quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

We used to say to each other the words just we know
But today we don't recognize that words
And my heart
It doesn't feel you here no more.

There was a child - almost you,
A little child,
And then she...
I see she was who you ever loved
Who you never knew
And then we died there
That night.

It's sad, too sad.
It's as sad as the love that she never felt,
the love that died in her hands,
her little lovely hands

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Não me canso da paixão

Não me canso de, frequentemente, te olhar,
não me canso de, perdidamente, te amar
e ficar aqui, sentado, calado,
te observando, te desejando,
me apaixonando.
Não me canso de ti,
não me canso de nós.
Teus olhos e tua pele que ardem,
teus lábios e teus cabelos brilhosos.
Nosso amor em corpos nossos,
nossa canção em poemas amorosas

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A poluição poética - Capítulo VI, Meus escorpiões

          Tudo trevas, eu acordo, havia desmaiado de tamanha exaustão psicológica, o revólver falhara. Mesmo depois de abrir os olhos eu permaneço deitado naquele chão imundo do banheiro, rodeado pelos fluidos mais fétidos e repugnantes, partes de mim. Passam-se duas horas e meu olhar continua fixo no teto horrível e macabro. Ouço uma voz gritando frases de raiva, de ódio, de palavras inteligíveis. A voz intensificava-se cada vez mais, mais grave, mais próxima, mais - já não é a minha consciência, é algo fora de mim-, é a voz de Carlos. Carlos grita, me chama. Devo abrir a porta para ele, meu corpo continua grudado àquele ambiente insólito. Entendo três palavras apenas, Geni recebeu alta. É o  bastante para me desagarrar daquele estado. A porta, à porta Carlos está eufórico, seu sorriso, seus olhos, todo seu corpo brilha, ele repete: Geni recebeu alta. E antes que perceba, ele já está na cozinha, bebendo água, parece se acalmar. Que alívio, agora finalmente eu e Geni poderemos fazer a merda daquela viagem em paz, Geni não corre mais perigo e o bebê está ótimo. Então, impensadamente, ele me abraça e me beija a bochecha. O ato me traz sentimentos indesejados de ódio, de amargor, penso na Geni que ele me roubou, sinto uma fúria ardente, uma fúria crescente, penso no respeito que ele me tirou, na vida que ele me destruiu. Quase sem querer, como que para me sustentar em mim mesmo, minha mão pousa sobre a mesa, coincidentemente, sobre uma faca e a faca, involuntariamente, se levanta, se ergue, tudo pausa num quadro fotografado, perfeito. Carlos fala: E é amor que há, é..., a última palavra é sugada pelo corte penetrante, furioso. A faca despenca num arco perfeito até perfurar as costas dele, a faca o rasga, sinto ela encostar na coluna dele, eu empurro ainda mais a faca, puxo a faca, a faca dança dentro do corpo de Carlos, o sangue samba, respinga em todas as direções, eu sinto o calor de Carlos em meus braços, sinto o calor do sangue em minhas mãos, sinto o sangue a lavá-las, meu suor se confunde com o sangue, sangue que brinca no chão, rasteja sobre a faca. Ele continua abraçado a mim, formamos agora um monumento de mármore, a palavra solta ainda está pendurada na boca do defunto, quase vivo, quase morto, o espasmo tardio. E solto o corpo de mim, o corpo cai, banha-se na própria vida que é agora morte, vinho. Não penso em absolutamente nada por um curto intervalo de tempo, não penso, não existo, até o som amedrontante de aço sanguinário ecoar pela casa e me fazer perceber toda a merda. O corpo de Carlos, o sorriso mal-formado, os braços formam um abraço invisível, as pernas curvam-se, quase ajoelhadas no ar, os olhos estão fixos no teto, o mesmo teto. Cedo à queda e, encolhido em mim mesmo, observo, agora, além de suor e sangue, há as lágrimas. Não sei o que fazer, não sei como fazer. Eu o matei, matei o amor de meu amor, matei meu último amor. Eu realmente o amava, como nunca amei a nenhum homem, e por isso o odiava. Eu não deveria amá-lo tanto assim. E agora ele não existe, preciso fugir, fugir de mim mesmo. O que fazer com a porra do corpo? O que fazer comigo? O que fazer com tudo? O que fazer? Eu grito, esmurro chão, parede. Me esmurro, me sussurro palavras impenetráveis, palavras irreconhecíveis. Sou um assassino, eu o matei, caralho! Porra! Eu o matei, porra! Fujo, fujo. Fujo do corpo, do sangue, do cheiro, do teto. Tento fugir de mim, fugir do assassino. Corro, corro o quanto posso. Corro. Carro. Carros. Ainda estou banhado em sangue - batizado pela morte -, as mãos pintadas de vermelho, com o cheiro invariável de carne. Na rua as pessoas se assustam, se amedrontam, correm para longe de mim, algumas gritam, choram, desmaiam, alguns homens me perseguem. Corro, corro. É a polícia atrás de mim, droga, eu tenho que correr, tenho que correr. Mas havia uma pedra no meio do caminho, havia eu no meio do caminho. Tropeço no ar como se ouvisse música, tropeço em mim e caio, caio ao chão. Caio. Rolo. Eles me agarram, os policiais me agarram, me algemam, não resisto, não penso. Eu matei uma pessoa. Eu matei Carlos.

