domingo, 22 de janeiro de 2012

Vida verbalizada

Viajar, escrever,
Amar, dizer,
Cantar, viver,
Falar, querer,
Andar, correr,
Pecar, somar,
Bombardear
E ser.
Assim é a vida,
Assim é o viver,
Assim é o mundo,
Assim é o ser,
Assim se faz, como capaz,
Assim é a paz
De jamais perder.
Assim é a dor
De um escritor,
Assim é o amor,
Assim é o ator.
Assim, assim,
Sim, assim,
Assim sim.
Sim

Calendário

Minhas mulheres – mulheres de todos – amadas,
São essas mulheres com quem namoro,
São mulheres com quem eu moro,
Mulheres de dias, tardes e madrugadas.

Mulheres que posso amar,
Mulheres com quem posso gritar,
Mulheres lindas, perfeitas,
Para mim foram feitas.

Eu pergunto, mas não respondem,
Se me amam, pois as amo.
Com os olhos elas me comem
E a seus nomes chamo,
Por seus amores de papel,
Por toda a confiança
Ainda olho para o céu
E guardo de esperança
Ter todas junto a mim,
Deitados em um jardim,
Rindo.

São esses olhos, que já não sei se são meus
Ou se são delas, verdes, azuis de Deus.

Ainda olho para o céu
E guardo a esperança,
Tê-las fora do papel
Ter todas junto a mim,
Não em uma lembrança,
Mas deitados num jardim.

Ainda olho para céu
E tenho a esperança
De ter todas junto a mim

Carta perdida

Desculpe-me se eu não sei dizer
E se não sei cantar ou falar
E se não sei sequer escrever.

Mas estou tentando explicar
Com simples palavras
Que o meu amor é maior,
Maior que tudo.
Meu amor por você é inexplicável,
Inexplicável como você.
E não são apenas palavras que vão explicar
O quão sou capaz de te amar.

Este universo ainda é pouco,
Muito pouco para caber
O meu amor por você.

Então me calo
Até você entender

sábado, 21 de janeiro de 2012

Pulmões de aço

Ele ainda lembrava do segredo, lembrou por todos os dias, intensamente. Até a lembrança ficar desinteressante. E ele não lembrou, não lembrou durante muito tempo, mas o segredo continuava guardado.
Passou-se dois anos até ele lembrar do segredo. E para onde olhasse lembraria do segredo. Segredo que era muito antigo, mas resistiu. Ele pensou que de tão antigo o segredo fosse mais velho que ele.
E era, o segredo era maior que ele, mal suportava carregá-lo. E agora ele volta assim, sem avisar.
Quem mais sabia?
Ele achou que ninguém mais soubesse, era impossível alguém mais saber. Era preciso uma força sobrenatural para carregá-lo, mas carregava.
E ainda mais essa agora: até a lixeira, o copo, o prato, a torneira, tudo lembrava o segredo.
Ele se segurava para não deixar o segredo escapar. Segurava a boca para não gritar ao mundo o segredo.
Segurava.
Mas era mais forte que ele. Era doloroso ter de suportar aquilo, então chorou.
Decidiu: todos precisam saber.
– Todos, até mesmo Deus, pois talvez nem ele saiba.
E ele gritou, a plenos pulmões, para todos ouvirem, e todos ouviram. Por isso mesmo o mundo entrou em conflito.
Três dias depois tudo havia acabado.

Programa no ar

Tu eras linda, eras majestosa,
Não havia mulher mais formosa.
Jamais havia passado diante de minha visão
Alguém com mais belo corpo, de pura paixão.
Todos te amavam, todos te desejavam.
Era impossível haver homem que não quisesse um pedaço teu,
Certamente, muitos tinham,
Muitos te amaram, se apaixonaram
E contigo deitaram.
Muitos tiveram esse prazer de ter,
Por um momento, a mulher mais linda.
Mas para te ter por inteiro
Era preciso dinheiro.
Por isso agora vago entre cantos,
Buscando um recanto
Para te encontrar, te amar e poder sonhar

Cama de palha

Meu sexagésimo sexo
Tem em mim um pouco de loucura,
Solidão em anexo
Transformada em literatura.
Minha virgindade
Transformada em felicidade,
Em alegria e sempre poesia.
Minha vida diáfana de epifanias,
Divina, sob Sistina.
Em transas de poemas
Transo as palavras,
Lambuzo-me.
Faço, desfaço, crio laços,
Descrio doenças entre nós.
Estrangulo pernas de livros,
Beijo lábios de rimas,
Lambo seios de versos,
Durmo com melodias,
Entrelaço meus braços em letras,
Ejaculo arte, gozo a vida
Nessa cama de palha, imunda de mim

Arte sexual

Esta é a festa do século,
A festa do sexo,
A septuagésima festa,
Festa seca de sacas passadas,
Repassadas, se quer saber.
Sexo de arte, sexo de música,
Teatro, pintura, poesia,
Tudo junto:
Sexo sexual secado
Sem saber se nasce
Sob sóis, sobre somas,
Sobre cenas só ser.
Somente sexual,
Somente anual,
Somente atual

Sendo que eu me perco entre as florestas
e os pássaros me carregam na canção de voar
eu me perco no céu entre flechas,
eu nado no mar de deserto em me afogar.

E só depois, já sem lápis, sem cabeça e sem criatividade
eu me reviro sob o sol esvanecido na própria vaidade
coberto pelo lençol de folhas,
no tornado de águas e aliterações onomatopeicas
sou carregado para depois de tudo

domingo, 8 de janeiro de 2012

Monte vasto

A montanha é grande e alta,
Escalá-la foi difícil,
Mas ela linda.
E aqui estou, aqui ficarei.

Ainda sinto uma saudade
De toda minha infelicidade,
Mas agora estou feliz.
Aqui eu choro, pois posso,
E posso cantar, gritar.
Não preciso de roupas,
Direitos ou deveres.
Aqui eu posso viver,

Mas minha vida aqui é morta;
E em meu dia, como eu queria,
Guardo minha melancolia;
E rio da certeza, da beleza
Desta enorme tristeza.

E de triste, permanece em mim
Um sentimento que por si, inexiste.

Por conviver com a solidão,
Sem mente ou coração,
Sem sentimento ou emoção,
Sem fazer, sem viver.
Eu permaneço em mim, só.
Alimento-me de egoísmo,
A solidão me mantém.
E por querer, agora vou voar
Até o pé desta montanha

Procura-te

Já tentei te encontrar
Em outros lugares por aí,
Não adiantou procurar
Tendo você perto de mim,
Porque aonde vá,
Jamais haverá
Alguém como você.
Só você sabe como
Me fazer.
Só você sabe como
Me fazer feliz,
Só você, só você
Me faz viver.

Te vejo em todos cantos
Com teus dizeres,
Tuas vidas,
Teu amor e teu sorriso.
Eu só te vejo em mim,
Te vejo aqui,
Só você sabe me fazer feliz

Vida verbalizada

Viajar, escrever,
Amar, dizer,
Cantar, viver,
Falar, querer,
Andar, correr,
Pecar, somar,
Bombardear
E ser.
Assim é a vida,
Assim é o viver,
Assim é o mundo,
Assim é o ser,
Assim se faz, como capaz,
Assim é a paz
De jamais perder.
Assim é a dor
De um escritor,
Assim é o amor,
Assim é o ator.
Assim, assim,
Sim, assim,
Assim sim.
Sim