Não precisam de nomes as palavras expressivas.
Esses nomes todos são para confundir
a verdadeira verdade.
É no silêncio que se diz tudo o que há
para ser dito,
no escuro é onde lemos o necessário,
o correto.
As verdadeiras palavras
não se chamam palavras,
se chamam sentimentos
Escrito a sangue, tangido à luz da noite, embrulhado no brilho das estrelas. [sem vaidade, apenas a realidade, verdadeira e certeira. com todo amor, todo horror] {aconselhado apenas para humanos e quase humanos}. CUIDADO, MUITOS SE PERDEM NO TORTUOSO CAMINHO!
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Vida, vida
Da folha em branco eu nasci,
em teu sangue cresci,
no teu coração vivi,
na tua mente sorri,
e gritei, chorei, agonizei
até te fazer despertar
e então morri
em teu sangue cresci,
no teu coração vivi,
na tua mente sorri,
e gritei, chorei, agonizei
até te fazer despertar
e então morri
Sentido inverso
Os teus poemas é que leio,
os romances são fingimentos.
Tua beleza é que enxergo,
os óculos são coincidência.
Do teu amor é que escrevo,
palavras são inevitáveis.
É de ti que preciso para viver,
o oxigênio é só desculpa
os romances são fingimentos.
Tua beleza é que enxergo,
os óculos são coincidência.
Do teu amor é que escrevo,
palavras são inevitáveis.
É de ti que preciso para viver,
o oxigênio é só desculpa
Ele, apaixonado
Eu já fui o rei dos mares,
o caçador dos leões,
o dono da terra.
Mas nunca nada me fez ser tão eu
como sou quando penso em ti.
Nada foi como é com tua existência,
nada era antes de ti,
ou melhor,
só o nada podia ser além de mim
sem ser contigo
o caçador dos leões,
o dono da terra.
Mas nunca nada me fez ser tão eu
como sou quando penso em ti.
Nada foi como é com tua existência,
nada era antes de ti,
ou melhor,
só o nada podia ser além de mim
sem ser contigo
Teus poemas de tão amorosos
me fazem poesia,
nos fazem amantes.
Enquanto eu tento reconstruir
em minhas palavras
o teu mesmo amor
- poético -,
mas só não sei falar
o que não foi dito
e irromper na margem do amor
para repetir os teus mesmo poemas
por não me ter nas palavras,
eu grito para escutarem
o quanto eu consigo te amar
e só minhas palavras inúteis ouvem
me fazem poesia,
nos fazem amantes.
Enquanto eu tento reconstruir
em minhas palavras
o teu mesmo amor
- poético -,
mas só não sei falar
o que não foi dito
e irromper na margem do amor
para repetir os teus mesmo poemas
por não me ter nas palavras,
eu grito para escutarem
o quanto eu consigo te amar
e só minhas palavras inúteis ouvem
O começo de mim
Rodopio no ventilador,
nado na escova sob o chuveiro,
danço com o liquidificador,
guardo o máximo de dinheiro.
Bebo água,
como mágoa,
quebro o espelho,
visto calças,
rasgo a cueca.
Amasso papéis,
enceno outros,
mato-os - os mesmos personagens
que me construíam.
Nasço e saio para passear com o sol
nado na escova sob o chuveiro,
danço com o liquidificador,
guardo o máximo de dinheiro.
Bebo água,
como mágoa,
quebro o espelho,
visto calças,
rasgo a cueca.
Amasso papéis,
enceno outros,
mato-os - os mesmos personagens
que me construíam.
Nasço e saio para passear com o sol
Nossas palavras
Eu te amo tanto
e com tal força
que não consigo exprimir em letras
o amor
- tão usual e repetido noutras bocas apaixonadas,
que chegou a se apagar.
Esse amor que nunca brilhou,
que desaparecia quando apagávamos a luz do quarto.
Eu te amo tanto
que escrevo estes versos
(ridículos e patéticos)
para um dia
serem apagados
pela mesma mão que os escreveu
e com tal força
que não consigo exprimir em letras
o amor
- tão usual e repetido noutras bocas apaixonadas,
que chegou a se apagar.
Esse amor que nunca brilhou,
que desaparecia quando apagávamos a luz do quarto.
Eu te amo tanto
que escrevo estes versos
(ridículos e patéticos)
para um dia
serem apagados
pela mesma mão que os escreveu
Vida astral
Nessa dança erótica em que vivemos,
nos comemos,
formamos uma cena esquecida
passada e repassada em uma jaula.
Damo-nos ao máximo e nada recebemos,
forçamos a vista até que enxergamos
um vazio dentro de cada um,
preenchido de nada,
de uma vida retesada.
E se um dia sairmos da caverna
não voltaremos,
mas ficaremos com uma falta fraterna,
encerrando a cena,
serrando as grades
de onde já fora Atenas
nos comemos,
formamos uma cena esquecida
passada e repassada em uma jaula.
Damo-nos ao máximo e nada recebemos,
forçamos a vista até que enxergamos
um vazio dentro de cada um,
preenchido de nada,
de uma vida retesada.
E se um dia sairmos da caverna
não voltaremos,
mas ficaremos com uma falta fraterna,
encerrando a cena,
serrando as grades
de onde já fora Atenas
Primeiros anos
Espera, que eles já vêm à mesa de jantar,
comer, se alimentar do que aqui há.
Eles estão sedentos, precisa de carne,
carne crua, fresca, fraca.
Já dá para sentir o cheiro de suor sujo
aproximando-se,
já se pode ouvir o uivo, cujo
o som vem alternando-se.
As gargalhadas imorais
estão impregnadas nos pelos
e se afundam mais e mais
entre seus dedos.
Calma, querida, eles só querem saciar-se,
só querem tua carne provar
e te mostrar, te ensinar
o que é aliviar-se.
Eles querem teus olhos fechados,
tuas pernas abertas,
teus braços suados,
eles te querem escancarada,
querem se divertir na madrugada.
Então deixa, deixa,
que o mundo tem desses prazeres,
todos esses deveres
de se vender para ter o que comer.
Os primeiros anos são os piores,
depois torna-se costume
essa violência que te consume,
a permissão que te devore.
Agora relaxa, para de chorar,
deixa doer, deixa sangrar
comer, se alimentar do que aqui há.
Eles estão sedentos, precisa de carne,
carne crua, fresca, fraca.
Já dá para sentir o cheiro de suor sujo
aproximando-se,
já se pode ouvir o uivo, cujo
o som vem alternando-se.