Os reinos da poesia

Era um rei que reinava aquele distante reino,
que vivia por entre as mais altas e infinitas montanhas.
Era o rei que tinha em si o tudo de ser,
o rei que era, ele mesmo, a própria lei.

Não foi da rainha que nasceu a princesa,
não foi naquela manhã aclamada e adorada.
Foi antes, foi entre as árvores.
A princesa nasceu duma semente, a princesa estava dentro dum bacuri.
E foi o rei, em suas manhãs de passeio pela floresta, que ouviu o choro abafado,
o choro desencontrado de uma nova era,
era o choro da princesa.
O olhar do rei brilhou, como estrela nova,
o semblante do rei se fez quase sol,
o sorriso do rei foi dos maiores sorrisos, dos mais belos sorrisos.
Estavam todos lá, à frente do castelo, a aguardar o esperado retorno do rei com a nova esperança,
a nova criança.
E já podia se ouvir o choro animador, o choro de amor,
o choro mais bonito de todos choros, o choro-canção, a música mais encantadora.
Não havia, em todo reino, quem não escutasse as lágrimas,
não havia chuva que fosse mais perfeita,
não havia olhos mais fascinantes que aqueles olhos castanhos da princesa.
Como milagre, a rainha tinha em seus fartos seios o leite, o mais puro leite,
o leite que a princesa tanto bebia e se satisfazia.
Foram anos, dois anos, a princesa já corria pelo palácio,
a derrubar coisas, a fugir de outras.
Foram anos, quatro anos, a princesa já falava
e quase cantava, admirava a todos.
Foram anos, quinze anos, a princesa era moça,
moça bela e incrível,
moça talentosa,
não havia quem não se encantasse quando ela tocava harpa, era a mais hábil de todo o reino,
sua voz mais parecia o canto da natureza, o som de toda sua beleza,
e ela pintava, desenhava, parecia, ela mesma, fazer um novo mundo nas telas,
construir um novo tudo em quadros coloridos.
Mas nada era mais triste que quando ela estava triste,
o céu enegrecia com o negro mais negro e dolorido,
as flores murchavam, se dobravam diante as mais ínfimas coisas,
os mares se revoltavam, as ondas se levantavam além das nuvens, engoliam quem se atrevesse a
                                                                                                           [enfrentá-las.
Mas quando estava alegre, o sol nascia com a alegria no mais lindo dia,
as nuvens dançavam alegremente
e o vento cantava junto a ela, cantava as mais impressionantes canções,
admirava aos mais diferentes corações.

E havia o príncipe, o príncipe do além-mar, o príncipe daquele outro reino,
o reino mais obscuro e maléfico, lá era a morada eterna da outra metade da lua
 - feito o símbolo-metade que há na palma da mão da princesa -,
nem as estrelas queriam ser vistas por lá,
as nuvens fugiam,
as árvores se aglomeravam para formar bandos, bandos que sugavam a vida daqueles que
                                                                                                                    [se aproximavam.
E foi ao príncipe do obscuro que foi prometida a princesa do reino entre infinitas montanhas.
O príncipe era, decerto, o mais belo ser na face de todos os bosques existentes,
não havia em todo mar, todo céu e toda montanha quem não se hipnotizasse com tanta beleza,
era de uma superioridade superior a qualquer outra coisa que não fosse ele,
todos os bichos se curvavam ao ouvir seus passos.
E a ele a princesa fora prometida, ela sonhava com os momentos mais poéticos,
sonhava com as fadas que fariam o mais esplêndido vestido a ela,
sonhava com os belos olhos verdes do príncipe, os olhos tão comentados e desejados.

Ela aguardava sentada no salão gigantesco
quando se ouviu o grito quase ensurdecedor do dragão mais feroz,
era o príncipe, certamente.
E era apenas ele que ela tinha em mente.
Ela correu pelo corredor estreito e viu aquele homem estupendo.
Ele brandia a espada num pedido para que os ventos parassem de cantar,
ele não suportava toda aquela pureza, toda aquela beleza do reino.
Quando os olhares se encontrarem havia uma luz própria que brotava dos olhos de cada um,
havia um amor misturado à confusão, uma dúvida misturada a mistério.
Uma lágrima questionável e inesperada desceu pelo rosto da princesa e lhe correu o corpo,
ao tocar o solo, formou-se um ponto enegrecido.
Outra lágrima já lhe corria o rosto quando o príncipe a abraçou e apertou o corpo dela em seu corpo,
ele capturou a lágrima com a mão e um sorriso brotou do seu rosto, um sorriso sem fim e sem começo.

Nem era meio-dia e ele a levou para longe dos pais, para outro reino.
O rei não chorou, mas seu rosto se fez em ódio, nem parecia ser o mesmo rei,
a rainha sorria pelos cantos, quase aceitava tudo aquilo.
Era a guerra, todos morriam ou a princesa se casava com o tal príncipe.
E naquele reino a morte era temida, era o temor maior de todos.
Então era necessário, para viver, entregá-la ao príncipe das trevas.
Mal sabiam como estava ela naquele instante no reino mais que distante,
mas choravam sua partida como se fosse morte, afinal, ela não voltaria, ninguém mais a veria.

