrios que mal sabem o que são, causada pela ignorância quase disfarçada de cada olhar transeunte. Eu sinto náuseas, e não é somente a fumaça estrada descarregada pelos automóveis, mas também a respiração pesada e sem vida de todos os cidadãos ao meu redor que me causa essa sensação de tontura infinita.
A buzina buzina, me perturba, me enche dum vazio que não entendo. O grito grita dentro de mim como se fosse eu mesmo quem gritasse. Eu tento ignorar tudo isso, mas esse seria o erro fatal. É esse o mesmo erro tão perfunctório dos parasitas mais desnecessários.
E o cheiro cotidiano é a única coisa que posso guardar em mim para depois de todo depois, então eu guardo e continuo.
A buzina buzina, me perturba, me enche dum vazio que não entendo. O grito grita dentro de mim como se fosse eu mesmo quem gritasse. Eu tento ignorar tudo isso, mas esse seria o erro fatal. É esse o mesmo erro tão perfunctório dos parasitas mais desnecessários.
E o cheiro cotidiano é a única coisa que posso guardar em mim para depois de todo depois, então eu guardo e continuo.
domingo, 16 de setembro de 2012
Nós e os lençóis
Neste momento, nesses movimentos,
nos unimos, nos consumimos.
Sinto o gosto da tua voz
em minha voz,
sinto tua maciez em minha
frieza dura.
Rolamos, nos engolimos,
nos destruímos,
construímos um ser de dois
sobre essa cama,
cercada por chamas.
Tuas mão me prendem,
quase me sufocam
num alívio úmido
de sentir o amor abstrato
concretizado num prazer,
desejando e apaixonando,
formando uma cerca.
Nossas palavras diluem-se,
misturam-se, infectam poemas.
E o teu peso sobre mim
me levanta, me acorda,
me torna a volver
teus olhos encharcados
de suor meu,
perdido num lugar distante,
em que num instante
pude sentir algo a me ferir.
Enquanto caio nos teus braços
sinto-me voando, flutuando,
boio neste nosso mar de vocábulos,
desesperados, inventados, desejados.
Formo-me em poucos muitos
para preencher-te,
para que te siga
entre nós, entre atos e ações
nessa dança, fundindo corações
sábado, 15 de setembro de 2012
As palavras escorreram pelo rio mais límpido,
se foram pelo caminho mais tortuoso e me deixaram sozinho, desolado.
Minha pele ainda está marcada pelas palavras dolorosas que nunca se controlaram.
Eu estou debruçado sobre mim mesmo,
minhas lágrimas congelaram e me cegaram,
eu estou fora de mim,
sou ainda menos eu mesmo.
Sou outro que nunca fui e sempre fugi,
sou outro que nunca precisei de mim
se foram pelo caminho mais tortuoso e me deixaram sozinho, desolado.
Minha pele ainda está marcada pelas palavras dolorosas que nunca se controlaram.
Eu estou debruçado sobre mim mesmo,
minhas lágrimas congelaram e me cegaram,
eu estou fora de mim,
sou ainda menos eu mesmo.
Sou outro que nunca fui e sempre fugi,
sou outro que nunca precisei de mim
Não há mais porquê,
não há mais sobre o que escrever.
O amor se foi, partiu de mim,
o amor que talvez nunca existiu agora é certeza dum vazio,
um vazio obscuro com toda escuridão de meu coração.
Meu amor se foi de mim,
tudo se foi e caiu, como uma construção malfeita, sobre mim.
Tudo foi demolido numa explosão só, sem expressão, sem precisão
não há mais sobre o que escrever.
O amor se foi, partiu de mim,
o amor que talvez nunca existiu agora é certeza dum vazio,
um vazio obscuro com toda escuridão de meu coração.
Meu amor se foi de mim,
tudo se foi e caiu, como uma construção malfeita, sobre mim.
Tudo foi demolido numa explosão só, sem expressão, sem precisão
Algo vago
Algo que não entendo,
sempre o mesmo algo,
a mesma coisa sempre.
Eu ainda insisto em entendê-la só pelo prazer de sofrer,
ainda insisto em tentar saber só pelo prazer de não morrer.
Eu ainda tento as mesmas coisas diariamente,
e busco respostas, causas inconsequentes.
