sexta-feira, 1 de junho de 2012

Guitarra frenética

"Eu preciso voltar para casa", preciso retornar ao que era meu. E todos esses ossos que me compõem parecem não ser nada, são traços desprezíveis e indesejados na tela a que chamamos de mundo. E é só mais isso que me faz sentir um pouco humano e muito inexistente. É a falta de calor, o desejo da carne que me preserva. O não entender faz parte do entendimento de mim, e eu próprio esqueço de pensar novos pensamentos. Os pensamentos que já pensei são preservados pelo vento, são levados pela maré do existir. "Volte para casa", minha voz grita para fora do espelho. O dedo está no gatilho, o corpo quer partir, a alma quer ficar. Eu me calo. "Aperte o gatilho", o gatilho pesa como nunca pensei. "Atire, aperte o gatilho, esse é o seu fim, já acabou", a coragem eu não tenho, a loucura transborda. Procuro, por todos os lados, algo para eu me segurar, não há nada, seguro a mim mesmo e caio. Caio ao infinito, não sinto nada que deveria sentir, não ouço meus próprios gritos, não sinto minha própria pele. Já não existo, só caio, meu sangue já não corre. A guitarra frenética não para de tocar a mesma música inevitável, como uma guerra eu luto contra tudo que fui, mato tudo que serei e me deixo. Então fecho os olhos para abri-los em um outro lugar quando acordar.
Quando acordo é tarde demais, já caí tudo o que tinha que cair.

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