As gargalhadas imorais
estão impregnadas nos pelos
e se afundam mais e mais
entre seus dedos.
Calma, querida, eles só querem saciar-se,
só querem tua carne provar
e te mostrar, te ensinar
o que é aliviar-se.
Eles querem teus olhos fechados,
tuas pernas abertas,
teus braços suados,
eles te querem escancarada,
querem se divertir na madrugada.
Então deixa, deixa,
que o mundo tem desses prazeres,
todos esses deveres
de se vender para ter o que comer.
Os primeiros anos são os piores,
depois torna-se costume
essa violência que te consume,
a permissão que te devore.
Agora relaxa, para de chorar,
deixa doer, deixa sangrar
Doente viral
É melhor você me esquecer,
é melhor você se afastar.
Eu estou contaminado,
posso te matar,
não quero te contaminar.
É melhor você ir,
meu amor pode te adoecer.
Eu adoeci de outros amores,
agora estou morrendo,
o sexo me matou
é melhor você se afastar.
Eu estou contaminado,
posso te matar,
não quero te contaminar.
É melhor você ir,
meu amor pode te adoecer.
Eu adoeci de outros amores,
agora estou morrendo,
o sexo me matou
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Flores bissexuais - Capítulo V, Meus escorpiões
Eu estou com aids. Terceiro dia que acordo com essa frase a me torturar, cuspindo na minha cara todos os prazeres que tive. Meus sonhos eram perturbadores, Geni segurava uma criança ensanguentada - Toma, pega, o filho é teu -, Carlos me matava com seu pênis gigante. Eu, sempre acordando atormentado, os olhos ressecados por causa das lágrimas secas. Eu sempre tentava esquecer tudo, mas os pensamentos estavam impregnados em mim, eu não me via mais no espelho, só conseguia ver esses pensamentos. Sempre assim; quebrei todos os espelhos do apartamento, já não fazia a barba. Eu não saía mais de casa. Ninguém ligava, seria melhor assim, todos me esqueceriam, seria melhor assim. Pela terceira vez estou no banheiro, a faca ainda suja de margarina toca meu peito e acompanha a respiração. Duas horas na mesma posição, apesar do suor, a mão continua firme na mesma posição, a faca segura entre os dedos. A mente vazia me esvazia, me dá azia. Olhos famintos por cores. Batidas, batidas se confundem com o som de meu coração. Há alguém na porta, há alguém me chamando. A faca desliza, me alisa o peito, arranha o peito, o sangue forma uma imagem estranha no chão, como um pequeno sol vermelho. Sinto os olhos nas lágrimas, afogam-se, mas só o suor corre pelo meu rosto. As batidas frenéticas continuam, quase formam um ritmo, e eu preciso atender. Amanhã tento a morte novamente. Não visto calças, somente blusa e cueca. É o Carlos. Ele demora a abrir a boca, seus olhos estão tão conturbados quanto os meus. Eu já soube da doença. É, estou com aids. Sim, vim te buscar para te levar ao médico, agendei uma consulta. Tão rápido, você transou com ele também? A resposta é silenciosa, mais silenciosa que o silêncio, é fria e dolorosa, agressiva. Vista as calças. Já vestido estou esperando no hospital, durante a viagem não houve conversa e ainda não há. Nem olhares nem nada. Mas brigávamos, nos insultávamos por pense pensamento, nos xingávamos com silêncio. Teu pulmão não está muito bem, meu rapaz. Quando sai o resultado, doutor? Quinta-feira. Caso o resultado dê positivo, teremos de começar um tratamento imediatamente, e não te preocupes, não será assim tão doloroso. Sorrisos amarelos. Carlos me dá um tapa nas costas, amigável. Você fazia filmes pornôs? A Geni contou, não foi? Sim, eu fazia, era a única forma de viver, por incrível que pareça, eu me formei em Jornalismo, mas você sabe como é a vida, eu não tinha dinheiro para um aluguel, mas meu primo era produtor desse tipo de filmes, o salário não era nada mau, eram três mil e quinhentos por filme. E em algum desses filmes você teve que transar com Geni? Não, sempre era outro ator. Mas quando a vi no camarim... Ela é uma mulher inteligente, bonita e foi a primeira mulher a me beijar de verdade, me beijar com amor, nenhuma das outras mulheres que conheci queria amor. Ele então olhou para mim e, contra nossas vontades, nossos olhares se encontraram e o silêncio voltou a nos atormentar.
Geni se recuperava muito bem, eu ainda não havia visto como ela estava desde o jarro de flores. A enfermeira disse que ela estava dormindo, nem saberia que eu estava ali. Geni estava cada vez mais linda, seus cabelos despenteados eram ainda mais charmosos, seus lábios sensuais quase imitavam todas as curvas de seu corpo. a barriga não crescera ainda e ela ainda era linda, mais linda do que nunca. Estava tentado a beijar aqueles doces lábios, antes que eu desse um passo, suas pálpebras se levantaram, seus olhos encheram a sala de brilho. Vocês está aqui? Isso não é mais a porra de um pesadelo? Não, querida, eu estou aqui. Querida? Você me engravidou, um bebê, aids, estamos todos com aids, infectados, por causa de você, seu desgraçado! O quê? O quê você esperava, idiota? Mas... Mas o quê? Então foi você quem me adoeceu, Geni. Ela não respondeu, os bipes ecoavam pelo quarto. Sim, eu acho que sim, há tempos sinto pequenas bolinhas soba pele e não me sinto bem, me sinto fraca, eu sempre estava meio resfriada, com algumas dores de cabeça. Sim, querido, eu quem te passei a doença. Eu chorei, chorei com minhas últimas lágrimas, chorei e chorei. Está chorando de quê, quer que eu me desculpe? Eu não sabia o que dizer, não sabia o que falar, não sabia o que fazer, não sabia o que pensar. Não havia palavra a ser dita, abracei-a, ela não protestou. Abracei somente, com um afeto triste, até adormecermos na mesma doença repugnante e nojenta, a doença que tanto atormenta.
