sábado, 31 de dezembro de 2011

Novo ano, nosso ano


Desejo um ano de emoções,
um ano de invenções, de amizades,
banhado de felicidade,
talvez até de decepções.
Um ano em que se faça novos amigos,
que tenhamos inimigos,
que nos ensinem a viver,
nos ensinem a perder.

Um ano feliz, às vezes triste, 
um ano diferente,
um ano melhor.
É um ano assim que será
esse ano,
nosso ano.

Seremos nós mesmos,
seremos uma só aliança de esperança,
teremos nossas próprias crenças,
respeitaremos, amaremos, viveremos.

É esse ano que tanto espero,
esse ano que todos viveremos,
um ano em que todos renasceremos

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A barreira do amor

Não é qualquer barreira
Que destruirá esse amor,
Amor para a vida inteira.
É certo que haverá a dor,
Mas não será isso
Que irá nos separar.
Nossa força é de amar

O amor é forte e vence,
Vence as barreiras,
Vence os limites,
Vence a morte,
O amor é forte 

A distância do amor

O amor há de nos juntar
Mesmo a milhões de quilômetros
Ainda haverá força de amar.
Nada poderá impedir,
Nem tudo impedirá.

Esta paixão há de durar
Por infinitos anos,
Este amor há de estar
Por milhões de quilômetros

Antitético

Eu só existo com as palavras,
Só respiro quando escrevo,
Sem poesia não há eu,
Sem palavras não sou

Revolução
Reinvenção
Replicação
Repasso
Retrato
Recado
(cada
Trato
Refeito)
Remorso
Reforço
Recomeço
Reino
Regras
Régua
Relva
Relance
Relinhagem
Relinguagem
De uma imagem
Representada,
Um Rei

Possibilidade impossível

Tudo é impossível,
Tudo acontece,
Por isso é provável
E imprevisível
Que o possível
Venha querer ser impossível,
Mas nada é possível
Sendo que nada acontece
E é improvável
E previsível
Que o impossível
Se multiplique
Para o invisível
Além do possível, do visível,
Ver o impossível
É mais natural
Que ter o possível
Diante de si,
Do doce sal

Cena encenada

Minha mão não para de escrever,
Minha boca não para de cantar,
Meu coração não para de bater;
Meu ouvido não para de ouvir,
Meus pés não para de cair.
Meus olhos não param de ver
E meu rosto não para de mentir,
Enquanto meus lábios não param de rir.
Minha cabeça não para de pensar,
Pois meu corpo não para de atuar

Disléxico e rebelde

Já nasci assim, sem querer,
Nasci disléxico e analfabeto,
Sem saber escrever.
E até hoje continuo com essa rebeldia
De escrever o que não sei,
Como não sei, sobre o que não sei,
Ainda convivo com a dislexia,
Ainda sou eu preso por mim,
Livre na poesia 

Mais um poema qualquer

Já fiz poemas,
Mas nenhum tão verdadeiro,
Nenhum tão incompleto,
Inverso de inteiro, completo,
Agora descobri o que é amar,
Só agora aprendi a cantar
E só com você
Aprendi a escrever
E só perto de você
Quis e fiz, aprendi a viver.

Meu amor, não há dor
Que se compare à dor de estar longe,
De não poder ver você,
De saber que nunca poderia viver
Se estiver longe do meu coração
Encarnado nessa paixão.

Você é tudo, perfeita, verdadeira,
Você é completa, inteira,
Queira ou não queira,
Eu vou continuar te amando,
Vou te amar por toda minha vida,
Pela vida inteira.

E esse amor, sem você, é só dor
E não há dor que se compare a dor de estar longe,
De não poder ver você
E saber que nunca poderei viver

Nós, nosso tempo

Tanto tempo passou e não percebemos
O que aconteceu, o que ficou,
O que fizemos, o que viveu.
Mas permanecemos aqui, assim.
Dentro de um começo sem fim.
O nosso amor ainda grita,
Essa paixão ainda nos dita
E nos faz de tudo, o vazio
Nos preenche em sua alegria,
Em perigo, como pólvora de barril
Que enfraquece em cada tormento
E pode explodir a qualquer momento 

Metamorfoseio-me

Eu sou o mesmo, o mesmo de sempre
E nunca mudei,
Sempre amei e encarei.
Mas eu mudo a cada dia,
Sou metamorfose, me transformo na poesia.
Metamorfoseio-me para permanecer igual
E continuar imortal

Tentei viver sem você


Tentei dormir, não consegui,
Me sinto só, sem tudo,
Minha mente não é minha,
Meu coração já não bate por mim,
Meu coração bate por você,
Mesmo querendo esquecer
O amor ainda está,
Você ainda é meu amar,
Já não posso mais esquecer,
Preciso de você para viver,
Posso cantar, escrever,
Mas nada tem sentido
Sem você,
Se não te tiver
Não posso viver.

