sábado, 25 de junho de 2011

107

O homem estava desmaiado, quando abriu os olhos viu somente o número cento e sete gravado no teto de metal do cubículo.
     Levantou-se com a ajuda das mãos e olhou ao redor, o máximo que viu foi as quatro paredes totalmente brancas, não como o branco de uma folha de papel, mas um branco que produzia luz própria, e parecia ser infinito.
     Apalpou as paredes, sentiu que eram lisas como vidro.Tentou gritar, mas tamanho era o pânico que apenas seus lábios se mexeram, o grito ficou na garganta.
     Onde estava? O que acontecera?Por que estava ali? Tantas eram as perguntas. Tantos eram os pensamentos, e não pensava em nenhum.
     – Onde estou? Alguém, por favor, apareça. Que lugar é esse? – seus gritos ecoavam pelas paredes, ele era a única pessoa que realmente escutava os gritos – O que aconteceu comigo?
     Sentiu um enorme cansaço. Caiu de joelhos e pôs a mão no chão. Na sua mão viu uma cicatriz que começava no dedo indicador e terminava no polegar. Que cicatriz era aquela? Aquela era a sua mão?
     Quem era ele, qual o seu nome?
     Sentiu um vazio no peito e uma enorme dor de cabeça.
     Quem sou eu?
     Chorou. Gritou. Riu. Pulou.
     Não sabia exatamente o que sentir, afinal não sabia nem mesmo quem era. Então como saberia o que sentir?
     Deitou, fechou os olhos, abriu os olhos. Sentiu o estômago roncar, pedindo por comida.
     Será que ele morreria ali?
     Morrer?
     Essa palavra não tinha significado nenhum para ele, mas tinha medo só em pensar nisso.
     Até esse momento, o único companheiro era o silêncio. Até o silêncio ser estrangulado por gritos de dor, capaz de provocar a mais intensa dor no ouvido de quem escutava aquilo.
     Os gritos cessaram com um forte baque. E ouviram-se vozes de homens que pareciam conversar, mas a única fala capaz de se distinguir foi: “Agora é o cento e sete”.
     Sentiu um pavor, aquele era o cubículo cento e sete. Era a vez dele, mas para quê?
     Iriam matá-lo? Libertariam-no? Raspariam seus cabelos?
     Não, não. Tudo isso era só fruto da imaginação, talvez quisessem apenas salvá-lo, explicariam tudo a ele.
     Um portão à sua frente abriu. Viu uma imagem escura, a imagem de um homem, recortada pela claridade em suas costas.
     Ele levantou, ergueu a mão, pôs à frente de seu rosto, para proteger da claridade.
     Apareceram mais homens. Foram em sua direção.
     – Quem são vocês?
     Chutaram suas pernas para que caísse, mesmo caído continuaram chutando, até sangrar sua boca, ouvido e nariz. Levantaram-no pelos braços e o levaram pelos corredores.
     Passou por várias celas, várias portas com números inscritos (cento e oito, cento e nove, e dez, e onze, e doze, treze, quatorze, 115). O corredor se estendia por vários metros, quilômetros.
     No final do corredor havia uma sala enorme, com várias pessoas erguidas por fios que nasciam do teto e lhes penetravam a pele.
     O que é isso?
     Os homens continuaram a levá-lo e pararam no centro da sala, onde havia vários fios, um maior se estendia mais que os outros, nesse a agulha era maior. Um dos homens pegou esse fio e enfiou na sua coluna, tamanha a dor, que não conseguiu reagir, apenas desmaiou.
     Acordou. Não estava mais ali. Seu corpo mudou. Estava em outro lugar. Tentou, mas não conseguiu falar. Viu várias pessoas o segurarem com as mãos, eram muito maiores que ele.
     O tempo passou, conseguiu falar, e tudo o que aconteceu, já não estava em sua memória.
     Viveu muito.
     Um dia o mundo desapareceu. E ele se viu, esquecido e confuso, dentro de um cubículo, que havia no teto inscrito o número cento e quinze.      

      
       

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