Eu busco uma nova busca,
para me machucar, me ferir, me arranhar
com todo tipo de coisa,
todo tipo de ferimento como lembrança de cada tormento,
semântica de cada pensamento irracional e reacional.
A reação das substâncias infectas,
a reação dos fatos inexatos relatados pelos olhos fatigados,
cansados de tanto horror, pesados com tanta sujeira
que carrego e carregarei pela vida inteira.
Por fim, enfim, no fim de tudo vem um fim sem fim,
algo que em mim faz todo sentido
mas não resume ou explica qualquer coisa.
Algo que só atrapalha, só confunde e retarda todas as ideias pretensiosas
(cheias da ânsia de acontecer, mas que nunca existiram)
sempre o mesmo algo,
a mesma coisa sempre.
Eu ainda insisto em entendê-la só pelo prazer de sofrer,
ainda insisto em tentar saber só pelo prazer de não morrer.
Eu ainda tento as mesmas coisas diariamente,
e busco respostas, causas inconsequentes.
Eu busco uma nova busca,
para me machucar, me ferir, me arranhar
com todo tipo de coisa,
todo tipo de ferimento como lembrança de cada tormento,
semântica de cada pensamento irracional e reacional.
A reação das substâncias infectas,
a reação dos fatos inexatos relatados pelos olhos fatigados,
cansados de tanto horror, pesados com tanta sujeira
que carrego e carregarei pela vida inteira.
Por fim, enfim, no fim de tudo vem um fim sem fim,
algo que em mim faz todo sentido
mas não resume ou explica qualquer coisa.
Algo que só atrapalha, só confunde e retarda todas as ideias pretensiosas
(cheias da ânsia de acontecer, mas que nunca existiram)
O sol e seu amor incondicional
É tremendo o desejo de sair, fugir, correr. O barulho das engrenagens misturado à música malfeita e entrecortada é um absurdo contraste quando se escuta as vozes desalinhadas, neuróticas, paranoicas. O motorista que desrespeita tudo, parece nem saber que existe algo mais além dele, parece não perceber a responsabilidade.
O cheiro me lembra coisa morta, podre, infectada com a mais pura sujeira. Tudo é infernal, a carne quente que roça na carne fétida, a mosca que pousa e brinca entre cabeças sem cabelos, cabelos despenteados. Mesmo a paisagem é repulsiva, os óculos e as janelas, manchadas de terra, de dia, de vida, tentam disfarçar o quadro naturalista e barroco que se estende para o mar e quase toca o sol. Preciso me espremer, empurrar, declarar licenças desatentas e desnecessárias. Quero não observar, mas não controlo meus olhos e vejo os meus pesadelos, minhas insônias, materializarem-se nas ruas. Salto o mais rápido possível, tento fugir de mim mesmo. Corro o máximo que minhas pernas já deixaram para depois saltar de novo e voltar a outro ambiente idêntico, infecto, sem lei, sem paz, nocivo à toda saúde. Volto a procurar um refúgio do sol, do cheiro de vômito e suor que impesta a cabeça de cada um. Tento esconder a mochila entre as pernas. Tento passar, com licença, por favor, com licença, desculpa. Ninguém ouve, só reclamam, reclamam da avidez imperceptível e incurável duma minoria deslocada.
Preciso correr, sentar, pensar, preciso parar. É alucinante, corro, busco mais um para me levar a lugar algum, o lugar em que me encontro todos os dias. E o sol me acompanha, me enlouquece, me chama e entre suas chamas me marca a pele num sinal de amizade. E as nuvens, com todo ciúme, tentam encobrir-me, mas ele continua a me seguir, continuar a me amar, como ama a todos.E continuo na viagem entre máquinas, desvio de carros, me perco no asfalto, passeio e me diverto com flerte arbóreos, o peso da mochila não me deixa voar, meu pensamento dança e se diverte com o vento insensato que me beija e me abraça com toda a paixão, a única paixão em que realmente confio e acredito.
Eu sigo, sempre com o desejo de saltar em outro ônibus e participar das danças ritualísticas obrigatórias a uma parcela, desbravadora, corajosa e forte, da sociedade a quem costumam chamar de passageiros (passageiros públicos, transeuntes, diluídos em adjetivos irreconhecíveis mas necessários).