Minha cama me sussurra,
Lembra-me da tua pele;
Meu espelho grita,
Lembra-me do teu sorriso;
Minha blusa canta,
Lembra-me do teu perfume.

Mas meu navio não zarpará
Se eu não puder amar,
E eu sei que meu amor
Só acontece com você,
Então me faça o favor de falar,
Pois já não consigo mais cantar

Without you

Eu não consigo dormir,
Não consigo existir
Sem te sentir.

Só consigo cair,
Mas levantar é impossível,
É impossível levantar
Se é impossível te amar.

Eu não consigo comer,
Não consigo viver
Sem você.

Só consigo me perder,
Mas me encontrar é impossível,
É impossível me encontrar
Se é impossível te amar.

Eu não consigo cantar,
Não consigo falar
Sem te amar.

Só consigo parar,
Mas continuar é impossível,
É impossível continuar
Se é impossível te amar.

Eu não consigo,
Sem você é impossível

Se fosse você

Você não é amado,
Você não é lembrado,
Você não é querido,
Você não tem ninguém,
Ninguém gosta de você.
Você não está
E é incapaz de amar.
O que você faria?
O que você faria se fosse assim?

sábado, 24 de dezembro de 2011

Ouçam, vejam, sintam (baseado em texto bíblico)

Surdos, escutem e ouçam;
Cegos, olhem e vejam.
Não há cego, senão meu servo,
Ou surdo, senão o mensageiro.
Você viu muitas coisas e não percebeu,
Ouviu muitas coisas e não entendeu,
Viveu muitos dias e não viveu.
Quem de vocês escutará?
Quem de vocês entenderá?
Quem de vocês viverá?
Quem de vocês escutará
E prestará atenção para ouvir daqui por diante?
Quem entregou Jacó ao saque?
Quem entregou Israel ao despojo?
Não foi Javé, não foi.
Javé, contra quem vocês pecam,
Não andam em seus caminhos.
Javé despejou sobre todos
Todo o ardor de sua ira,
Todo o furor da guerra.
As chamas dele os rodeavam,
Mas eles não compreenderam.
Eram queimados, mas nem fizeram caso

Minha escada, meu caminho (ao som de “Stairway to heaven”)


            Uma tarde triste e monótona como qualquer outra. Uma tarde ensolarada e quente. A sorte é que há uma macieira, onde pode esconder-se do sol.E era nesse lugar onde estava, escrevendo este texto.Mas já é tudo tão normal e igual, há tempos que é assim.
Então se levantou e começou a caminhar.
Caminhou para o caminho contrário, não importava onde daria, o importante era seguir o sol. O sol batia em seu rosto e fazia brilhar o cabelo loiro. Pensou em voltar, mas não voltou. Continuou seguindo o horizonte. O horizonte causava certo desejo intangível, inefável.
Passaram-se horas, mas ele continuou. A paisagem agora já era outra. Tudo estava diferente, todo o sentimento. Era uma sensação perfeita. Pela primeira vez um sorriso apareceu em seu rosto e pensou que agora pudesse ser feliz, feliz de verdade. O sol já não era tão forte, agora ventava. O vento tinha um aroma de alegria e vida. A vida melhorava, pensou até em parar ali, para apreciar, mas não podia.
Mais a frente viu os campos verdejantes. O sol partiu, para dar lugar à lua. As estrelas ali eram visíveis, pareciam olhos, pareciam piscar para ele, dizendo: “E aí, garotão! Não quer dar uma volta?”. Esse chamado dava-lhe vontade de voar. Mas agora não é hora de voar, ainda há muito chão a ser pisado.
A noite fria e cansativa só não enjoava por que as luzes das estrelas eram belas, os brilhos eram oníricos. Os olhos pesavam como elefantes quando o dia amanheceu e se viu em meio a uma estrada deserta.
Veio um desejo de gritar, gritou. Veio um desejo de dançar, dançou. Veio um desejo de cantar, cantou. Veio um desejo de parar, continuou.
O cansaço era infernal depois de três dias. E a fome. A fome era infinita, mas era amenizada com algumas maças colhidas ainda há pouco.
E a música: continua.
O passo já não era veloz, era lento. Os olhos pesados. O coração já não se alegrava, se cansava. Decidiu, por isso, correr para não morrer, ou para morrer. O corpo pedia: PARA. O coração gritava: CORRE. Correu o quanto pôde, chegou na cidade, todos o olhavam, olhavam seus cabelos, sua barba. Prosseguiu. Correu, cantou, amou e correu, quase morreu, correu.Chegou à beira do mar.
Parar?
Não, não podia.
Nadar?
Sim, isso ele faria.
Pulou, caiu no mar e pôs-se a dar braçadas ignorantes. Há anos não entrava na água, nunca havia visto o mar – nem sabia se aquilo era mesmo mar –, nunca havia nadado. Mas nadou durante semanas. Comia a única coisa que havia para comer, comia somente peixe.
Chegou à terra firme. As pessoas lhe faziam perguntas sem sentido, ele não entendia o que falavam, ignorava. Voltou a correr. Andou, correu, escalou, nadou, cansou. Cansou dos verbos. Sabia de apenas uma coisa: era preciso seguir.
Foi.
Ele estava sim feliz, mesmo com todas as dores. Mas se corria pela felicidade; por que tudo aquilo? Ele não precisa mais prosseguir, já tinha o que queria. Por que agora a certeza da dúvida já havia ido, tudo havia ido. Ele não alcançaria – ou já alcançou –, mas não precisava correr. Não precisava daquilo, não precisava de nada, nada.
Parou então embaixo da primeira sombra que encontrou, sentou. Sentiu-se morto. Viu-se embaixo daquela macieira, a mesma. A música. Cantou, continuou, contou. Uma tarde triste e monótona como qualquer outra. Uma tarde ensolarada e quente. 