Dois dias, dois dias e a princesa já não tinha o mesmo sorriso no rosto,
a pele já não tinha o mesmo brilho encantador,
os olhos já não fascinavam, não encantavam.
O príncipe só a via de noite, de dia havia muito trabalho,
não era fácil tomar conta de toda dor entre as montanhas,
fazer sofrer todos aqueles que naquele reino viviam, cansava.
E por isso, força ele quase não tinha para amá-la,
seus beijos eram fracos, seus abraços mais pareciam obrigação, nada vinha de seu coração.

Enquanto que lá do outro lado das montanhas, o sol não queria mais aparecer,
as nuvens não dançavam mais,
as estrelas quase não brilhavam
e o vento não cantava,
o que fazia das flores a tristeza,
as deixava desoladas, sem vida, sem alegria. (era preciso a princesa de volta)

Foi numa noite negra qualquer que a princesa percebeu:
o príncipe lhe roubava as lágrimas da noite,
as lágrimas lhe eram o prazer,
lhe eram o porquê de viver.
As lágrimas o fortaleciam, lhe obscureciam ainda mais o coração,
dele faziam o ser mais assustador e amedrontador.
A princesa, então, passou a engolir o choro e tentava sorrir,
tentava se alegrar, tentava amar.
E lembrava-se do pai, lembrava-se de seu reino,
das nuvens, do reino, das flores, do sol, das estrelas e de tudo que lhe era a alegria maior.
Foi então que o reino obscuro esclareceu, as rosas murchas e negras renasceram,
se abriram, espalharam as mais diversas cores por todos os cantos,
a lua se fazia quase completa na outra metade
e quase podia-se ver o brilhar do sol por entre os vales aterradores,
as dores eram extintas pelo canto real e sublime da princesa.
O príncipe tinha ainda menos força, desesperado, enlouquecido e fraco.

"Vou te roubar o coração, te necessito a vida para me viver,
para fazer de tudo o horror, a maior e mais dolorida dor".
Os olhos se encontravam num duelo,
não havia paixão, havia ódio e medo.
A espada horripilante do príncipe tocava o peito da princesa e fazia sangrar, fazia deixa de amar,
o sangue corria pelo chão, formava um desenho indecifrável no chão,
fazia se formar um partido coração entre ambos.
E a espada penetrava cada vez mais na carne,
entrava e furava a pele, furava a alma, furava o amor, criava uma redoma de dor e ardor.
E a ponta afiada e mortal já quase encostava o coração da princesa
quando a mais triste das lágrimas saltou do seu olho esquerdo
e sem menos nem mais,
e a espada do reino entre montanhas cortou o coração do príncipe do medo,
sua espada cedeu e perdeu todo contato com a princesa,
caiu e saltitou, dançou, no chão, entre o sangue.
Ele já ia dando o último suspiro
e levantou-se para beijar a princesa,
quando seus lábios grudaram-se ela percebeu quem ele era,
ela percebeu por que tanto o amava
e viu na palma da mão do príncipe a outra metade que lhe completava a metade em sua mão,
era ele a outra parte que ela tanto sentira falta,
era ele seu irmão,
era ele o que sempre lhe faltava no coração,
era ele o necessário da felicidade
que agora era somente vaidade.
Diante de cena tal o rei mal sabia.
"Mate-me, pai".
E o olhar do rei estarreceu, estacionou, estarrificou.
"Mate-me, pai!".
O rei não pensava, não sabia, o rei nem suscitou, parado ficou.
"Ele era a minha eterna metade. Agora já não vivo se não junto a ele.
Parta-me igualmente o coração, meu pai".
E antes que ele percebesse,
ela lhe puxou a espada
e continuou o caminho que antes ela fazia nas mãos do príncipe.
O sangue jorrava, formava um rio, completava o desenho e envolvia os corpos.
Levou tempo até o rei acordar do transe.
Seu grito cortou o próprio vento,
estremeceu tudo no caminho das trevas ao reino, fez as montanhas moverem-se.
E ele caminhou sem onde, sem caminho, sem destino, caminhou.
E ele foi à outra parte que não tinha parte,
foi no caminho, imperturbável. O caminho inseparável e imparável.
O reino das trevas desmoronava, desfazia-se sob seu príncipe eterno.

O rei voltou, o rei já não sorria, mas percebia que agora havia mais duas estrelas no céu,
o sol ainda mais alegre nascia, a lua estava completa, cheia.
E, estupefato, viu o sol e a lua encontrarem-se como dois amantes,
viu as flores cantarem ao vento,
ouviu as mais belas canções.
E os mares revoltos já se acalmavam e eram paz,
eram o que sempre foi o mais,
eram o amor demais.
E em cada coisa
estava a princesa completa,
em cada parte
havia o sorriso mais belo que já se vira,
havia a arte
- agora eterna