domingo, 4 de dezembro de 2011

05 de junho de 2013

Estou me vestindo. Quando termino de me vestir já são 21:49, saio de casa às 22:10.
            Já descobri algumas coisas a seu respeito, em uma semana. Ela trabalha como babá em uma casa do bairro mais nobre da cidade, sua mãe de noventa e sete anos está internada em um hospital prestes a morrer, sai de casa todos os dias às 05:20 e volta às 23:00.Sempre pega a mesma linha de ônibus.
            Quando subo no ônibus ela está lá, sentada, talvez procurando algo em sua bolsa. Sento-me no assento atrás dela, ela não percebe minha presença. Meu Deus, é tão linda; seus cabelos loiros são os mais lindos que já vi, parecem imitar a luz do sol. Seu rosto mais parece de um anjo. Sua voz tão suave tem a mesma calmaria da brisa do anoitecer.
Não sei como pude chegar a esse ponto de amar tanto alguém. Tenho muitos ciúmes dela, seria capaz de puxar a arma e atirar na cabeça do rapaz que está ao lado dela, pelo simples fato de estarem tocando as pernas por acaso. Ela continua mexendo na bolsa.
            Retira da bolsa um celular e atende-o. “Alô, calma amor, já estou chegando”. Amor? Não pode ser, ela tem um namorado?
            Ela levanta, e nesse instante seu braço toca o braço do rapaz. Também levanto e sigo-a, desço apôs ela. Continuo seguindo-a até sua casa. Chegando seu marido espera-a em frente a casa.Silêncio. Basta um olhar e começa a chorar junto a ele. “Não, não”, grita em prantos, “não a mamãe, não”. “Calma, vai ficar tudo bem”, ele tenta consolá-la e abraça-a, “nós já sabíamos que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde”.
            Apesar de estar inerte, sinto uma enorme fúria, afinal ela não poderia ter um marido, e ele não podia abraçá-la daquele jeito.
            Ficam ali, durante quinze minutos, depois entram em casa. Continuo de tocaia na esquina. Fico ali durante três horas e vinte e dois minutos, mas nada acontece, então volto para casa.
Ao chegar em casa são 04: 52.
Antes de dormir rezo a Deus, a Virgem Maria e a Jesus Cristo. Penso no que fazer, afinal não posso amar a ninguém, minha tarefa é matar, não amar. Mas nunca me apaixonei assim, nunca, somente outra vez, há muito tempo , quando amei Caroline, mas ela nunca me amou, nunca. Eu só tinha catorze anos e durante três anos tentei fazê-la me ver, ela nunca olhou para mim. Até que, já com dezessete anos criei coragem: comprei um buquê e fui à sua casa.
Segurava o buquê atrás das costas.
– Olá.
Olhei em seus olhos, senti extremo ódio ao ouvir aquela primeira palavra que ela dirigia a mim.
– Olá.
– Você é aquele garoto que senta ao meu lado lá da sala, não é?
Ah, então ela sabia que eu existia.
– Sim, sou eu. Posso entrar? – falava em tom seco.
Hesitou por um instante.
– Sim, entra... pode entrar.
Entrei e mostrei-lhe o buquê de rosas.
– Oh! Obrigada, muito obrigada.
– De nada.
Ela fechou a porta.
– Bem... – deu uma pequena risada – você quer sentar?
Olhei mais uma vez em seus olhos e sorri.
– Eu quero te falar uma coisa – engoli em seco – Talvez nunca tenha percebido, mas desde o oitavo ano eu te amo, muito, e esse amor perdura até hoje.
– Sim, eu já havia percebido.
Meu sorriso desapareceu.
– E você, por acaso, aceitaria namorar comigo?
– É... eu... eu já tenho um namorado.
Uma frieza inestimável tomou conta de mim.
Puxei a faca que trouxe em meu bolso.
– Não, não faça isso por favor.
– Cale a boca.
– Mas... – empurrei a faca contra seu peito esquerdo.
Enquanto ela caía vagarosamente meu sorriso aumentava, minha alegria era imensa, nunca havia sentido emoção maior.
A partir desse dia, matar tornou-se minha diversão, minha profissão. Por isso entrei para a polícia militar, onde posso matar a vontade.
Matei, matei e fiquei sozinho. Já não sentia nada, sentia um vazio. Havia apenas fúria e ira, fúria de mim, ira do mundo.
Por isso era impossível eu sentir amor. Mas, incrivelmente, eu senti, mesmo não podendo sentir.
Eu devo continuar matando, não amando.

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