sábado, 15 de setembro de 2012

Não é busologia, é esporte


Pegar ônibus é um esporte, uma arte.
Digno-me a dizer que pratico tal esporte desde que me conheço como humano. Pulo, salto, corro, busco as letras, os números que identificam o destino quase inalcançável. É a maratona da vida diária. A maratona praticada inconscientemente ou mesmo indesejavelmente por milhares de fortalezenses. E não é algo que se aprende rapidamente, é preciso talento.
É preciso talento para correr, raciocinar em segundos, saber o que vai fazer, se esgueirar, driblar as barreiras invisíveis, tentar ultrapassar o túnel quase intransitável de pessoas. As pessoas: essa é a melhor parte. Pessoas fortes, vivas, coladas, suadas, gente que sabe para onde vai, gente que nem sabe onde está, gente que xinga ou agradece, que respeita, desrespeita e empurra, simplesmente gente - que, apesar de tudo, formam um corpo só naquela dança matinal quase obrigatória na esperança de repetir-se no fim do dia.
Não há esporte mais belo que pegar ônibus. Não há nada mais agraciador que conquistar a cadeira entre tantos outros que a almejam, isso depois de ter corrido, tropeçado, saltado e, enfim, pegado o ônibus.
É preciso artimanha, perspicácia.
E o motorista, o piloto, o quase aviador, o responsável pelas vidas, todas as vidas, todos os caminhos, todos os destinos, o responsável por tantas histórias, impensáveis e irrealizáveis se não fossem os caminhos tortuosos e desconhecidos, decididos pelo motorista.
Não sou otimista, não sou um sonhador, sou um vivedor. Não invento nada, nem sei como inventar, é tudo fruto do tempo, todo o tempo que dediquei a praticar tal atividade (artística e esportiva).
E sim, o ônibus é belo, aquela máquina gigantesca, com os milhões de parafusos que gemem, tremem na sinfonia do motor - o maestro primordial da música que não esqueço e quase me ensurdece no prazer das voltas, das curvas e dos freios bruscos, antes ou depois do choque mortal. Sim, é tudo por causa do destino, é isso que explica as voltas em torno do mesmo eixo, o vai e vem incansável; tudo só para chegar ao destino sem razão e sem precisão.

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