Um cântico novo (baseado em texto bíblico)

Cantem a Javé um cântico novo.
Louvem-no até os confins da terra;
Celebrem o mar, o ar, tudo que nele existe,
A terra, a ilha com seus habitantes.
O deserto e suas cidades se alegrarão,
Exaltadas todas as aldeias habitadas por Cedar;
Moradores de Petra aclamarão e gritarão
Lá do topo das montanhas.               
A Javé será dada toda glória,
Anunciarão seu louvor nas ilhas.
Javé vem, Javé avança como um herói,
Como guerreiro acende seu ardor;
Solta gritos de guerra,
Mostrando-se ainda mais forte
Contra seus inimigos 

Rico sem dinheiro

Eu tenho ao certo a medida do infinito,
Tenho em minhas mãos a quantidade mínima de saudade,
Trago em meus pés milímetros de vaidade
E tenho litros do pensamento verdadeiro,
Mas não tenho nenhuma moeda de dinheiro

Vivo ainda sempre (baseado em texto bíblico)

Há muito permaneci calado,
Agüentei, permaneci parado.
Agora vou gritar como uma mulher,
Uma mulher que dá à luz.
Querer você não quer,
Mas carrega a cruz.
Vou gemer e suspirar,
Com as montanhas acabar
E as colinas destruirei,
Com todo verde acabarei,
Rios e lagos secarei.
Guiarei os cegos por um caminho,
Caminho por eles desconhecido,
Uma estrada ou algo parecido.
Então fá-lo-eis beber o vinho.
Transformarei as trevas em luz,
Os caminhos de pedra em plano,
Isso por todo e todo ano,
Debaixo dos céus azuis.
Eu farei tudo isso, deixarei de fazer;
Eu jamais deixarei de viver


Ah, Aquele poeta!

Ele era, de verdade, um poeta;
Com suas letras, seus poemas,
Ele era, literalmente, feito de palavras,
E por ser formado de palavras,
Era fraco, quase fracassado,
Mas isso quando as palavras estavam soltas.
Era forte, como ferro, feito de ferro,
Quando suas palavras dançavam,
E dentro dele faziam uma fogueira
Para fora dele.
Ele era seus poemas,
Não havia diferença entre ele e os poemas,
Eram idênticos,
Cada um, um auto-retrato.
Ah, aquele poeta
Era lindo, eu o amava,
E que não amava?
Aquele jeito de escrever,
Aquele jeito de falar,
Aquele jeito de dançar.
Ele era único e repetido,
Ele está perdido,
Eternamente perdido