Não é busologia, é esporte
Pegar ônibus é um esporte, uma arte.
Digno-me a dizer que pratico tal esporte desde que me conheço como humano. Pulo, salto, corro, busco as letras, os números que identificam o destino quase inalcançável. É a maratona da vida diária. A maratona praticada inconscientemente ou mesmo indesejavelmente por milhares de fortalezenses. E não é algo que se aprende rapidamente, é preciso talento.
É preciso talento para correr, raciocinar em segundos, saber o que vai fazer, se esgueirar, driblar as barreiras invisíveis, tentar ultrapassar o túnel quase intransitável de pessoas. As pessoas: essa é a melhor parte. Pessoas fortes, vivas, coladas, suadas, gente que sabe para onde vai, gente que nem sabe onde está, gente que xinga ou agradece, que respeita, desrespeita e empurra, simplesmente gente - que, apesar de tudo, formam um corpo só naquela dança matinal quase obrigatória na esperança de repetir-se no fim do dia.
Não há esporte mais belo que pegar ônibus. Não há nada mais agraciador que conquistar a cadeira entre tantos outros que a almejam, isso depois de ter corrido, tropeçado, saltado e, enfim, pegado o ônibus.
É preciso artimanha, perspicácia.
E o motorista, o piloto, o quase aviador, o responsável pelas vidas, todas as vidas, todos os caminhos, todos os destinos, o responsável por tantas histórias, impensáveis e irrealizáveis se não fossem os caminhos tortuosos e desconhecidos, decididos pelo motorista.
Não sou otimista, não sou um sonhador, sou um vivedor. Não invento nada, nem sei como inventar, é tudo fruto do tempo, todo o tempo que dediquei a praticar tal atividade (artística e esportiva).
E sim, o ônibus é belo, aquela máquina gigantesca, com os milhões de parafusos que gemem, tremem na sinfonia do motor - o maestro primordial da música que não esqueço e quase me ensurdece no prazer das voltas, das curvas e dos freios bruscos, antes ou depois do choque mortal. Sim, é tudo por causa do destino, é isso que explica as voltas em torno do mesmo eixo, o vai e vem incansável; tudo só para chegar ao destino sem razão e sem precisão.
domingo, 9 de setembro de 2012
Ferrugem de pássaro
Moro nas gaiolas,
busco minhas asas para me aquecer (cortaram-nas).
Esqueci mesmo de voar,
esqueci de viver,
esqueci de ser quem eu deveria ser,
por isso busco, nesses choques cotidianos,
a explicação de tudo que me é inexplicável,
a razão de todos os números irracionais,
os meus números vitais e imortais.
Morro nas gaiolas,
busco minhas asas para voar (arrancaram-nas).
Me esqueci de comemorar,
me esqueci de respirar,
me esqueci de ver o que eu deveria ver,
por isso busco, nos ruídos corriqueiros,
o porquê dos porquês
ou o querer de viver sempre no mesmo ser,
os seres irresistíveis e insensíveis,
os meus seres invisíveis indestrutíveis.
O morro das gaiolas,
é onde eu busco minhas asas (que nunca tive).
Esqueci-me de buscar o que realmente é necessário,
esqueci-me de escapar as minhas armadilhas,
esqueci-me de me buscar
e me perdi,
por isso me confundo com as possibilidades
- o que eu fui, o que eu sou, o que eu serei, o que eu poderia ter sido -,
todos os poderes que eu poderia,
os meu poderes sem deveres e sem dizeres
busco minhas asas para me aquecer (cortaram-nas).
Esqueci mesmo de voar,
esqueci de viver,
esqueci de ser quem eu deveria ser,
por isso busco, nesses choques cotidianos,
a explicação de tudo que me é inexplicável,
a razão de todos os números irracionais,
os meus números vitais e imortais.
Morro nas gaiolas,
busco minhas asas para voar (arrancaram-nas).
Me esqueci de comemorar,
me esqueci de respirar,
me esqueci de ver o que eu deveria ver,
por isso busco, nos ruídos corriqueiros,
o porquê dos porquês
ou o querer de viver sempre no mesmo ser,
os seres irresistíveis e insensíveis,
os meus seres invisíveis indestrutíveis.
O morro das gaiolas,
é onde eu busco minhas asas (que nunca tive).
