sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cegamente

Atrás de cada porta de cada casa há um caso,
sobre cada coisa torta há uma outra vitrina
a refletir a menina que foste, a menina que nunca soube patavina,
a menina a quem tanto chamei Marina.

Atrás de cada mulher há uma vida tão máscula
quanto feminina à vida de cada homem em sua cápsula,
como cada cor de artigos sem cláusulas.

E sob o mar há um surreal aquático céu
tão sonhado pelo garoto que tanto chamaram Gabriel,
o garoto de mãos sujas de graxa,
à procura do que nunca se acha.

Dentro de cada nuvem há palavras que surgem e rugem selvagemente
em direção à todas selvagens mentes obscuras, obtusas,
mentes que buscam desentender a única possibilidade de entender
para tentar viver sem sofrer,
como se houvesse alguma esperança de não morrer
ou morrer já criança, sem esperança.

Em toda essa água esverdeada
há, reservada, uma mágoa azulada
para cada órgão que não possa
onde posso.

Em cada beco vejo a ânsia por (noutro coração) solidão,
e é isso que me peço, impeço um outro recesso meu,
não perduro, não perdoo nenhum perdão,
nenhuma recessão, nenhuma concessão.

Nesta terra planto cada tormento
para colher um único pensamento,
me invento entre as rachaduras de rochas,
me incendeio no solo solar - em suas tochas.

Repito o mesmo grito num desejar invicto,
me refugio nos seios desta mata que me mata e cala a mente
num refringente apetite indulgente
que me controla e assola meu corpo
na redoma de ser esse bioma de escrever

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