O senhor não pode ficar aqui. Era a enfermeira loira, a mesma que me atraia, agora era só mais um pedaço de carne podre, infectado pelo mundo, sujo. Ela abriu a janela para o sol voltar a nos perturbar, saí e fui para casa. A máquina de escrever estava escancarada, sentei-me, mas as palavras fugiam e tudo a ser dito tornava-se menos um pensamento vago despedaçado e jogado à lixeira. Parem, parem de gritar, estou cansado de tudo isso, me matem, estou aqui, mas parem de atrapalhar! Atrapalhar o quê? A infância desmentida, a adolescência imunda e rabiscada, destroçada e desgraçada, a velhice precoce e imoral, atrapalhar o quê? Vida de merda! Infância, infância, infância. A adolescência sem vida é a pior de todas as lembranças. Se é para morrer quer seja rápido, que chame a atenção, que faça barulho, que mude algo ao menos. Preciso de um revólver. Preciso me embebedar e transar.
Estou no sexto copo. Seu João, você conhece alguém que vende armas? Falo entre pausas e soluços. Deixa disso, rapaz. O senhor sabe, a cidade está ficando perigosa, cada vez mais violenta, aposto como você tem sua pistola para imprevistos e emergências. Seu olhar me consome. Tem uma casinha amarela, número 41, daqui a cinco ruas. Diga que conhece o Kléber, eu só não aconselho que vá nessas condições. Ponho uma nota de vinte no balcão e dou as costas com um até mais embriagado. As ruas estão vazias, eu não estou tão inconsciente, ainda consigo pensar e caminhar, número 41, casa amarela. Boa noite, senhora. Eu preciso de um revólver de pequeno porte. Desculpe, mas não vendemos armas, o senhor deve ter se confundido. O Kléber que me encomendou essa arma. Suas pálpebras pesam. Entre então. Sei que o Kléber não te conhece, se ele quisesse algo, viria ele mesmo. Sorrio um sorriso puro de álcool, me erro. Então, o que você quer? O revólver mais barato e balas. Pago duzentos reais e volto para casa, sem cambalear, talvez a aids iniba o efeito do álcool.
Agora é só puxar o gatilho, o cano já está enfiado em minha boca, posso senti-lo em minha garganta, ele arranha tudo que penso, agora é só puxar o gatilho e deixar a bala fazer todo o resto, o trabalho será mínimo. Ninguém sentirá falta de mim, ninguém, absolutamente ninguém. É fácil, basta puxar o a porra do gatilho. Basta puxar! Tudo estará feito, é isso então. Todas aquelas garotas, os beijos, as loiras, as morenas, os seios, as nádegas, os livros, os poemas, o bebê, Geni. Meu filho seria órfão de pai. Não, seu pai é e será Carlos. Basta puxar. Puxe! PUXE! Vamos lá. Vamos lá! Só você vai, tudo fica, tudo ficará para trás. Porra! Puxa a merda do gatilho. Merda! Ah! A vida tão cantada não tem nada mais que a morte, viver não é mais belo que morrer. O gatilho, droga. Puxa!
Então, puxo o gatilho.
Então, puxo o gatilho.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O fundo do poço
O fundo tão tanto quanto profundo em que perfeitamente me encaixo
é meu refúgio úmido e imundo, meu perfeito lugar,
meu lugar de não ser, não viver, não amar, não pensar.
Minha própria mão me aperta, me envolve, me arranha o coração,
meu coração me sufoca e me faz não parecer, me faz não fazer.
Eu tento em outro intento,
quero não repetir, não cair, não fingir, quero não querer.
Mas ainda assim continuo, influo e me fluo num fluxo indiferente,
um fluxo perturbado quer sempre me conturba os pensamentos,
que sempre me cria os pensamentos
e me faz sofrer na precariedade de escrever, na inutilidade de saber.
Permaneço na velha tentativa de reconhecer a antiga imagem enferrujada e inacabada,
a velha imagem (tentativa) de me ser através do vidro,
através do espelho repugnante que sempre me formou no futuro do antes,
da água poluída e indistinta, a água de meus fluidos a me afogar, a me perturbar,
a me forçar, a me pecar e me tentar.
Mas a música me ensurdece, o som me enfraquece,
o poema não me escreve, o dia não me nasce,
permito que cada palavra me rasgue e me lasque
como se a grama em que me deito fosse lascas a me perfurar, me amaldiçoar,
como se cada minha grama me fosse o peso mais pesado e mais torturante,
como se tudo nada me fosse,
como se a comida já nem fosse necessária, como uma piada hilária
na perdição de encontrar algo da maior utilidade na vida solitária,
como se cada nota fosse irrelevante, como se cada dor não fosse lancinante,
como se houvesse alguma outra nova esperança como as esperanças de nunca ter sido criança.
Então me busco nas buscas irracionais e imorais pelos caminhos mais banais.
Busco a não-resposta pelas coisas que nunca fui e nunca tive, nunca vivi.
Mas no fim encontro apenas a cela,
não há nada, não há ela.
Desencontro meu coração, reencontro a suja prisão, me perco em uma mesma visão
e permaneço, permaneço calado em meu pecado, mudado.
E tudo haveria se eu tivesse gritado, pedido ajuda, mesmo sabendo que nada nunca muda,
nada nunca é, nada nunca é nada, nada nunca é.
Eu penso, fico propenso a um outro final, um outro canal, menos noturno, mais matinal.
Me procuro nas fotografias, me procuro em algum recanto da poesia, procuro alegria
e só encontro a tristeza, só encontro a falta, a vontade de nunca existir.
Não há fotos, não há rostos, não há, não ar.
Eu me sinto, me aperto em meu cinto e saio para rua, saio à procura da lua,
não a vejo, não a encontro, me perco, me mudo, me tudo.
Caio para um lado, caio para o outro, me faço o pecado de não pecar,
preciso de resultado, o resultado que tanto me pedem, que tanto me fedem.
Eu quero um outro meu, quero ser teu, quero que me caia em cheio o céu,
quero me enfiar e parar de respirar, quero parar, parar, parar.
Me rapto num movimento rápido, capto as outras intitulações que nunca me couberam, nunca vieram.
Caminho a uma outra parada na eterna madrugada,
nado à outra margem, me banho com a vagem que me leva sempre à mesma viagem sem retorno,
sempre no mesmo forno, no mesmo fosso, no mesmo osso, o mesmo crime doloso
de ser.
E eu não entendo, não compreendo, nem mesmo vendo enxergo,
eu não sei o que é, não sei como é, não sei o quanto é, não te posso quando me der,
não te possuo quando me quiser, não estarei quando vier, não poderei quando puder.
E eu corro, corro morro acima, morro e morro.
Morro no frio gélido e incalculável, causado pelo vento incontrolável, pelo desejo inevitável.
Peço um pedaço de pão apenas, um pouco de teu coração, um aperto de mão.
Um beijo quente e irreverente, um beijo que seja o único dos beijos.