Esqueci-me de buscar o que realmente é necessário,
esqueci-me de escapar as minhas armadilhas,
esqueci-me de me buscar
e me perdi,
por isso me confundo com as possibilidades
- o que eu fui, o que eu sou, o que eu serei, o que eu poderia ter sido -,
todos os poderes que eu poderia,
os meu poderes sem deveres e sem dizeres
Eu fujo de mim
Às vezes acho que sofro,
mas mal conheço o que é sofrimento,
mal sei o que é sofrer,
só tento viver e escrever.
Às vezes me parece que há uma ferida em mim,
uma ferida que arde sem porquê e sem fim.
Uma ferida como todas as feridas
que não localizo e sinto.
Às vezes eu morro nas minhas loucuras
em busca de uma outra vida mais entendida.
E só encontro uma vida desentendida e desmentida,
ainda mais confusa que todas outras vidas.
E é mais vivo que vivo nessas mortes diárias,
ainda menos eu a cada hora,
eu fora de mim
agora
mas mal conheço o que é sofrimento,
mal sei o que é sofrer,
só tento viver e escrever.
Às vezes me parece que há uma ferida em mim,
uma ferida que arde sem porquê e sem fim.
Uma ferida como todas as feridas
que não localizo e sinto.
Às vezes eu morro nas minhas loucuras
em busca de uma outra vida mais entendida.
E só encontro uma vida desentendida e desmentida,
ainda mais confusa que todas outras vidas.
E é mais vivo que vivo nessas mortes diárias,
ainda menos eu a cada hora,
eu fora de mim
agora
domingo, 2 de setembro de 2012
Linhas desentendidas
É nessa saga de viagem
perdida que eu encontro
minha própria inexistência
tão insignificante
entre as loucuras e os sonhos
da cama suada, dos livros
que não li enquanto folheava
ou quando joguei tudo pela escada
do pelos anuais em meses calados,
meses egoístas e pedantes,
meses letrais e cinematográficos,
cheios de opiniões sem importância,
ideias inúteis e ilimitadas
sem criatividade, sem originalidade.
Frases das sobras computadorizadas,
romances de amores submissos,
a tristeza romântica,
insistente em todo organismo;
da tristeza nua, a tristeza por detrás do disco
melancólico e enferrujado de tantas lágrimas.
A tristeza obrigatório, a tristeza presente do futuro
que só recordo quando durmo
e só durmo no sonho triste
além dos limites da fronteira minha
perdida que eu encontro
minha própria inexistência
tão insignificante
entre as loucuras e os sonhos
da cama suada, dos livros
que não li enquanto folheava
ou quando joguei tudo pela escada
do pelos anuais em meses calados,
meses egoístas e pedantes,
meses letrais e cinematográficos,
cheios de opiniões sem importância,
ideias inúteis e ilimitadas
sem criatividade, sem originalidade.
Frases das sobras computadorizadas,
romances de amores submissos,
a tristeza romântica,
insistente em todo organismo;
da tristeza nua, a tristeza por detrás do disco
melancólico e enferrujado de tantas lágrimas.
A tristeza obrigatório, a tristeza presente do futuro
que só recordo quando durmo
e só durmo no sonho triste
além dos limites da fronteira minha
domingo, 19 de agosto de 2012
Sem resposta
Paris está distante agora,
não há mais caminhos, não há como chegar.
Tudo está muito longe,
tudo muito cego.
A chuva arrogante e distante é a mesma chuva que queimou nossas peles no verão,
as nuvens sobrecarregadas são as mesmas nuvens que destruíram nossos topos,
os mesmos topos que copiamos em cada edifício como se fosse fazer diferença,
como se fosse mudar algo,
como se fosse algo.
E o vento ainda canta aquela canção que já nos encantou,
a canção que não decoramos, não lembramos, não nos alegramos quando a ouvimos,
a mesma canção de sempre que as árvores costumavam parar para ouvir,
os pássaros baixavam a cabeça
e nós dançávamos,
nós cantávamos para ninguém ouvir palavra alguma,
nós cantávamos para não ser nada do que precisávamos ser,
nós tentávamos chegar a algum lugar,
algum lugar como Paris,
nós tentávamos.
