sexta-feira, 27 de abril de 2012

Plágio

Plágio da vida, da morte.
Plágio de outros ou de mim mesmo,
é esse o meu mundo copioso
copiado de tanto outros mundos
distintamente iguais.
Tudo é o plágio que tenta imitar
o que já foi repetido e será,
tudo é a mesma cópia de um mesmo lugar,
uma mesma poesia

sábado, 21 de abril de 2012

O trem corredor se abre pelos trilhos
e segue meus passos marcados
esbaforindo a fumaça do cansaço,
gritando por apelo e misericórdia.
Pontuando cada ponto da face da terra
oblíqua e refugiada sob a montanha,
acompanhada pelos pássaros e sapos.
Naturalmente da natureza
o trem faz seu caminho anti-florestal
conversando com cada grama,
reunindo cada viagem
à procura de olhos
Eu não sei mais escrever,
perdi a essência que já não havia em mim.
Sé escrevo coisas soltas,
tentando recuperar as outras palavras que perdi,
que repeti.
É a mesma luz negra que me consume desde sempre
e me faz caminhar para o mesmo destino comum,
desconhecido e reconhecível
tão perto, tão longe,
tão forte
(a morte)

domingo, 8 de abril de 2012

Demonstrações de outro nada

Uma parte violenta de mim que jaz há tempos
e me atormenta 
é a única coisa que conheço em mim,
é a única parte do mundo que posso entender.
É essa a mesma parte que ponho esperanças
misturando todas as tristezas e todas as alegrias
de tudo que não pude conhecer ou desconheci.

E apesar de serem palavras palavras diferentes,
todas as palavras provêm do local que não conheço,
o mesmo local que busco a mim e a todas as outras coisas que perdi,
mas só encontro o nada,
o mesmo que já havia ali e eu não vi.

Eu me calo então e busco preencher outro espaço,
mas enquanto só esvazio outros espaços
e resguardo algo que não entendo,
algo que também procrio e recrio.

Sem explicar e sem esperar
nasce num outro horizonte vertical
o isso, o aquilo
e todos os pronomes demonstrativos
que nunca mostraram nada 
e são desconhecidos
do que deveriam representar.

Escrevo então sobre o que não entendo
para não errar 
e não condenar-me
por tudo o que existe,
por tudo o que é triste,
tudo que me faz viver

sábado, 7 de abril de 2012

Meus olhos

Meus olhos são o que me permite ser quem sou,
Minha visão,
Meu pensamento, meu tormento,
Minha vida.
Meus olhos vêem, meus olhos lêem, meus olhos têm um sabor imperfeito,
Se projetam feito planetas fumegantes,
São lunetas lancinantes,
Viciantes objetos.

Na luz meus olhos morrem,
Na escuridão meus olhos cantam,
Cantam esta canção;
Canta esta canção;
Cantam esta canção.

Meus olhos me sujam como poeira,
Me limpam como sabão
E me perseguem a vida inteira  

Éramos seis,
Seis meninos, seis meninas,
Éramos seis mendigos,
Éramos amigos, éramos o perigo.
Fazíamos de tudo, tudo que podíamos.
Tudo era nosso,
Tínhamos dezesseis,
Tínhamos nós,
Éramos sós,
Dependíamos de ser independentes
Dependendo de cada um.
Fomos, somos,
Sempre continuamos em nós,
Sempre fomos isso, sempre seremos.
Estávamos, estamos e estaremos.
Fomos seis, seis pessoas de bilhões,
Seis corações, recheado de ilusões,
Imaginações.
Sonhadores, amadores, bons no que fazíamos.
Demais, muito bons.
Nós, éramos nós seis no mundo.
Um grupo, um time, uma equipe,
Um bando.
Não tínhamos nomes,
Somente irmãos.
Seis sem nada, buscando algo, algo;
Seis cheios de tudo.
Tínhamos amor, arte e poesia,
Tínhamos dor e alegria,
Tínhamos rimas decoradas, inventadas,
Tínhamos poemas, canções, fala e balões.
Vidas seis, sem vírgulas, não parávamos;
Nossos heróis eram os mesmos – morreram todos de overdose,
De AIDS, ou de cirrose.
Educados, lindos, inteligentes, nós:
Somente o verbo ser, amar.
Amávamos algo – o quê?
Amávamos somente, para viver.
Época nossa, ótima época,
Ainda viva hoje,
Temos dezesseis, temos vinte e seis,
Jovens somente, jovens talvez.
Talvez, tudo talvez, tudo.
A incerteza, a certeza, a dúvida,
A música, a literatura, a pintura,
O cinema, teatro: simplesmente.
Assim vivíamos, assim vivemos.
Já nem sabemos se somos um só,
Corpo único ou diferentes.
Mas somos e é isso o que importa.
Um perdido,
Dois felizes,
Três músicos,
Quatro poetas,
Cinco vivos,
Seis atores,
Seis atores, éramos seis,
Cem companhias, cem vidas,
por esse.
Temos dezesseis,
Fomos vivos,
Seremos atores,
Fomos atores.
Vivemos, sentimos, cantamos:
Lemos, escrevemos, voamos,
Atuamos
(seis atores, seis amores)  
Foi no samba ardente
que descobri o que havia
no rock violento
por entre minhas entranhas
inundadas de violões e guitarras.

Neste sol cheio de letras
que vi as notas de outras canções,
clássicas, novas, inexistentes.
Foi na música que descobri
haver um mundo mais do que real
Meus pais nunca me ensinaram qual o sentido da vida,
eu também nunca quis aprender,
nunca aprendi.
Hoje busco muitas outras respostas
além do que não respondi,
busco não saber o  que sei
ou esquecer que lembrei.
Eu prefiro viver
como sou
- mesmo sem razão -,
tentando entender como tudo cabe em um coração

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Havia algo de diferente naquele lugar,
contradizente a todo o resto.
Havia essa parte intangível
que ninguém percebia,
só ele.
Havia algo de errado.
Era uma outra doença, dentro dele mesmo,
que afetava todo o resto
e mudava o mundo imperceptível por qualquer outro.
Talvez fosse isso o que o modificasse,
o que o tornava uma parte indiscreta de si mesmo
e matava todo o resto.

Mas somente a sensação já dava arrepios
e fazia-o afastar de si mesmo
para outro ponto,
um ponto do infinito
do que acabou