Os seis mosqueteiros

Éramos seis,
Seis meninos, seis meninas,
Éramos seis mendigos,
Éramos amigos, éramos o perigo.
Fazíamos de tudo, tudo que podíamos.
Tudo era nosso,
Tínhamos dezesseis,
Tínhamos nós,
Éramos sós,
Dependíamos de ser independentes
Dependendo de cada um.
Fomos, somos,
Sempre continuamos em nós,
Sempre fomos isso, sempre seremos.
Estávamos, estamos e estaremos.
Fomos seis, seis pessoas de bilhões,
Seis corações, recheado de ilusões,
Imaginações.
Sonhadores, amadores, bons no que fazíamos.
Demais, muito bons.
Nós, éramos nós seis no mundo.
Um grupo, um time, uma equipe,
Um bando.
Não tínhamos nomes,
Somente irmãos.
Seis sem nada, buscando algo, algo;
Seis cheios de tudo.
Tínhamos amor, arte e poesia,
Tínhamos dor e alegria,
Tínhamos rimas decoradas, inventadas,
Tínhamos poemas, canções, fala e balões.
Vidas seis, sem vírgulas, não parávamos;
Nossos heróis eram os mesmos – morreram todos de overdose,
De AIDS, ou de cirrose.
Educados, lindos, inteligentes, nós:
Somente o verbo ser, amar.
Amávamos algo – o quê?
Amávamos somente, para viver.
Época nossa, ótima época,
Ainda viva hoje,
Temos dezesseis, temos vinte e seis,
Jovens somente, jovens talvez.
Talvez, tudo talvez, tudo.
A incerteza, a certeza, a dúvida,
A música, a literatura, a pintura,
O cinema, teatro: simplesmente.
Assim vivíamos, assim vivemos.
Já nem sabemos se somos um só,
Corpo único ou diferentes.
Mas somos e é isso o que importa.
Um perdido,
Dois felizes,
Três músicos,
Quatro poetas,
Cinco vivos,
Seis atores,
Seis atores, éramos seis,
Cem companhias, cem vidas,
por esse.
Temos dezesseis,
Fomos vivos,
Seremos atores,
Fomos atores.
Vivemos, sentimos, cantamos:
Lemos, escrevemos, voamos,
Atuamos
(seis atores, seis amores)  

Violão de cinco cordas

Atrás da porta do meu quarto,
O tempo parece não passar,
O tempo não parece mudar.
Estou sozinho, sem o meu amor,
Só não tão só pois a solidão me tem

Feira de feriado

Há essa força que se põe a me desfazer,
Em minha inocência fútil,
De mim, imprestável;
E eu que pensava roubar apenas,
Pensava que roubava somente frutas da feira,
Mas roubava minha própria infância
E com vidas alheias
Eu comprometia minha vida inteira

Meus olhos

Meus olhos são o que me permite ser quem sou,
Minha visão,
Meu pensamento, meu tormento,
Minha vida.
Meus olhos vêem, meus olhos lêem, meus olhos têm um sabor imperfeito,
Se projetam feito planetas fumegantes,
São lunetas lancinantes,
Viciantes objetos.

Na luz meus olhos morrem,
Na escuridão meus olhos cantam,
Cantam esta canção;
Canta esta canção;
Cantam esta canção.

Meus olhos me sujam como poeira,
Me limpam como sabão
E me perseguem a vida inteira  

sábado, 17 de dezembro de 2011

Nuvens de papel

As palavras estão empilhadas,
Os poemas se sustentam
Sobre si mesmos,
Sobre essas palavras cruzadas.
Nos papéis do livro,
Formo aviões de papel
Formados por pedaços do céu,
Formados por palavras.
Planto as sementes da gramática,
Mas as deixo murchar,
Não as deixo durar.
Continuo vivendo e buscando,
Em cada ponto do caminho procurando,
Qual estrela é o futuro da noite,
Em qual nuvem Deus se esconde

Meu sonhar, meu penar

Vivi em meus sonhos
O que havia para ser vivido,
Passei por lugares risonhos,
Me tornei o meu preferido.
Sendo assim uma ilusão,
Vivendo minha vida: alucinação.
Acordar – já não quero –
Para ir a uma vida que não voltei,
Para voltar e votar ao zero,
Mas não posso ser hoje o que amei.
O meu amanhã foi ontem que será,
Que terá, a essência de não ser 

Quero linhas, não versos

Eu quero escrever parágrafos,
Quero fazer textos em prosa,
Mas as estrofes me prendem,
Os versos me obrigam a escrevê-los
E faço o que me mandam,
Ponho as palavras como eles querem.
Queria um conto, uma crônica,
Um romance, algo assim.
Mas a poesia não permite,
A poesia me sufoca
Quando escrevo parágrafos,
A poesia me violenta
Quando ponho ponto final

Sky

Olhe para o céu e veja:
Quantas estrelas o furam,
Quantos sóis o matam,
Quantas nuvens o sufocam,
Quanta fumaça o embebe.
Quanto sofre o nosso céu
E ainda assim tem forças
Para permanecer acima de nós

Urbanização

Eu tinha vinte e seis reais na carteira
E umas moedas.
Tinha uma vida, um sonho.
Dentro da carteira tinha uns poemas,
Tinha uma vida,
Tinha eu.
Na minha carteira havia orações,
Declamações, corações,
Na minha carteira havia minha vida.
Eu tinha uma carteira,
Mas fui roubado

Ainda criança idiota sempre

Eu ainda criança,
Eu idiota, cheio de esperanças
E rimas infantis.
Eu analfabeto,
Eu ainda virgem de mundo
E de vida.
Eu escrevo de tudo,
Eu sem eu;
Eu perdido em encontros,
Pedindo preces e desencontrar,
Eu querer voar,
Mas não saber conjugar.
Idiota eu.
Sozinho eu.
Louco eu.
Três amigos em coração meu?
Dois destinos que se perdeu;
Um moinho que vou eu;
Metade do que sou eu