Um abraço entre teus braços, um abraço que me viva, um abraço forte, um abraço da morte
é meu refúgio úmido e imundo, meu perfeito lugar,
meu lugar de não ser, não viver, não amar, não pensar.
Minha própria mão me aperta, me envolve, me arranha o coração,
meu coração me sufoca e me faz não parecer, me faz não fazer.
Eu tento em outro intento,
quero não repetir, não cair, não fingir, quero não querer.
Mas ainda assim continuo, influo e me fluo num fluxo indiferente,
um fluxo perturbado quer sempre me conturba os pensamentos,
que sempre me cria os pensamentos
e me faz sofrer na precariedade de escrever, na inutilidade de saber.
Permaneço na velha tentativa de reconhecer a antiga imagem enferrujada e inacabada,
a velha imagem (tentativa) de me ser através do vidro,
através do espelho repugnante que sempre me formou no futuro do antes,
da água poluída e indistinta, a água de meus fluidos a me afogar, a me perturbar,
a me forçar, a me pecar e me tentar.
Mas a música me ensurdece, o som me enfraquece,
o poema não me escreve, o dia não me nasce,
permito que cada palavra me rasgue e me lasque
como se a grama em que me deito fosse lascas a me perfurar, me amaldiçoar,
como se cada minha grama me fosse o peso mais pesado e mais torturante,
como se tudo nada me fosse,
como se a comida já nem fosse necessária, como uma piada hilária
na perdição de encontrar algo da maior utilidade na vida solitária,
como se cada nota fosse irrelevante, como se cada dor não fosse lancinante,
como se houvesse alguma outra nova esperança como as esperanças de nunca ter sido criança.
Então me busco nas buscas irracionais e imorais pelos caminhos mais banais.
Busco a não-resposta pelas coisas que nunca fui e nunca tive, nunca vivi.
Mas no fim encontro apenas a cela,
não há nada, não há ela.
Desencontro meu coração, reencontro a suja prisão, me perco em uma mesma visão
e permaneço, permaneço calado em meu pecado, mudado.
E tudo haveria se eu tivesse gritado, pedido ajuda, mesmo sabendo que nada nunca muda,
nada nunca é, nada nunca é nada, nada nunca é.
Eu penso, fico propenso a um outro final, um outro canal, menos noturno, mais matinal.
Me procuro nas fotografias, me procuro em algum recanto da poesia, procuro alegria
e só encontro a tristeza, só encontro a falta, a vontade de nunca existir.
Não há fotos, não há rostos, não há, não ar.
Eu me sinto, me aperto em meu cinto e saio para rua, saio à procura da lua,
não a vejo, não a encontro, me perco, me mudo, me tudo.
Caio para um lado, caio para o outro, me faço o pecado de não pecar,
preciso de resultado, o resultado que tanto me pedem, que tanto me fedem.
Eu quero um outro meu, quero ser teu, quero que me caia em cheio o céu,
quero me enfiar e parar de respirar, quero parar, parar, parar.
Me rapto num movimento rápido, capto as outras intitulações que nunca me couberam, nunca vieram.
Caminho a uma outra parada na eterna madrugada,
nado à outra margem, me banho com a vagem que me leva sempre à mesma viagem sem retorno,
sempre no mesmo forno, no mesmo fosso, no mesmo osso, o mesmo crime doloso
de ser.
E eu não entendo, não compreendo, nem mesmo vendo enxergo,
eu não sei o que é, não sei como é, não sei o quanto é, não te posso quando me der,
não te possuo quando me quiser, não estarei quando vier, não poderei quando puder.
E eu corro, corro morro acima, morro e morro.
Morro no frio gélido e incalculável, causado pelo vento incontrolável, pelo desejo inevitável.
Peço um pedaço de pão apenas, um pouco de teu coração, um aperto de mão.
Um beijo quente e irreverente, um beijo que seja o único dos beijos.
Um abraço entre teus braços, um abraço que me viva, um abraço forte, um abraço da morte
domingo, 23 de dezembro de 2012
Em partes
Eu tenho forças,
mas como levantar uma pedra
sem as mãos?
Me amputaram as próprias mãos.
Eu tenho fé,
mas como posso caminhar
sem os pés?
Me amputaram os próprios pés.
Eu tenho coração,
mas como posso enxergar
sem os olhos?
Me arrancaram os próprios olhos.
Eu tenho amor,
mas como posso amar
sem o coração?
Me roubaram o coração
mas como levantar uma pedra
sem as mãos?
Me amputaram as próprias mãos.
Eu tenho fé,
mas como posso caminhar
sem os pés?
Me amputaram os próprios pés.
Eu tenho coração,
mas como posso enxergar
sem os olhos?
Me arrancaram os próprios olhos.
Eu tenho amor,
mas como posso amar
sem o coração?
Me roubaram o coração
sábado, 22 de dezembro de 2012
Pelos velhos sonhos
Nos cantos mais escuros e empoeirados
foi que me guardei e me sujei de mim,
me refiz pra ti e te fiz o outro lado amado,
tentei te reencontrar e me despistar o fim.
Acabei-me então, acabei meu coração,
me inventei numa outra estação
e te esqueci na minha própria lembrança de não existir,
te desmereci na minha outra criança que sempre quis cair,
sempre quis desistir de não ser, de não viver.
E tive de permanecer, aguardar o melhor momento
para reiniciar aquele velho tormento
que nos foram a eterna infância
com a ânsia de amar, de desejar, de querer e não dizer.
Nós nos fizemos um outro ser
que apenas nós podemos entender,
apenas nós podemos viver e encantar,
apenas nós podemos amar
foi que me guardei e me sujei de mim,
me refiz pra ti e te fiz o outro lado amado,
tentei te reencontrar e me despistar o fim.
Acabei-me então, acabei meu coração,
me inventei numa outra estação
e te esqueci na minha própria lembrança de não existir,
te desmereci na minha outra criança que sempre quis cair,
sempre quis desistir de não ser, de não viver.
E tive de permanecer, aguardar o melhor momento
para reiniciar aquele velho tormento
que nos foram a eterna infância
com a ânsia de amar, de desejar, de querer e não dizer.
Nós nos fizemos um outro ser
que apenas nós podemos entender,
apenas nós podemos viver e encantar,
apenas nós podemos amar
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
A parte que te fui
Eu me perdi em meus papéis,
me criei em meus pensamentos infiéis.
Perdi meus cadernos de poesia
em algum outro antigo dia.