Mas Paris está distante,
mais distante que qualquer distância,
mais distante que o céu, a vida
num instante infinito distante
não há mais caminhos, não há como chegar.
Tudo está muito longe,
tudo muito cego.
A chuva arrogante e distante é a mesma chuva que queimou nossas peles no verão,
as nuvens sobrecarregadas são as mesmas nuvens que destruíram nossos topos,
os mesmos topos que copiamos em cada edifício como se fosse fazer diferença,
como se fosse mudar algo,
como se fosse algo.
E o vento ainda canta aquela canção que já nos encantou,
a canção que não decoramos, não lembramos, não nos alegramos quando a ouvimos,
a mesma canção de sempre que as árvores costumavam parar para ouvir,
os pássaros baixavam a cabeça
e nós dançávamos,
nós cantávamos para ninguém ouvir palavra alguma,
nós cantávamos para não ser nada do que precisávamos ser,
nós tentávamos chegar a algum lugar,
algum lugar como Paris,
nós tentávamos.
Mas Paris está distante,
mais distante que qualquer distância,
mais distante que o céu, a vida
num instante infinito distante
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Sem amor, sem vida
Nada,
eu aprendi nada do tudo que me ofereceram.
Tudo,
eu fiz tudo com o nada que me deram.
Sempre,
sempre enjaulado no nunca de ser a mesma coisa.
Nunca,
nunca o mesmo sempre com tantas coisas diferentes.
Sim,
sim para tudo que é negativo e contrário.
Não,
não quero receber respostas afirmativas, não quero ser assim.
Morte,
morrer em outros braços enlameados do amor.
Vida,
viver na morte de te amar.
Amor,
eu aprendi nada do tudo que me ofereceram.
Tudo,
eu fiz tudo com o nada que me deram.
Sempre,
sempre enjaulado no nunca de ser a mesma coisa.
Nunca,
nunca o mesmo sempre com tantas coisas diferentes.
Sim,
sim para tudo que é negativo e contrário.
Não,
não quero receber respostas afirmativas, não quero ser assim.
Morte,
morrer em outros braços enlameados do amor.
Vida,
viver na morte de te amar.
Amor,
domingo, 12 de agosto de 2012
Eu quero tudo - menos o nada
Não foi o tédio ou o tejo nem nada
que me fez parar para pensar em caminhar,
foi a vida das vidas vistas pelas vidraças do campo,
foram as rodas imundas das máquinas mortas e devastadoras
de todas as coisas urbanas e humanas, de tudo do nosso mundo.
Foi todo esse asfalto perfumado de dinheiro e tinteiro
que me reinventou e tentou me empurrar para outro lugar,
outro navio, outro avião a me aguardar.
Além de tudo há o som perturbador da pertubação de tanta agitação
que me consome de nome em nome, que me faz, do nada, homem,
o som de tantos insetos enjaulados na minha cabeça -
insetos que gritam e procriam ideias sem ideais,
ideias de velas, inundadas da gordura da alma,
da carne do pensamento que me atormenta com tantas tormentas.
Vem também o vazio das palavras que chovem em mim
e me ferem,
todos os guarda-chuvas estão fechados, emperrados,
tudo da gente está enferrujado e molhado do fogo que chamam de morte,
a mesma morte que enxágua o solo fértil do cemitério,
a mesma morte que movimenta o mundo a viver por medo de morrer,
a mesma morte.
E tento me calar cada vez mais,
mas a voz é forte, é morte,
a voz não cansa, dança dentro de mim,
à espera de esperar uma outra coisa que não eu e minhas ideias sem pensamentos,
outra coisa que não eu
que me fez parar para pensar em caminhar,
foi a vida das vidas vistas pelas vidraças do campo,
foram as rodas imundas das máquinas mortas e devastadoras
de todas as coisas urbanas e humanas, de tudo do nosso mundo.
Foi todo esse asfalto perfumado de dinheiro e tinteiro
que me reinventou e tentou me empurrar para outro lugar,
outro navio, outro avião a me aguardar.
Além de tudo há o som perturbador da pertubação de tanta agitação
que me consome de nome em nome, que me faz, do nada, homem,
o som de tantos insetos enjaulados na minha cabeça -
insetos que gritam e procriam ideias sem ideais,
ideias de velas, inundadas da gordura da alma,
da carne do pensamento que me atormenta com tantas tormentas.
