domingo, 19 de agosto de 2012

Sem resposta

Paris está distante agora,
não há mais caminhos, não há como chegar.
Tudo está muito longe,
tudo muito cego.

A chuva arrogante e distante é a mesma chuva que queimou nossas peles no verão,
as nuvens sobrecarregadas são as mesmas nuvens que destruíram nossos topos,
os mesmos topos que copiamos em cada edifício como se fosse fazer diferença,
como se fosse mudar algo,
como se fosse algo.

E o vento ainda canta aquela canção que já nos encantou,
a canção que não decoramos, não lembramos, não nos alegramos quando a ouvimos,
a mesma canção de sempre que as árvores costumavam parar para ouvir,
os pássaros baixavam a cabeça
e nós dançávamos,
nós cantávamos para ninguém ouvir palavra alguma,
nós cantávamos para não ser nada do que precisávamos ser,
nós tentávamos chegar a algum lugar,
algum lugar como Paris,
nós tentávamos.
Mas Paris está distante,
mais distante que qualquer distância,
mais distante que o céu, a vida
num instante infinito distante

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sem amor, sem vida

Nada,
eu aprendi nada do tudo que me ofereceram.
Tudo,
eu fiz tudo com o nada que me deram.
Sempre,
sempre enjaulado no nunca de ser a mesma coisa.
Nunca,
nunca o mesmo sempre com tantas coisas diferentes.
Sim,
sim para tudo que é negativo e contrário.
Não,
não quero receber respostas afirmativas, não quero ser assim.
Morte,
morrer em outros braços enlameados do amor.
Vida,
viver na morte de te amar.
Amor,

domingo, 12 de agosto de 2012

Eu quero tudo - menos o nada

Não foi o tédio ou o tejo nem nada
que me fez parar para pensar em caminhar,
foi a vida das vidas vistas pelas vidraças do campo,
foram as rodas imundas das máquinas mortas e devastadoras
de todas as coisas urbanas e humanas, de tudo do nosso mundo.
Foi todo esse asfalto perfumado de dinheiro e tinteiro
que me reinventou e tentou me empurrar para outro lugar,
outro navio, outro avião a me aguardar.

Além de tudo há o som perturbador da pertubação de tanta agitação
que me consome de nome em nome, que me faz, do nada, homem,
o som de tantos insetos enjaulados na minha cabeça -
insetos que gritam e procriam ideias sem ideais,
ideias de velas, inundadas da gordura da alma,
da carne do pensamento que me atormenta com tantas tormentas.

Vem também o vazio das palavras que chovem em mim
e me ferem,
todos os guarda-chuvas estão fechados, emperrados,
tudo da gente está enferrujado e molhado do fogo que chamam de morte,
a mesma morte que enxágua o solo fértil do cemitério,
a mesma morte que movimenta o mundo a viver por medo de morrer,
a mesma morte.

E tento me calar cada vez mais,
mas a voz é forte, é morte,
a voz não cansa, dança dentro de mim,
à espera de esperar uma outra coisa que não eu e minhas ideias sem pensamentos,
outra coisa que não eu