sábado, 20 de outubro de 2012

Nada além de nada

Hoje me deu uma vontade imensa de escrever
desesperadamente e impossivelmente,
escrever continuamente em linhas tortas,
em ideias mortas,
escrever em versos imaginários,
escrever em adjetivos vários,
escrever em lucrativos pedaços
os laços que me ligam a algo
que nunca entendo, nunca emendo e nem mesmo escrevendo sei o que é,
o que nunca sei se é ou não é.
Eu preciso continuar, sem parar, cantar sem falar,
amar sem necessitar, lembrar com o esquecer,
eu preciso escrever.
E as palavras me pesam, me torturam,
as palavras me perseguem,
infernizam meu inferno eterno,
criam problemas inexistentes e persistentes
numa lógica paraconsistente, uma lógica moderna.
O poema me sangra,
o poema chora e me afogo nas lágrimas densas, concentradas da poesia
que de nada tem a alegria obrigatória e nego, me desapego do que já sei como o que nunca saberei.
Absolutamente sou nada na madrugada perpétua de escrever,
absolutamente nada sou na madrugada imortal de viver,
perpetuamente sofro na solidão de ser,
obrigatoriamente me alegro na esperança de morrer.
Tudo me serve apenas no resumido documento ilegal:
a não-ciência, a displicência duma consciência sem experiência.
Se escrevo ou se vivo não é por querer,
não é por amar,
é por precisar, por ser dever.
Feliz não sou,
pareço apenas
- justamente por não o ser,
justamente por não poder.
Enlouqueço-me nos períodos que não se anexam,
nos sentidos que não se completam
e se detestam.
Me ponho em meus ossos como se não houvesse músculos
que se retesam,
como se houvesse sangue apenas,
sangue que é o sentimento de não saber o que é ser
e querer viver como se não existisse o morrer,
como se só existisse o escrever,
tento não ser o que tanto preciso ser,
viver como sempre quis viver,
mas a conjugação verbal me retorna ao estado infernal que tanto me ponho,
ao que tento tanto escapar e inutilmente fugir para o meu próprio lugar,
ao que tanto quero te falar e precisamente cair em tua cama de amar,
esse vão que não te entendes
e te adora em teus momentos tão nossos,
tua qualidade inigualável,
tua necessidade incomparável de querer uma outra pessoa,
uma outra coisa que destoa
nessa confusão a que se segue o nosso eu,
pois sou o que és em mim,
és o que sou em ti.
Da obviedade te mostro toda complexidade virginal e marginal
do que é intocável a nossas pequenas mãos,
intolerável ao nosso coração embalado pela canção
inundada pelas oxítonas sensitivas,
as paroxítonas amorosas
que nos permeiam nessas proparoxítonas comestíveis
(as irregularidades irresistíveis e invisíveis dos verbos
gravados na madeira do lugar que nos encontramos tão desencontrados).
Não é voluntária minha decisão de me entregar e confessar
a necessidade de viver na consequência constante de escrever

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