Vem também o vazio das palavras que chovem em mim
e me ferem,
todos os guarda-chuvas estão fechados, emperrados,
tudo da gente está enferrujado e molhado do fogo que chamam de morte,
a mesma morte que enxágua o solo fértil do cemitério,
a mesma morte que movimenta o mundo a viver por medo de morrer,
a mesma morte.
E tento me calar cada vez mais,
mas a voz é forte, é morte,
a voz não cansa, dança dentro de mim,
à espera de esperar uma outra coisa que não eu e minhas ideias sem pensamentos,
outra coisa que não eu
terça-feira, 31 de julho de 2012
Pórtico erótico
Na vivacidade do mundo imundo
eu vivo a mesma eroticidade do nascimento
dum outro tormento de tantos pensamentos
sem razão, sem invenção.
E nos teu olhos olho o óleo fugaz
da nossa paz sem menos nem mais
dos corpos tortos e mortos sem sexo
sem hora marcada depois ou agora.
Romântico e erótico, assim foi feito
o perfeito de viver, escrever e fazer
- com continuar, sem pensar
somente amar e transar
eu vivo a mesma eroticidade do nascimento
dum outro tormento de tantos pensamentos
sem razão, sem invenção.
E nos teu olhos olho o óleo fugaz
da nossa paz sem menos nem mais
dos corpos tortos e mortos sem sexo
sem hora marcada depois ou agora.
Romântico e erótico, assim foi feito
o perfeito de viver, escrever e fazer
- com continuar, sem pensar
somente amar e transar
A nossa aids - Capítulo IV, Meus escorpiões
E o Miguel? Está bem também. O
resgate havia sido pago, Carlos não sofreu um arranhão sequer e agora se
recuperava na sua mansão em Miami com a família. Eu havia acabado de doar o
sangue para Geni quando recebi o telefonema. Alleri me dizia que o livro seria
um sucesso estrondoso, estrondoso. Carlos me olhava desconfiado a todo momento,
a única coisa que ouvi ele falar desde a notícia da gravidez foi: O filho é
seu? Não sei. E até agora ele não diz palavra alguma, mas me xinga, me ofende
com aqueles olhares indiscretos. É um desconforto termos que estar no mesmo
lugar, sentados lado a lado e até tentava odiá-lo, mas não tinha força nenhuma
para fazê-lo. Foi assim durante todo o dia: parede verde, som de noticiário e
telefone tocando. Até o médico me chamar: Me desculpe, mas você não poderá doar
sangue. Por que não? Presumo que você ainda não saiba... O quê você está
dizendo? Você está infectado vírus HIV. AIDS?
Eu tenho AIDS?, gritei e essas palavras quase me rasgaram a garganta.
Mas você teve sorte, ainda está no estágio inicial. Aids? Eu tenho aids? AIDS.
Há tempos que eu não sentia uma lágrima correr por mim, dessa vez foram
milhares. O médico falava e falava, mas eu só entendia as palavras AIDS e
doença, morrer, meu coração era um tambor abafado e a única coisa que escutava.
Me trouxeram um copo d’água, não sei de onde surgiu. Bebi; bebi. Me virei e
deixei o médico falando com minhas costas, sentei ao lado de Carlos e
compreendi. Percebi que não havia nada a ser feito, abracei-me a Carlos, o
rosto enxaguado de lágrimas. Ele não relutou nem entendeu, seu olhar agora
tinha desprezo misturado a todos os outros sentimentos. Apertava-o, era o único
por perto, o único que eu tinha para abraçar. Sussurrei para mim: Foram só
duas, apenas duas, duas vezes que eu não usei camisinha, foram somente duas.
Senti que ele me abraçava agora. Não entendi, não entendemos, não
compreendemos, ficamos abraçados até eu dormir. Acordei numa outra cama que não
a minha, nem de hospital, cheirava a Geni, era o apartamento de Geni. Levantei
e caminhei pela casa. Encontrei-o na cozinha. Você está melhor? E Geni? Ela
está melhor, conseguiram o sangue que ela precisava, estancaram o sangramento.
E você? Não posso estar melhor. Alimente-se.