A verdadeira mentira

É a verdade que nos falta,
A mentira que nos forma e corrói,
As lembranças de uma data,
A vontade de querer ser herói.
Vamos vivendo assim, com invenções,
Vamos nos deixando em corações,
Vamos sendo e querendo poder,
Vamos tentando o impossível de viver

domingo, 4 de dezembro de 2011

Nossa literatura nos aviva

É o meu lápis que se quebra,
Tua folha que se rasga,
Nossa letra que rasura,
Da poesia deles que nos copia
Deste livro que nos aviva, que nos aviva

Pernas

Sentado em uma cadeira, olhando para dois portões separados por uma parede e cobertos por uma espécie de lona, impedindo a entrada de olhares transeuntes.
            A mesma lona permitia-lhe ver apenas as pernas dos que passam, e as crianças – somente as crianças podiam ser vistas de corpo inteiro (se estivessem no chão).
            Ouvia uma música.
            Observava os passos apressados, os passos envelhecidos e vagarosos, os passos tranqüilos.
Pernas jovens, adultas, nervosas, violentas.
Sapatos pretos, azuis. Sandálias, chinelos, tênis, tamancos.
Brancos, negros.
Era engraçado como alguns casais tinham sintonia, passeando no mesmo ritmo, mesmo passo, escolhendo o mesmo lado.
Tão engraçado quanto, mas nem tanto, era como eram tratadas as crianças, seguradas pelos braços, puxadas, empurradas, e a forma como o olhavam.
Ele era como invisível e só as crianças o viam, elas ficavam a olhá-lo, paravam, seguravam na grade do portão. Ainda que os pais continuassem a puxá-las. Vamos, venha, venha logo, ou você vai apanhar. Elas continuavam segurando a grade.
E ele retribuía aquele corajoso gesto dos pequeninos com um sorriso, o mais belo que pudesse dar.
Voltava a ouvir a música.
Ainda pensando.
Os pais faziam aquilo, como para descontar a raiva que tinham, que sentiam de si mesmos, do mundo.E então, por isso, sentiam raiva dos filhos.
Os filhos eram algo que nunca devia ter acontecido, mas aconteceu. Pelo simples fato de que, em meio a chuvas de frases amorosas (calorosas), fizeram sexo. E por isso batiam nos filhos , como se tivessem culpa de ter nascido.
A música continuava. Ela não parava.
Ele não parava.
Viu mãos dadas e percebeu que as donas das mãos eram de seus pais.
Pai? Mãe?
Correu até o portão, agachou. Não, não eram seus pais. Por que voltariam agora, se já há seis anos haviam saído para passear e nunca mais voltara?
Voltou à cadeira e sentou.
A música continuou.  
Sim, estou Louco
Ou sou Louco
Estou feliz
Tão triste
E sem alegria
Correndo atrás do dia
Enlouquecendo na poesia

Mas sou louco
Só por ser louco

Nada mais




Perfeita dimensão

Somos seres sem coração
Vivendo em outra dimensão,
Tentando salvar sua geração
Sem fazer alguma ação.
E encarando a realidade
Com muita imaginação
Sem alguma felicidade,
Crendo no que está vendo:
O destino mais horrendo;
E desacreditar em tudo
No que está havendo.
E tornar-se mudo,
Por isso a sociedade
Que tem muito medo
Da nova pura verdade.
E ainda muito cedo
Protege a mentira,
Sempre escondidos na mira,
Sempre perdidos na ilusão

Sempre estará aqui, amando

Não importa o que eu seja
Não importa o que eu faça
Não importa o que eu veja
Pois tudo passa
Menos você
E o desejo de te ver
Não importa o que eu pensar
Pois sempre vou lembrar
Do desejo de te abraçar
E sempre, sempre vou amar
Posso agora me afogar
Afogar-me em qualquer mar
Mas estarei pensando em você
Vai ser impossível esquecer
Tua beleza estará gravada em mim
Sempre estará gravada, sempre assim

Quando te encontro, me perco

Quando estou com sono
E lembro de você,
Perco o sono.

Quando estou com fome,
Lembro de você
E perco a fome.

Estou com frio
E quando lembro,
Esquento.

