sábado, 21 de janeiro de 2012

Pulmões de aço

Ele ainda lembrava do segredo, lembrou por todos os dias, intensamente. Até a lembrança ficar desinteressante. E ele não lembrou, não lembrou durante muito tempo, mas o segredo continuava guardado.
Passou-se dois anos até ele lembrar do segredo. E para onde olhasse lembraria do segredo. Segredo que era muito antigo, mas resistiu. Ele pensou que de tão antigo o segredo fosse mais velho que ele.
E era, o segredo era maior que ele, mal suportava carregá-lo. E agora ele volta assim, sem avisar.
Quem mais sabia?
Ele achou que ninguém mais soubesse, era impossível alguém mais saber. Era preciso uma força sobrenatural para carregá-lo, mas carregava.
E ainda mais essa agora: até a lixeira, o copo, o prato, a torneira, tudo lembrava o segredo.
Ele se segurava para não deixar o segredo escapar. Segurava a boca para não gritar ao mundo o segredo.
Segurava.
Mas era mais forte que ele. Era doloroso ter de suportar aquilo, então chorou.
Decidiu: todos precisam saber.
– Todos, até mesmo Deus, pois talvez nem ele saiba.
E ele gritou, a plenos pulmões, para todos ouvirem, e todos ouviram. Por isso mesmo o mundo entrou em conflito.
Três dias depois tudo havia acabado.

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