Na mesa havia pães, café, bolo, queijo e suco. Comi o quanto pude. Eu vou sair daqui a uma hora, tenho que
trabalhar. Quer carona? Quero, tenho que passar na editora. Escutamos Legião
Urbana, ele ao menos tinha bom gosto. Como está o andamento do livro? Fique
despreocupado, estamos resolvendo tudo, provavelmente ele será lançado no
início do próximo ano, nós ligaremos. Um sorriso e fui embora, no caminho vi
muitas prostitutas vestidas como damas, era um ódio que me consumia e me fazia
ter náuseas, eu preciso procurar um médico, preciso de um tratamento. Agora
tenho ódio de todas elas. Ei, gatão, que tal hoje? Meu punho levantou acima de
sua cabeça e quase esmurrei aquele rosto tão usado e beijado, não consegui,
corri para o mais longe possível daquilo. Preciso ir ao médico, tenho que fazer
tratamento. Preciso sentar, sento em qualquer lugar. Me perco entre
pensamentos, me sufoco em mim e demoro a me achar entre tantas coisas
imaginárias enquanto o sol me queima a cara. Preciso de casa.
Estava dormindo no chão infecto e imundo
do banheiro quando Carlos veio perturbar a tranqüilidade do apartamento. Seus
olhos brilhavam tanto que chegavam a ofuscar o sorriso. Ela acordou e quer
falar com você. Eu ainda estava atordoado, não entendi aquele sorriso. Geni
falava entre alguns suspiros dolorosos, estávamos apenas eu e ela no quarto.
Olá! Oi! Você se sente bem? Sim. Carlos já falou comigo disse que estão se
dando bem. É, estamos nos dando bem. Vocês são muito parecidos, gostam das
mesmas coisas, pensam da mesma maneira, eu sou prova disso. Aquela fala havia
me ensurdecido, não soube o que dizer. A voz dela ficava cada vez mais
sussurrada: Quais são as novidades do mundo lá de fora que eu perdi? Carlos já
te contou? O quê? Sobre o bebê. Bebê, que bebê? Eu estou grávida? Sorri
cinicamente. Responda!, eu estou grávida? Sim, você está grávida. Os seus olhos
se banharam na própria água e sua voz engrandeceu, tornou-se quase grito.
Desgraçado, desgraçado! Você é o culpado, você é o culpado. Eu não devia ter te
visitado, eu não devia. Saia daqui! Mas, Geni... Saia!, não quero ver seu rosto
por um tempo, saia daqui! Não havia mais lágrimas em mim para serem choradas.
Carlos esperava. E então? Ela está bem. Vou falar com ela. Não, melhor não, ela
quer ficar sozinha. O sorriso estampado no rosto de Carlos era inocente, quase
infantil, talvez não percebesse o que estava acontecendo. Vamos beber! Ele
realmente não fazia ideia do que estava acontecendo. Comprou bebidas numa
mercearia e fomos para seu apartamento. Bebemos, quase todo o tempo em
silêncio, nos embebedamos. Ele me abraçou, sorri, gargalhamos. Seus olhos eram
confusos, ele me puxou e alisou minha cabeça enquanto aproximava o rosto do
meu, parou a alguns centímetros. Tentamos falar. Falar o quê? Eu estava
consciente ainda, ele também, nossos corpos queimavam. Nos aproximávamos, os
lábios encostaram-se – a cena ficou pausada. E agora?, pensávamos. Nos
empurrávamos em direção ao outro, os lábios ainda se tocavam, ele tirou a
camisa, rasgou a minha, fomos para a cama. Ele estava em cima de mim. Mas,
Carlos... minha língua não pôde continuar, havia outra língua em minha boca.
Ele tirava a cueca. Eu pensava em correr dali, correr, fugir daquela cena
surreal. Não sou gay! Não posso fazer isso. E ele me acariciava. Eu estou com aids,
não tenho nada a perder. Ele tinha camisinhas. Nos ajudamos a pôr as camisinhas.
Nos afogamos em nós mesmos, sujamos os lençóis com nossos suores, nossas
salivas. A bebida era só mais uma desculpa qualquer, sabíamos o que fazíamos,
estávamos batizados pelo álcool, isso era o nosso perdão – a própria maldição.