Mas quando tenho sonhos
Em sonho
Quanto mais lembro de ti
Mais sonhos tenho
Menos sonhos tenho
E em vida
Quando estou perto de mim
Vejo que sou nada mais
Muito menos
Que um simples ser apaixonado
Um simples ser abandonado
Cuidado por alguém
Tão linda e perfeita

Quase caio

Poesia é mais que um lindo dia
Mais que uma certeza
Está acima do bem
Acima da beleza
Além do que é mortal
Além do que o mal pode oferecer
Além do que se pode ver
Poesia não é nada
Poesia é muito mais
Poesia é tudo
Na poesia nada se faz
Tudo está feito
Em um abstrato universo
Onde se vivem versos
Poesia é pura, única
Poesia não se lê.
Poesia é para sentir
Poesia é para viver
Poesia é poesia

05 de junho de 2013

Estou me vestindo. Quando termino de me vestir já são 21:49, saio de casa às 22:10.
            Já descobri algumas coisas a seu respeito, em uma semana. Ela trabalha como babá em uma casa do bairro mais nobre da cidade, sua mãe de noventa e sete anos está internada em um hospital prestes a morrer, sai de casa todos os dias às 05:20 e volta às 23:00.Sempre pega a mesma linha de ônibus.
            Quando subo no ônibus ela está lá, sentada, talvez procurando algo em sua bolsa. Sento-me no assento atrás dela, ela não percebe minha presença. Meu Deus, é tão linda; seus cabelos loiros são os mais lindos que já vi, parecem imitar a luz do sol. Seu rosto mais parece de um anjo. Sua voz tão suave tem a mesma calmaria da brisa do anoitecer.
Não sei como pude chegar a esse ponto de amar tanto alguém. Tenho muitos ciúmes dela, seria capaz de puxar a arma e atirar na cabeça do rapaz que está ao lado dela, pelo simples fato de estarem tocando as pernas por acaso. Ela continua mexendo na bolsa.
            Retira da bolsa um celular e atende-o. “Alô, calma amor, já estou chegando”. Amor? Não pode ser, ela tem um namorado?
            Ela levanta, e nesse instante seu braço toca o braço do rapaz. Também levanto e sigo-a, desço apôs ela. Continuo seguindo-a até sua casa. Chegando seu marido espera-a em frente a casa.Silêncio. Basta um olhar e começa a chorar junto a ele. “Não, não”, grita em prantos, “não a mamãe, não”. “Calma, vai ficar tudo bem”, ele tenta consolá-la e abraça-a, “nós já sabíamos que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde”.
            Apesar de estar inerte, sinto uma enorme fúria, afinal ela não poderia ter um marido, e ele não podia abraçá-la daquele jeito.
            Ficam ali, durante quinze minutos, depois entram em casa. Continuo de tocaia na esquina. Fico ali durante três horas e vinte e dois minutos, mas nada acontece, então volto para casa.
Ao chegar em casa são 04: 52.
Antes de dormir rezo a Deus, a Virgem Maria e a Jesus Cristo. Penso no que fazer, afinal não posso amar a ninguém, minha tarefa é matar, não amar. Mas nunca me apaixonei assim, nunca, somente outra vez, há muito tempo , quando amei Caroline, mas ela nunca me amou, nunca. Eu só tinha catorze anos e durante três anos tentei fazê-la me ver, ela nunca olhou para mim. Até que, já com dezessete anos criei coragem: comprei um buquê e fui à sua casa.
Segurava o buquê atrás das costas.
– Olá.
Olhei em seus olhos, senti extremo ódio ao ouvir aquela primeira palavra que ela dirigia a mim.
– Olá.
– Você é aquele garoto que senta ao meu lado lá da sala, não é?
Ah, então ela sabia que eu existia.
– Sim, sou eu. Posso entrar? – falava em tom seco.
Hesitou por um instante.
– Sim, entra... pode entrar.
Entrei e mostrei-lhe o buquê de rosas.
– Oh! Obrigada, muito obrigada.
– De nada.
Ela fechou a porta.
– Bem... – deu uma pequena risada – você quer sentar?
Olhei mais uma vez em seus olhos e sorri.
– Eu quero te falar uma coisa – engoli em seco – Talvez nunca tenha percebido, mas desde o oitavo ano eu te amo, muito, e esse amor perdura até hoje.
– Sim, eu já havia percebido.
Meu sorriso desapareceu.
– E você, por acaso, aceitaria namorar comigo?
– É... eu... eu já tenho um namorado.
Uma frieza inestimável tomou conta de mim.
Puxei a faca que trouxe em meu bolso.
– Não, não faça isso por favor.
– Cale a boca.
– Mas... – empurrei a faca contra seu peito esquerdo.
Enquanto ela caía vagarosamente meu sorriso aumentava, minha alegria era imensa, nunca havia sentido emoção maior.
A partir desse dia, matar tornou-se minha diversão, minha profissão. Por isso entrei para a polícia militar, onde posso matar a vontade.
Matei, matei e fiquei sozinho. Já não sentia nada, sentia um vazio. Havia apenas fúria e ira, fúria de mim, ira do mundo.
Por isso era impossível eu sentir amor. Mas, incrivelmente, eu senti, mesmo não podendo sentir.
Eu devo continuar matando, não amando.

