Uma tarde triste e monótona como qualquer outra. Uma tarde ensolarada e quente. A sorte é que há uma macieira, onde pode esconder-se do sol.E era nesse lugar onde estava, escrevendo este texto.Mas já é tudo tão normal e igual, há tempos que é assim.
Então se levantou e começou a caminhar.
Caminhou para o caminho contrário, não importava onde daria, o importante era seguir o sol. O sol batia em seu rosto e fazia brilhar o cabelo loiro. Pensou em voltar, mas não voltou. Continuou seguindo o horizonte. O horizonte causava certo desejo intangível, inefável.
Passaram-se horas, mas ele continuou. A paisagem agora já era outra. Tudo estava diferente, todo o sentimento. Era uma sensação perfeita. Pela primeira vez um sorriso apareceu em seu rosto e pensou que agora pudesse ser feliz, feliz de verdade. O sol já não era tão forte, agora ventava. O vento tinha um aroma de alegria e vida. A vida melhorava, pensou até em parar ali, para apreciar, mas não podia.
Mais a frente viu os campos verdejantes. O sol partiu, para dar lugar à lua. As estrelas ali eram visíveis, pareciam olhos, pareciam piscar para ele, dizendo: “E aí, garotão! Não quer dar uma volta?”. Esse chamado dava-lhe vontade de voar. Mas agora não é hora de voar, ainda há muito chão a ser pisado.
A noite fria e cansativa só não enjoava por que as luzes das estrelas eram belas, os brilhos eram oníricos. Os olhos pesavam como elefantes quando o dia amanheceu e se viu em meio a uma estrada deserta.
Veio um desejo de gritar, gritou. Veio um desejo de dançar, dançou. Veio um desejo de cantar, cantou. Veio um desejo de parar, continuou.
O cansaço era infernal depois de três dias. E a fome. A fome era infinita, mas era amenizada com algumas maças colhidas ainda há pouco.
E a música: continua.
O passo já não era veloz, era lento. Os olhos pesados. O coração já não se alegrava, se cansava. Decidiu, por isso, correr para não morrer, ou para morrer. O corpo pedia: PARA. O coração gritava: CORRE. Correu o quanto pôde, chegou na cidade, todos o olhavam, olhavam seus cabelos, sua barba. Prosseguiu. Correu, cantou, amou e correu, quase morreu, correu.Chegou à beira do mar.
Parar?
Não, não podia.
Nadar?
Sim, isso ele faria.
Pulou, caiu no mar e pôs-se a dar braçadas ignorantes. Há anos não entrava na água, nunca havia visto o mar – nem sabia se aquilo era mesmo mar –, nunca havia nadado. Mas nadou durante semanas. Comia a única coisa que havia para comer, comia somente peixe.
Chegou à terra firme. As pessoas lhe faziam perguntas sem sentido, ele não entendia o que falavam, ignorava. Voltou a correr. Andou, correu, escalou, nadou, cansou. Cansou dos verbos. Sabia de apenas uma coisa: era preciso seguir.
Foi.
Ele estava sim feliz, mesmo com todas as dores. Mas se corria pela felicidade; por que tudo aquilo? Ele não precisa mais prosseguir, já tinha o que queria. Por que agora a certeza da dúvida já havia ido, tudo havia ido. Ele não alcançaria – ou já alcançou –, mas não precisava correr. Não precisava daquilo, não precisava de nada, nada.
Parou então embaixo da primeira sombra que encontrou, sentou. Sentiu-se morto. Viu-se embaixo daquela macieira, a mesma. A música. Cantou, continuou, contou. Uma tarde triste e monótona como qualquer outra. Uma tarde ensolarada e quente.
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