Dormi em cima dele. Acordei sozinho. Não havia ninguém no apartamento, tomei
banho e fui ao hospital. Carlos não estava lá, Geni dormia. Esperei que
acordasse, só pensava nele e tentava esquecer o inesquecível. O que você quer
aqui? Geni, nós precisamos conversar. Não, não precisamos. Mas, Geni, você
precisa entender, esse filho é do Carlos. Não, não é! Ele é seu filho. E agora
toda aquela merda volta! Como você tem certeza? Nos últimos meses só transei
com você e Carlos, mas Carlos fez vasectomia – quando o conheci era ator pornô,
não podia engravidar as atrizes. Então agora eu serei pai? Sim... Ela mergulhou
nas lágrimas e soluços. Carlos está feliz por isso, sempre quis adotar uma
criança, ele acredita em milagres e acha que vai ser pai, acho que ele não se
importa de eu ter engravidado de outro homem. Carlos, Carlos, Carlos! Por que
ele teve que atrapalhar a nossa vida?
- Atrapalhar? Não foi ele quem
atrapalhou, foi você, você quem destruiu tudo. Você quem me largou, me deixou
como se eu fosse lixo. Você era um poetazinho qualquer, um poetazinho de merda
quando te conheci e eu te amava, te amava tanto... Ninguém poderia acreditar em
tanto amor. E mesmo que eu não queira, ainda amo. Eu te amo incontrolavelmente
e impossivelmente. Todas as noites quero e tento te esquecer, pensar que você
nunca existiu, mas é impossível. Por que me trocou por aquelas putas? Por quê?
Eu estava grávida, você não sabia, nem percebeu. Eu estava grávida e não tinha
nenhum emprego. Mas eu sabia fazer sexo e meu curso de teatro ainda valia, você
sempre me achou uma ótima atriz, e acho que sou. Um diretor de filmes eróticos
me viu na rua e lembrou de mim, lembrou das peças que fiz, me convidou para
participar de um filme – era um bom dinheiro, um bom dinheiro. Foi num desses
filmes que conheci Carlos.
- E o bebê?
- Ele morreu, aborto natural. Foi uma
desgraça, seria uma menina, uma bela menina.
Eu tentava responder, tentei balbuciar
qualquer coisa e as palavras soltas uniram-se para formar a frase indesejada:
Eu não te abandonei.
- Não, não abandonou. Mas eu não viveria
com tudo aquilo, aquele cheiro infernal de sexo na nossa cama, sempre cheia de
putas. Você sempre estava bêbado, sempre drogado – tudo por causa da porra
daquele livro.
- Sombras tardias.
- Você e seu novo estilo. Você era um
gênio, o gênio artista da nova década, não era assim que os críticos te chamavam?
E a cada elogio seu ego crescia, você se entupia ainda mais de drogas e álcool,
sempre levando putas para casa. Você me esqueceu, eu não podia continuar.
Aposto que você só se deu conta da minha ausência uma semana depois que parti.
E, sim, isso é abandono, o mais cruel dos abandonos. Eu te odeio, te odeio.
- Preciso falar uma coisa.
Ela agora resmungava para si trechos de
meus poemas e da crítica, ela sempre foi minha maior fã. Você sempre misturando
os diálogos, misturando tudo, confundindo os leitores, surpreendendo os
críticos, criando a nova arte transgênica e trans-zênica.
- Eu preciso te falar uma coisa, Geni.
Sempre precisando falar o que acha, o
que sente, sempre achando que é dono das palavras. Você e os versos sem rimas e
sem métrica, os adjuntos sempre fora de ordem e pós-posicionados, você sempre inovando,
sensualizando a poesia.
- Eu estou com aids!
Ela parou.
Seu olhar rodou pelo quarto antes de
pousar sobre mim. Ela gargalhou como um louco. Você é um brincalhão. E falava
qualquer coisa em polonês, com um jarro rosa de flores na mão, apontando para
minha direção. Enfermeira, tira esse maluco daqui! Enfermeira! A enfermeira
chegou depois de ela jogar o jarro e gritar: Poeta de merda que você é,
desgraçado, não sabe nada, não sabe viver, não sabe compor uma vida certa, não
sabe compor a própria vida! Cadê a poesia, cadê os poemas? Onde está a poesia
nessas horas?
- Eu estou com aids.
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