Um rápido relato de confusão

     Desde que chegaram aqui, apoderaram-se de tudo que é nosso. Tomaram conta de nós. Enquanto eles o matam, permanecemos em conflito interno, observando o meio externo.
     Quando chegaram fizeram isso. Foram rápidos e nos deixaram confusos.    

Surf do sol

A florzinha murchou,
O sol nasceu,
O dia acabou,
O sol morreu.

A árvore cresceu,
O fruto caiu,
O vento soprou,
O gato saiu,
O pássaro voou.

A onda quebrou,
O surfista nadou,
A onda formou,
O peixe pulou,
O surfista surfou

Se visses, se tivesses, se amasses

Se tu soubesses do caos que está lá fora;
Se tu soubesses do que acontece;
Se sentisses o que senti;
Se passasses pelo que passei;
Se fizesses o que fiz;
Se pensasses o que pensei;
Se quisesses o que quis;
Jamais diria isso.
E me entenderia, nunca me culparia
E veria que errado não estou
E desistir não vou

Desenho de ti

Este meu verso é teu,
Este teu verso é meu,
Estes versos são nossos,
Tatuados em nossos ossos.
A poesia é pública, vendida,
A poesia é distribuída, dividida.
Nossa poesia é permanente, crescente;
Nossa poesia é sem ordem, indisciplinada,
Intensa, inefável, gigante, infinita e torrente.
Ela é reta, descontínua, dançarina, movimentada.
É este nosso poema o formador desta elipse branca,
Esta curva torta e descompassada que tento formar
No encontro de nossas vidas, no encontro de nós,
Que eu tento encontrar, que eu tento amar.
É esta vida tua que não é minha,
É esta vida minha que não é tua,
Esta vida nossa que não é,
Este eu que te quer,
O nós que é a fé

Clichê

Preciso escrever uma canção,
Preciso ter um coração,
Preciso viver um romance,
Preciso correr até que eu canse.
Preciso olhar para a lua,
Preciso ler Alencar,
Preciso me calar,
Preciso andar pela rua.
Preciso escrever,
Preciso de você

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O homem nu - capítulo 1

Sou teu temor, a vingança de teus pecados, aquele que te fará chorar, gritar, espernear, vomitar”, a voz enraivecia-se paulatinamente .
“És tu, Javé?”
“Não, sou eu, tua irmã...”
“Sabata?”.
“Sim”.
“Mas como, vi-te morrendo diante de meus olhos, vi-te gritando, vomitando, sangrando”.
“Não me mataste”, a voz tornou-se violenta, “mataste Saba”.
“Saba? Mas...”, Nemrod engoliu o gemido, deixou escorrer uma lágrima.
“Engasga-te, pois mataste tua querida irmã, afrontou Javé”.
“Não!”, Nemrod tentou gritar, mas o tom foi de súplica.
“Chore, grite, esperneie, vomite; é tudo que farás, antes de veres aquela Babel em ruínas, destruída como Arac e afogada em sangue como Acad”.
“Não! Meu reino não! Imploro-te com sangue nos olhos, mas por favor não destrua-o”.
“Teu pedido anseia-me ainda mais a pôr fogo nas tuas capitais”
“Não!”, ele chorou, “Não!”, ele gritou, “Não”, ele esperneou, “Não”, ele vomitou ao som da gargalhada infernal, cortante, estridente. O vômito escorreu pelo seu corpo, caiu sobre as pedras, sangrou. Agora banhava-se em um misto de sangue, suor, vômito e lágrima. Rolava, esperneava, gritava. Gargalhava. Desmaiou de tanta dor.

Era isso que o futuro guardava para aquele rei, valente, ousado, bisneto de Noé. Valente caçador diante de Javé, assim era conhecido, assim era chamado. Capaz de matar um elefante, um tigre, um leão. Capaz de matar qualquer coisa, qualquer coisa – mesmo sua irmã. O sangue sua irmã nada lhe dizia, foi apenas um acidente, Sabata morrera por acidente. Havia apenas uma coisa da qual Nemrod não tinha certeza da mortalidade. E era essa coisa o seu desafio. Era o que provaria sua valentia. O que confirmaria sua valentia diante de Javé. Ele deveria matá-lo. Ordenou então a construção da torre. A torre deveria chegar ao topo do céu, deveria atingir Javé. Ninguém poderia saber do verdadeiro motivo daquela construção no meio de Babel, surgiram boatos. A torre ia ficando pronta, ele se aprontando. A torre cada vez mais perto, já furava as nuvens, formava estrelas. A torre não poderia ficar pronta, ele sabia. Mas estaria perto o bastante.
Começou sua escalada pela torre. Seus dias de caminhada vertical. Desconfiava que Javé desconfiasse. Continuou. Mais dias de cansaço. Era forte, valente. A construção não podia parar. Continuou. Chegou no topo, lá estava ele. Matou-o. Foi doloroso, complicado, difícil, mas arrancou-lhe o coração quase inexistente. Matou-o.
Desceu as escadas. Comeu a carne quase inexistente. Nadou no Geon. A fome consumia-o, procurava comida, não tinha, o rio era deserto. E foi no Geon que viu Sabata banhar-se. Aquela carne era o que precisava. Acidentalmente uma pedra partiu-lhe a cabeça. Acidentalmente ela sangrara. Acidentalmente ela morrera. Começou então a maldição de Nemrod. Começou o fim.  
     

