domingo, 1 de julho de 2012

Sonhos de nós

        Foi quando acordou que percebeu o sangue escorrer pelo seu braço, a sala estava escura, mas era possível enxergar o brilho sanguíneo.Buscou uma porta, uma saída, uma fuga, não encontrou. O sangue ainda pingava. Ofegava. Tentou lembrar-se de algo, não lembrou. A respiração acelerava. Agonia. Lembrou: "A falsa baiana quando entra no samba, ninguém se incomoda", a voz desafinada, o violão. Luzes acenderam-se, os olhos ardiam. "Biana é aquela que entra no  samba de qualquer maneira", abriu os olhos, a sala estava suja, velha. Havia uma porta, estava trancada - não havia números, palavras ou chaves, somente uma fechadura. Dor, dor de cabeça: fechou os olhos e desmaiou.
        Enquanto acordava, escutou:
        - Bom dia, flor-do-dia. Vamos fugir para outro lugar, baby.
        - Bom dia, ando tão confuso, ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar.
        - O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.
        Beijaram-se, de lábios, de línguas, abraçaram-se.
        - Entre no meu carro, nós vamos rodar.
        - Seremos passageiros à noite.
        - Passearam, beijavam-se nos engarrafamentos, cantavam nos sinais. Mas continuava confuso com o sonho, continuava a perguntar-se, ainda tentava lembrar de algo.
        Continuou tentando lembrar até esquecer de lembrar e estar na cama. Eles brincaram, namoraram, transaram. Como dois animais sedentos de carne, suaram, comeram.
        Sonhou de novo.
        Viu corpos despedaçados, via braços de um casal norueguês, via-se em um espelho, sem braços, somente com um único olhos. Via seringas, sangue, gritos. Sentia o tempo passar, sentia um prazer tortuoso, não entendia, não se reconhecia.
        Quando acordou o sonho continuou.
        - Eu matei uma pessoa.
        Sorriso.
        - Eu renasci o amor.
        Aproximou-se para beijar.
        - Estou falando sério, a polícia deve chegar em dois minutos.
        - Então ainda temos tempo de sonhar mais e acordar depois.
        Um choro, soluços; um abraço: Dois  minutos: A polícia tocou a campainha. Continuaram abraçados. A porta caiu. A polícia entrou. Foram algemados, levados. Dessa vez não acordou
        

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, critique: