terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Caminhada ao nada

Descobrindo as coisas indescobríveis
era que eu aprendia a vida,
libertava os bichos aprisionados
e que ninguém mais via,
só meus dois olhos
recobertos de poeira do tempo
qual meu ouvido afogado
em todos os sons
daquelas quebras entrecortadas
entre o nada interminável
parado no caminho diário,
me esperando para acolher
o silvo do começo de outra vida
da mesma vida igual
na diferença de sempre em nunca
quando controlo sedento
o pasto febril de verde,
remontando o sorriso
do passado, relembrando o presente.

O peso sufocável da mala
ainda me faz parar de metro em metro
desembarcando os vermes antigos,
vermes de outro corpo
que tentam sugar as palavras
perdidas e reencontradas
da tristeza de não as ter.

A janela fechada que se abria,
ainda com trancas,
mostrava as pétalas remotas
de outro jardim - quase o mesmo.
As pétalas de flores e rosas
fugitivas do sol vadio e rei.
O sol formado por todas as luzes
criadas na janela das pétalas.
Quando na estrada dum lugar
que já não sei qual é,
sustentado por estas pedras imundas,
estas pedras mesmas que o afundam.
Sinto o cheiro dos bafos
em panos de hálitos,
tecendo-se do desconhecido e inconformado.
O tecido que se repete, repete o repetido,
tornando ainda o inverso diferente
em um fim inicial, confuso
mas tangível.
Em dedos, que, na falta do afável,
encontravam o tocável
e sentiam o quê ninguém escutava
nem sentia nem via nem cheirava
nem provava
da mesma prova
que agora me testo rapidamente
para não chorar
e vomitar as palavras
com algum retorno de sentido,
alguma asa poderosa
sentida e entendida por todos
e mesmo pudesse despentear e guardar uma pena
para escrever acrósticos
respondendo tudo,
não deixando rastro sequer
do que já fui eu,
do que já foi palavra

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