Eu me afoguei nas palavras,
me morri nos verbos invariáveis,
me comi as minhas larvas,
me banhei com minhas lágrimas descartáveis
e me tornei a outra parte sem arte e sem sentimento,
a parte que não tem coração,
a parte que se consome na própria sensação de ser sem viver.
Eu me tornei a outra parte irreconhecível,
te lancei as piores mágoas como um míssil,
te encarnei as minhas piores dores
e te desfiz todos os amores
num outro amor
que sempre foi apenas dor
me criei em meus pensamentos infiéis.
Perdi meus cadernos de poesia
em algum outro antigo dia.
Eu me afoguei nas palavras,
me morri nos verbos invariáveis,
me comi as minhas larvas,
me banhei com minhas lágrimas descartáveis
e me tornei a outra parte sem arte e sem sentimento,
a parte que não tem coração,
a parte que se consome na própria sensação de ser sem viver.
Eu me tornei a outra parte irreconhecível,
te lancei as piores mágoas como um míssil,
te encarnei as minhas piores dores
e te desfiz todos os amores
num outro amor
que sempre foi apenas dor
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Caminhada ao nada
Descobrindo as coisas indescobríveis
era que eu aprendia a vida,
libertava os bichos aprisionados
e que ninguém mais via,
só meus dois olhos
recobertos de poeira do tempo
qual meu ouvido afogado
em todos os sons
daquelas quebras entrecortadas
entre o nada interminável
parado no caminho diário,
me esperando para acolher
o silvo do começo de outra vida
da mesma vida igual
na diferença de sempre em nunca
quando controlo sedento
o pasto febril de verde,
remontando o sorriso
do passado, relembrando o presente.
O peso sufocável da mala
ainda me faz parar de metro em metro
desembarcando os vermes antigos,
vermes de outro corpo
que tentam sugar as palavras
perdidas e reencontradas
da tristeza de não as ter.
A janela fechada que se abria,
ainda com trancas,
mostrava as pétalas remotas
de outro jardim - quase o mesmo.
As pétalas de flores e rosas
fugitivas do sol vadio e rei.
O sol formado por todas as luzes
criadas na janela das pétalas.
Quando na estrada dum lugar
que já não sei qual é,
sustentado por estas pedras imundas,
estas pedras mesmas que o afundam.
Sinto o cheiro dos bafos
em panos de hálitos,
tecendo-se do desconhecido e inconformado.
O tecido que se repete, repete o repetido,
tornando ainda o inverso diferente
em um fim inicial, confuso
mas tangível.
Em dedos, que, na falta do afável,
encontravam o tocável
e sentiam o quê ninguém escutava
nem sentia nem via nem cheirava
nem provava
da mesma prova
que agora me testo rapidamente
para não chorar
e vomitar as palavras
com algum retorno de sentido,
alguma asa poderosa
sentida e entendida por todos
e mesmo pudesse despentear e guardar uma pena
para escrever acrósticos
respondendo tudo,
não deixando rastro sequer
do que já fui eu,
do que já foi palavra
era que eu aprendia a vida,
libertava os bichos aprisionados
e que ninguém mais via,
só meus dois olhos
recobertos de poeira do tempo
qual meu ouvido afogado
em todos os sons
daquelas quebras entrecortadas
entre o nada interminável
parado no caminho diário,
me esperando para acolher
o silvo do começo de outra vida
da mesma vida igual
na diferença de sempre em nunca
quando controlo sedento
o pasto febril de verde,
remontando o sorriso
do passado, relembrando o presente.
O peso sufocável da mala
ainda me faz parar de metro em metro
desembarcando os vermes antigos,
vermes de outro corpo
que tentam sugar as palavras
perdidas e reencontradas
da tristeza de não as ter.
A janela fechada que se abria,
ainda com trancas,
mostrava as pétalas remotas
de outro jardim - quase o mesmo.
As pétalas de flores e rosas
fugitivas do sol vadio e rei.
O sol formado por todas as luzes
criadas na janela das pétalas.
Quando na estrada dum lugar
que já não sei qual é,
sustentado por estas pedras imundas,
estas pedras mesmas que o afundam.
Sinto o cheiro dos bafos
em panos de hálitos,
tecendo-se do desconhecido e inconformado.
O tecido que se repete, repete o repetido,
tornando ainda o inverso diferente
em um fim inicial, confuso
mas tangível.
Em dedos, que, na falta do afável,
encontravam o tocável
e sentiam o quê ninguém escutava
nem sentia nem via nem cheirava
nem provava
da mesma prova
que agora me testo rapidamente
para não chorar
e vomitar as palavras
com algum retorno de sentido,
alguma asa poderosa
sentida e entendida por todos
e mesmo pudesse despentear e guardar uma pena
para escrever acrósticos
respondendo tudo,
não deixando rastro sequer
do que já fui eu,
do que já foi palavra
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
O poema que nunca leste
A linha do horizonte não existe mais,
eu me perco defronte a ti,
o mar rasga a realidade
que já nem existe,
a realidade que é triste.
O ar marinho te faz marinha,
o sul te faz o leste,
leste meu, leste europeu.
O leste que te guarda tua manha,
o leste que te tem a Alemanha.
Eu te perdi naquela última manhã,
te fiz de mim a outra parte distante,
lembro-te como qualquer alemã,
imagino um próximo inesquecível instante.
Tu me pões no caminho errado,
me fazes de mim mesmo meu pecado,
então me sigo pela sombra tua,
me deito na rua,
observo cada nuvem nua,
nasço a lua
eu me perco defronte a ti,
o mar rasga a realidade
que já nem existe,
a realidade que é triste.
O ar marinho te faz marinha,
o sul te faz o leste,
leste meu, leste europeu.
O leste que te guarda tua manha,
o leste que te tem a Alemanha.
Eu te perdi naquela última manhã,
te fiz de mim a outra parte distante,
lembro-te como qualquer alemã,
imagino um próximo inesquecível instante.
Tu me pões no caminho errado,
me fazes de mim mesmo meu pecado,
então me sigo pela sombra tua,
me deito na rua,
observo cada nuvem nua,
nasço a lua
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Entre Sodoma e Sheol
Espero em teu último desespero um dinheiro sem
cheiro não inteiro,
mas pela metade a metade que te é caridade,
a caridade que te falta na necessidade de fugir
da cidade.
E ir para algum outro lugar em que ninguém
saiba tua idade.
Ir para um lugar onde não haja lar, mar ou
qualquer outra coisa que se possa amar.