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Flora cerrada

É o pantanal de minha vida
Este bacanal de meu dia a dia:
A reconstrução pela poesia,
A destruição de meu sertão 

Exceção

Não me basta nascer
Ter nascido é conseqüência
Eu quero viver
Viver numa sequência.
Quero fazer,
Ter minha consciência !!!?

Meu inferior vício ao superior


Minha cachaça, minha esperança.
Em cada garrafa uma crença,
Em cada pensamento de criança,
Um gole me faz sorrir
E um copo me faz cair;
Mas minha alma sobrevive
Aos inúmeros infinitos vícios,
Pois cada cigarro
É cada alegria.
Em cada garrafa,
Em cada tabaco
Formo um laço lascivo,
Formo metal mortal
Com álcool e fogo
Formo minha última vida;
Num último suspiro,
Faço e vivo
Mais um pedido
De mais um perdido.
Entre todos, do que haveria sido
Alguém superior,
Superior ao amor,
Superior a dor,
Superior as obsessões,
Superior as alucinações.
Tão superior aos vícios;
Mas estou perdido,
Inferior aos vícios,
Inferior as obsessões,
Inferior a dor.
Sou mais um inferior
Mendigo, pedinte
De esmolas, de amor

Não tenho nada de poesia, não sou poeta

Tantos falam,
(tantos poetas)
Poetas devem ser infelizes
E jamais satisfeitos.
Então isto comprova
Como sou leigo
E nada tenho de poeta,
Pois sou feliz.

Quando alguém diz
Que para fazer poesia
Precisa de infelicidade
E pensar todo dia.
Então concordo,
Sem nenhuma maldade.

Já que sou feliz
Não sou poeta
E é impossível
Que eu escreva
Poema algum

A ti

Este mundo cabe na palma da tua mão,
Mas de tão vasto é insuportável para teu coração

Tempos e dias

Ontem eu gosto de ser astronauta,
Hoje eu preferirei ser tudo,
Amanhã eu queria ser nada

O homem nu - Capítulo 0

No meio da mata davam para se escutar, os suspiros ofegantes de cansaço dum homem nu, que com passos longos corria, estava obviamente fugindo de algo, talvez estivesse fugindo de uma fera, mas não se podia saber ao certo do que ele corria, nem mesmo ele sabia do que corria. Sabia apenas que devia encontrar um refúgio.
         Ocorreu o fato de que o homem nu esbarrou em uma rocha que precedia uma caverna, foi nesse mesmo local que o homem nu entrou, se acolheu. E lá ficou, quieto, em silêncio, imóvel como as pedras, que escondiam o homem nu.
         Até que, após um dia inteiro, todo o silêncio foi substituído por uma voz grosa e grave: ”Quem se atreves a entrar pele fachada de meu belo e santo lar?”.
         Mesmo assim, o homem nu continuou imóvel, como se nada houvesse acontecido.
         “Hei de te matar, criatura desrespeitosa, se não responderes a minha pergunta”, insistia a voz. Mas o homem nu permanecia imóvel. “Responda-me pecador quem és tu, e o que te traz aqui ao meu lar?”, continuava a perguntar a voz aborrecida, irada, furiosa.
         “Sois Nemrod, filho de Cuch, e estou refugiado aqui porque fujo de algo que me perseguia, pela mata”, respondeu o homem nu.
         “Se és Nemrod,’o valente diante de Javé’,porquê não matou o que te seguia?”, a voz estava mais branda e mais próxima do homem nu, Nemrod.
         “Pois eu sentia certo medo daquilo.”, respondeu o homem nu, com certo aflito no fundo dos olhos.
         “Talvez fossem os seus pecados que o perseguiam isso é o que um pecador colhe: medo e tenta fugir do destino de seus pecados”, disse a voz.
         “Mas, agora que já disse quem sou, diga-me quem vós sois.” Implorou o homem nu.