domingo, 6 de maio de 2012

O excesso dos adjetivos perdidos

Já no final de outro início foi que cavei esse buraco de nada, buscando o tudo. Curioso ponto de partida este onde tento um a a mais quanto menos teatral da filosofia rápida e ofegante, quase imperturbável das loucuras que agora falo como se fosse arte ou outra coisa qualquer. Faço o tempo perder-se só por mágoa da tristeza ínfima e desconsiderada do desespero de parar. O desespero inquietante tentando entender o que não se deve entender, o que já foi perdido há muito entre outras mil palavras ajoelhadas pelo duplo de ser. E entenda quem quiser, porque eu já nem sei de minha existência e de minha significância apenas me perco, me perco nessa sociedade bravíssima - brasileiríssima -, sociedade de justiça sem leis, destruidora dos restos. A justiça que destroça quase a tudo que serve justamente ao ser justo. Mas esqueço rapidamente de qualquer coisa e das lembranças só lembro do meu parto, quando me despedi do escuro, da paz, me despedi não sei do quê e me encontrei naquela luz naquela luz, pairando sobre tudo, sobre o infinito amigável. Sorri um pouco antes de chorar, e foi naquele sorriso curto em que comecei comecei a viagem duma busca por algo, essa coisa que busco ainda não conheço, mas sei que é grande e está além. Para isso vivo: para buscá-la atrás do sol, ao lado da lua, além das estrelas nascidas no infinito de conjuntos universais matemáticos artificiais. Já no meio do caminho me perco entre outros caminhos e nesse ponto me engasgo com as próprias palavras pouco sonoras nas tentativas de torná-las poéticas além dos pontos e das vírgulas invisíveis neste palco ínfimo ou quase pouco. Não sei por que repito o que já repeti sem me conformar com a falta de sentido ou mesmo com a com a confusão que agora gargalha dentro da minha cabeça atordoada também pelo vento oco vindo de montanhas distantes sob mares fantásticos. Corro nas músicas indecifráveis, percorrendo cada letra acentuada das faltas de amor. Ah! O amor, essa coisa esquisitada, calada, irritante na própria beleza, barulhenta no próprio silêncio. E acho que é ele que me deixa assim - conversando sozinho, sem respostas, só olhares ruidosos. Com esses ruídos orquestrados de arte tomando cada parte total e esquisita daquilo que já falei e esqueci para os pássaros de carne, carne que me absorve, revestindo os dentes de minha alma desabreviada das folhas em que escrevi este texto idiota e solitário, perdido no mundo. Porque foi tentando entender tudo, entender o mundo, que fiz o que fiz sob cada sol nos esquetes por detrás da cortina pesada e mofada, brotada das cabeças vazias e carecas, pensamentos tão inúteis quanto aclamados nas palmas finais do mundo que tento entender e não entendo. Por isso me refugio na arte insólita, regada com todo sentimento e todo o amor. Me refugio na copa dessas árvores gigantescas, observando a Ásia, o horizonte difuso (maior que tudo, maior que eu). Sentado fico, tentando ver ou entender. E quando percebo que não há mais nada a fazer, só então eu paro, paro de escrever ou pensar neste fim que mal começou, então me calo no silêncio duma vida que nunca acaba.

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