Tu buscas uma nova busca inútil.
Escutas cada conselho fútil e sem mérito que te
arrebentas num estrépito.
Fazes tuas fezes e esqueces tuas preces.
Esqueces mesmo tuas vestes.
E fechas os olhos inertes,
pensas cada pensamento incoerente e inerente a
ti,
cada tormento intento,
em que tento um tanto quanto me ser em outro
antro
Perdoavelmente necessário
Se me exagero nas palavras
é para te engrandecer nas imagens,
para te reviver nas milhões de viagens
que me permito,
que me imito.
Exagero também teus meio exageros,
te aperfeiçoo com tuas reais perfeições
para inventa proliferadas afeições
as quais me entrego, pego tuas necessidades
quase vaidades, unicamente verdades de mentira.
Adjetivo tua existência,
substantivo teus desejos mais selvagens,
teus princípios mais animais,
enquanto te apaixonas pelos lados mais humanos
que ainda se escondem sob os panos
de ser.
Ainda te amo enquanto te odeio
através do espelho;
ainda te tenho enquanto te perco
em meio ao caos urbano,
o caos subvertedor;
ainda te faço enquanto te desfaces
em nossas corrupções animais, sem faces.
Eu te desenho nas estrelas,
desloco teus ideais
para que se pareçam com os astros
mais deformados e sinistros,
os astros gigantescos e amedrontantes.
Tu me tens no teu único próprio
de pensar,
me ordenas com teus pedidos imperativos
que me ativam num desligamento
do que é viver,
como ganhar no que é perder,
construir uma queda infinita e inafável,
cair entre as rochas inenarráveis,
se debater nos sentimentos intermináveis.
Tu me queres vestido em teus desejos,
em tuas vontades perpétuas
que perfumam esse relacionamento
e se formam num pensamento
apalpável e inimaginável,
um pensamento inexistente
que persiste em seu querer
existir, cair em nossas mão,
fazer do coração a principal razão
de se ter nada no mar de tudo
em que nos banhamos, nos cantamos
a arte desconhecida e querida,
deferida com nossos gritos incessantes
e constantes.
No nosso riso eu me percebo um estranho em tua percepção sem explicação
e então interfiro qualquer lógica,
capto tuas interferências,
rapto tuas transmissões
para nos instituir tuas visões,
me apreendo enquanto aprendo tuas lições
quase confissões, assassinas
de minhas convicções.
Eu me empurro para onde me puxas,
sussurro ao ralo nossa paixão,
justifico nossas necessidades
por meio de provas absurdas
que formam nossas precisões injustificáveis
e por meio de nossas procissões me perdoas os perdões imperdoáveis
é para te engrandecer nas imagens,
para te reviver nas milhões de viagens
que me permito,
que me imito.
Exagero também teus meio exageros,
te aperfeiçoo com tuas reais perfeições
para inventa proliferadas afeições
as quais me entrego, pego tuas necessidades
quase vaidades, unicamente verdades de mentira.
Adjetivo tua existência,
substantivo teus desejos mais selvagens,
teus princípios mais animais,
enquanto te apaixonas pelos lados mais humanos
que ainda se escondem sob os panos
de ser.
Ainda te amo enquanto te odeio
através do espelho;
ainda te tenho enquanto te perco
em meio ao caos urbano,
o caos subvertedor;
ainda te faço enquanto te desfaces
em nossas corrupções animais, sem faces.
Eu te desenho nas estrelas,
desloco teus ideais
para que se pareçam com os astros
mais deformados e sinistros,
os astros gigantescos e amedrontantes.
Tu me tens no teu único próprio
de pensar,
me ordenas com teus pedidos imperativos
que me ativam num desligamento
do que é viver,
como ganhar no que é perder,
construir uma queda infinita e inafável,
cair entre as rochas inenarráveis,
se debater nos sentimentos intermináveis.
Tu me queres vestido em teus desejos,
em tuas vontades perpétuas
que perfumam esse relacionamento
e se formam num pensamento
apalpável e inimaginável,
um pensamento inexistente
que persiste em seu querer
existir, cair em nossas mão,
fazer do coração a principal razão
de se ter nada no mar de tudo
em que nos banhamos, nos cantamos
a arte desconhecida e querida,
deferida com nossos gritos incessantes
e constantes.
No nosso riso eu me percebo um estranho em tua percepção sem explicação
e então interfiro qualquer lógica,
capto tuas interferências,
rapto tuas transmissões
para nos instituir tuas visões,
me apreendo enquanto aprendo tuas lições
quase confissões, assassinas
de minhas convicções.
Eu me empurro para onde me puxas,
sussurro ao ralo nossa paixão,
justifico nossas necessidades
por meio de provas absurdas
que formam nossas precisões injustificáveis
e por meio de nossas procissões me perdoas os perdões imperdoáveis
domingo, 9 de dezembro de 2012
O beijo mais frio
As trombetas infernais soaram às três da madrugada,
estava em chamas a vermelha enseada
que corria ao meu redor
e me possuía num olhar só.
Os raios de sol inexistentes
iluminavam aquela nossa pistola no chão
e dançavam uma valsa tristemente
que me lembrava a morte de nosso duplo coração.
Parece-me que foi ainda ontem
quando esbarrei em teu corpo perfeito
e cruzei meu olhar com o teu
e me fiz perdido entre a multidão
e te queimei o coração
com o beijo inesperado,
o abraço destroçado,
o mundo apressado.
E te levei para os lugares meus
tão desconhecidos e esquecidos,
te mostrei os lugares em que vivi
e só eu conhecia,
só eu vivia.
Te fiz minha amante inseparável,
te quis teu semblante indeflagrável.
Então me perdi entre o quarto escuro,
me joguei em teus braços,
te guardei as mil juras de amor,
te envolvi tua pele em minha pele,
desencontrei o que restava de mim
em teu corpo,
me deixei cair sob os lençóis,
te deixei sentir teus tantos sóis
na cama enluarada,
na nossa cama embotada
de alegria e felicidade,
alegria e felicidade da paixão interminável,
do laço entre nossos corações, inseparável,
dos nossos sentimentos inigualáveis,
das nossas promessas inquebráveis.
E passeamos ao mar,
passamos ao céu,
encontramos nosso lar.
E guardamos, resguardamos.
Fomos nós os mesmos que permeamos
a correr tantos anos,
a viver sob nossos panos,
a saber nossa ciência imprópria,
a querer nosso desejo sem história,
a ser nossa impaciência envoltória,
a ler nossos poemas apaixonantes,
nossas vontades distantes
que jazem nessa caverna verdejante.
