domingo, 25 de março de 2012

São partes de mim que perduram e ficam mesmo depois de mim,
partes que vomito,
ponho no papel cada vírgula dessas coisas,
pontuando com cada verso e dizer, sem formar ou perder,
apenas ponho as iniciativas de loucuras outras novas e desbotadas.
Apenas outras histórias mais indecisas, mais confusas,
sem peles, antenas ou penas.
Rápido apenas
ou lento demais
eu apenas caio

sexta-feira, 23 de março de 2012

São os pontos que me faltam,
as palavras que não sei formar,
as letras que não existem no teclado,
são tudo o que é sem concordância,
sem pensamento e poluído de vírgulas.
É tudo o isso que me faz e me move
a viver,
é essa parte intrínseca de mim
que me obriga a escrever

segunda-feira, 19 de março de 2012

Já nem se sabe se é de suor ou água de chuva
que os corpos estão molhados,
mas estão juntos, se enroscam,
se entrelaçam
sob esse ar abalado
e sujo de mil hálitos.
Os odores se misturam
formando uma redoma de um único cheiro.
Ouvem-se sussurros
- são quase orgasmos
daquela suruba de roupas,
suruba de corpos,
suruba matinal.
Não são necessárias línguas ou dizeres,
já bastam o roçar e o misturar
dos órgãos,
já basta o balançar do ônibus

domingo, 18 de março de 2012

A visão de Atlas

Há um coração que pulsa,
um solo vivo e verdejante.
Há o sangue corrente nas águas infinitas,
há vida sob a terra, há vida sobre o céu.
E são essas árvores os alvéolos do tudo,
suas raízes nada mais são que os vasos sanguíneos,
eternos pulsantes da vida.
É a respiração dos vulcões,
o movimento das placas,
o suar dos céus,
a inspiração dos ventos
que nos inspira a viver.
É tudo isso a fisiologia dum mundo nosso,
eterno, confuso, vivo,
um mundo que ainda pulsa

sábado, 17 de março de 2012

Virtualidade

A realidade já se foi há tempos,
tudo agora é tão virtual que me faz crer 
não ser eu quem vivo em mim,
mas outro.
Vejo esses rostos confusos, 
essas teorias físicas impregnantes,
essas leis recobertas por gaussianas,
estranhamente limitadas a nada
dum tempo sem tempo 
(infinitamente infinitesimal).
Mas o tempo ainda passa,
o tempo continua 
em sua velocidade rasteira e indiferente,
grudada a isso que chamam de realidade

A guerra não acabou

O sangue ainda me escorre pela ferida imunda,
posso sentir a vida fugir-me pelos dedos.
Vejo tudo passando diante do nada que vivi.
Enquanto outros corpos agoniam, gritam, esperneiam,
mas só há sangue
- fétido e impuro -,
o sangue que nos banha e nos abençoa
num batizado verdadeiro e mortal