O portão enferrujado já não abre mais,
a porta já não suporta tanta paz,
então te peço que me ame,
que me apaixone,
que não desligue o telefone.
Te peço tantos outros pedidos
nunca respondidos,
te vivo nas cenas e nos textos jamais vividos.
Eu te sou nosso incomparável ser
que me pede para morrer.
Então tento, tanto tento, segurar a corda,
segurar o último fio que nos une,
suportar o peso descomunal e insuportável
que me asfixia,
aguentar o cordão que me envolve a garganta
e sufoca.
E eu tento, eu permaneço e continuo,
tentando e tentando.
Mas és tu mesma quem me acordas e cortas a última corda, me cortas em mil pedaços.
Nada precisou dizer, nada precisou fazer,
fiquei apenas a observar aquela traição,
a destruição que tanto planejaste
com aquele outro homem
(tão mais belo e forte),
aquele mesmo homem que me vingaste.
Eu te perdoei, eu gritei,
me gritei,
te gritei
para que voltasses
e me perdoasses meus pecados,
me perdoasses meu recados de amor,
me perdoasses minha paixão,
me perdoasses meu perdão.
Meus olhos me afogaram em lágrimas então,
meus lábios me murmuraram
aquelas tuas frases inesquecíveis
e me lembraram meus ferimentos irreversíveis.
Me permiti correr,
me perder entre as rochas sujas e impuras
na mata que fora nosso palco,
que fora floresta bela
e era agora pântano, enlameado e destroçado.
Eu te via com teu novo amor por todos cantos
e já me perdoara,
tentava não mais amar,
parar de me apaixonar
e aquilo crescia dentro de mim,
crescia sem nunca ter fim.
Fugi,
fugi para um lugar longe de mim,
longe de ti
e fui viver na estação do sol,
fui viver no último terminal,
fui morar nesse próspero lamaçal.
Tudo sem nada, sem graça, sem vida,
muito pouco.
Tudo até te reencontrar,
reencontrar-te naquele meu mesmo pantanal,
tu sofreras como sofri
com outra traição
sem perdão e sem razão,
traição daquele teu homem.
Voltaste para os braços meus,
mas sem amor,
afundada em toda tua dor,
ali estavas, inocente e descrente,
frágil e indefesa.
Colado em corpo teu
te beijei, te amassei a roupa rasgada, suada e desencontrada.
Te voltei meus olhos reluzentes de paixão,
novamente te ofereci meu coração,
tu aceitaste e o esmagaste num teu desgaste entre teus dedos,
disseste querer ter meu coração
no mesmo lugar em que estava o teu - no mesmo estado -,
disseste querer me ser
assim como foras tu
e me destruíste então,
me deixaste ruir
enquanto eu só podia ouvir
teus risos contidos,
misturados às tuas secas lágrimas
que nunca derramara por mim.
Seguraste, assim, minha mão e caminhaste, me levaste,
nos encaminhaste àquela haste, àquela ponte amaldiçoada
e aterrorizante, à ponte distante e vibrante.
E foi lá, sobre as ondas irônicas que se arrebentavam no píer,
o mar sem afeto,
o céu encoberto pelo nosso teto,
que me fizeste teu último pedido,
as palavras te saltaram a boca
feito vômito,
te estrangularam a língua
e perduraram no ar,
me deixaram com náusea
e quase caí ao mar,
mas tua mão me salvou
pela centésima nona vez,
nos abraçamos e choramos,
misturamos nossas lágrimas
entre infinitos tormentos.
Teus lábios se distanciaram novamente
e te beijei para impedir que falasse
aquelas mesmas palavras,
mas ainda com os lábios grudados aos teus
ainda pude ouvir o teu pedido,
o último verso de teu poema:
"Acabe logo com meu coração que já não vive, não resiste".
Lá estava a arma em tua mão,
a segurei, te abracei com toda força minha,
quase sufoquei
e no abraço, assim, disparei.
Te senti o sangue percorrer o peito, a vida esvaziar-te
e me manchar a blusa branca
com teu sangue que me banhou todo o corpo.
Teu olhar inerte olhava o céu
enquanto eu beijava teus lábios mortos e congelados,
teu coração petrificado ia em direção ao fundo sombrio do mar.
Pus a maldita arma em minha boca
e disparei,
tu me traíste novamente
- havia uma bala apenas,
aquela bala encravada em teu coração.
Vaguei, voltei pelo caminho errado
e me desencontrei uma vez outra mais
em meu estado sem vida,
sem quase existência,
com total consciência.
E ainda é madrugada em minha vida,
o sol não nasce,
a lua não brilha,
as estrelas não existem,
apenas há nuvens,
nuvens negras
que me obscurecem ainda mais
o obscuro que me tornei,
o artefato anti-religioso que ditei
e esfriei no inverno mais rigoroso e gelado.
O perdão não existe, o fim já acabou,
tudo já terminou
e continuo amaldiçoado,
cansado de existir,
cansado de ser,
cansado de viver,
cansado de mim,
cansado de estar cansado.
As palavras me são lembranças,
o tormento maior,
daquele amor em que existi e fui e vivi.
Não posso sem ti, não posso sentir.
Não posso ser, não posso poder.
Há muito deixei de ser, deixei de viver e existir,
há muito me abandonei em mim mesmo num canto escuro e imundo desta metrópole agitada.
Tu estás ainda mais viva agora,
em tua plena liberdade,
em tua infinita felicidade do esquecimento,
da vida terna eterna,
enquanto estou preso em mim,
em meu próprio pensamento.
O disparo foi meu,
o sangue era teu,
mas quem morreu fui eu
estava em chamas a vermelha enseada
que corria ao meu redor
e me possuía num olhar só.
Os raios de sol inexistentes
iluminavam aquela nossa pistola no chão
e dançavam uma valsa tristemente
que me lembrava a morte de nosso duplo coração.
Parece-me que foi ainda ontem
quando esbarrei em teu corpo perfeito
e cruzei meu olhar com o teu
e me fiz perdido entre a multidão
e te queimei o coração
com o beijo inesperado,
o abraço destroçado,
o mundo apressado.
E te levei para os lugares meus
tão desconhecidos e esquecidos,
te mostrei os lugares em que vivi
e só eu conhecia,
só eu vivia.
Te fiz minha amante inseparável,
te quis teu semblante indeflagrável.
Então me perdi entre o quarto escuro,
me joguei em teus braços,
te guardei as mil juras de amor,
te envolvi tua pele em minha pele,
desencontrei o que restava de mim
em teu corpo,
me deixei cair sob os lençóis,
te deixei sentir teus tantos sóis
na cama enluarada,
na nossa cama embotada
de alegria e felicidade,
alegria e felicidade da paixão interminável,
do laço entre nossos corações, inseparável,
dos nossos sentimentos inigualáveis,
das nossas promessas inquebráveis.
E passeamos ao mar,
passamos ao céu,
encontramos nosso lar.
E guardamos, resguardamos.
Fomos nós os mesmos que permeamos
a correr tantos anos,
a viver sob nossos panos,
a saber nossa ciência imprópria,
a querer nosso desejo sem história,
a ser nossa impaciência envoltória,
a ler nossos poemas apaixonantes,
nossas vontades distantes
que jazem nessa caverna verdejante.
O portão enferrujado já não abre mais,
a porta já não suporta tanta paz,
então te peço que me ame,
que me apaixone,
que não desligue o telefone.
Te peço tantos outros pedidos
nunca respondidos,
te vivo nas cenas e nos textos jamais vividos.
Eu te sou nosso incomparável ser
que me pede para morrer.
Então tento, tanto tento, segurar a corda,
segurar o último fio que nos une,
suportar o peso descomunal e insuportável
que me asfixia,
aguentar o cordão que me envolve a garganta
e sufoca.
E eu tento, eu permaneço e continuo,
tentando e tentando.
Mas és tu mesma quem me acordas e cortas a última corda, me cortas em mil pedaços.
Nada precisou dizer, nada precisou fazer,
fiquei apenas a observar aquela traição,
a destruição que tanto planejaste
com aquele outro homem
(tão mais belo e forte),
aquele mesmo homem que me vingaste.
Eu te perdoei, eu gritei,
me gritei,
te gritei
para que voltasses
e me perdoasses meus pecados,
me perdoasses meu recados de amor,
me perdoasses minha paixão,
me perdoasses meu perdão.
Meus olhos me afogaram em lágrimas então,
meus lábios me murmuraram
aquelas tuas frases inesquecíveis
e me lembraram meus ferimentos irreversíveis.
Me permiti correr,
me perder entre as rochas sujas e impuras
na mata que fora nosso palco,
que fora floresta bela
e era agora pântano, enlameado e destroçado.
Eu te via com teu novo amor por todos cantos
e já me perdoara,
tentava não mais amar,
parar de me apaixonar
e aquilo crescia dentro de mim,
crescia sem nunca ter fim.
Fugi,
fugi para um lugar longe de mim,
longe de ti
e fui viver na estação do sol,
fui viver no último terminal,
fui morar nesse próspero lamaçal.
Tudo sem nada, sem graça, sem vida,
muito pouco.
Tudo até te reencontrar,
reencontrar-te naquele meu mesmo pantanal,
tu sofreras como sofri
com outra traição
sem perdão e sem razão,
traição daquele teu homem.
Voltaste para os braços meus,
mas sem amor,
afundada em toda tua dor,
ali estavas, inocente e descrente,
frágil e indefesa.
Colado em corpo teu
te beijei, te amassei a roupa rasgada, suada e desencontrada.
Te voltei meus olhos reluzentes de paixão,
novamente te ofereci meu coração,
tu aceitaste e o esmagaste num teu desgaste entre teus dedos,
disseste querer ter meu coração
no mesmo lugar em que estava o teu - no mesmo estado -,
disseste querer me ser
assim como foras tu
e me destruíste então,
me deixaste ruir
enquanto eu só podia ouvir
teus risos contidos,
misturados às tuas secas lágrimas
que nunca derramara por mim.
Seguraste, assim, minha mão e caminhaste, me levaste,
nos encaminhaste àquela haste, àquela ponte amaldiçoada
e aterrorizante, à ponte distante e vibrante.
E foi lá, sobre as ondas irônicas que se arrebentavam no píer,
o mar sem afeto,
o céu encoberto pelo nosso teto,
que me fizeste teu último pedido,
as palavras te saltaram a boca
feito vômito,
te estrangularam a língua
e perduraram no ar,
me deixaram com náusea
e quase caí ao mar,
mas tua mão me salvou
pela centésima nona vez,
nos abraçamos e choramos,
misturamos nossas lágrimas
entre infinitos tormentos.
Teus lábios se distanciaram novamente
e te beijei para impedir que falasse
aquelas mesmas palavras,
mas ainda com os lábios grudados aos teus
ainda pude ouvir o teu pedido,
o último verso de teu poema:
"Acabe logo com meu coração que já não vive, não resiste".
Lá estava a arma em tua mão,
a segurei, te abracei com toda força minha,
quase sufoquei
e no abraço, assim, disparei.
Te senti o sangue percorrer o peito, a vida esvaziar-te
e me manchar a blusa branca
com teu sangue que me banhou todo o corpo.
Teu olhar inerte olhava o céu
enquanto eu beijava teus lábios mortos e congelados,
teu coração petrificado ia em direção ao fundo sombrio do mar.
Pus a maldita arma em minha boca
e disparei,
tu me traíste novamente
- havia uma bala apenas,
aquela bala encravada em teu coração.
Vaguei, voltei pelo caminho errado
e me desencontrei uma vez outra mais
em meu estado sem vida,
sem quase existência,
com total consciência.
E ainda é madrugada em minha vida,
o sol não nasce,
a lua não brilha,
as estrelas não existem,
apenas há nuvens,
nuvens negras
que me obscurecem ainda mais
o obscuro que me tornei,
o artefato anti-religioso que ditei
e esfriei no inverno mais rigoroso e gelado.
O perdão não existe, o fim já acabou,
tudo já terminou
e continuo amaldiçoado,
cansado de existir,
cansado de ser,
cansado de viver,
cansado de mim,
cansado de estar cansado.
As palavras me são lembranças,
o tormento maior,
daquele amor em que existi e fui e vivi.
Não posso sem ti, não posso sentir.
Não posso ser, não posso poder.
Há muito deixei de ser, deixei de viver e existir,
há muito me abandonei em mim mesmo num canto escuro e imundo desta metrópole agitada.
Tu estás ainda mais viva agora,
em tua plena liberdade,
em tua infinita felicidade do esquecimento,
da vida terna eterna,
enquanto estou preso em mim,
em meu próprio pensamento.
O disparo foi meu,
o sangue era teu,
mas quem morreu fui eu
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