- E aí? Como foi o filme? - ele pergunta com um sorriso daqueles que sempre sorria.
- Foi ótimo - outro suspiro. Começa com a protagonista dizendo: "Vem, meu menino vadio", então surge a música ao fundo: "Vem, sem mentir pra você, vem, mas vem sem fantasia, que da noite pro dia você não vai crescer".
Ele somente assiste.
- Até então, ela cantava frente a um espelho e de repente, não mais que de repente, luzes se acendem e ela está em um palco. A música continua e a cena muda. Ela aparece de frente a um homem - ele aproxima o rosto ao dela -, os lábios quase se tocam e ela para e diz: "Não posso fazer isso".
- Por que não?
- "Eu não sou tua", e quando ela diz isso, ele se vira e sussurra...
- Mas eu sou teu...
- "Você não entende? Se ele descobrir, o que será de nós?"
Silêncio. Ela continua:
- Então ele reponde...
- Eu seria feliz.
- E começam a dançar.
Começam a dançar.
- No filme ele é bonito como Alain Delon e ela... mais parece Dulce a Veiga.
- Eu te amo.
- No filme ele diz isso em inglês.
- Eu não sei falar inglês.
Eles se abraçam.
- "Eu faço sucesso neste cabaré, se ele descobre que eu me apaixonei..."
- Então vamos fugir!
- "Ele me encontraria". Então os dois se separam e o filme passa a narrar a história de cada um separadamente. E depois de algumas cenas, alguns minutos, e coisa e tal e tal e coisa.
- Eles se reencontram com brilhos nos olhos.
- Exatamente. Ela descobre que ele não é homem.
- O quê?
- Brincadeira... Ela mostra o diário e diz: "Ontem ele o leu, já sabe do nosso caso".
- Mas não aconteceu nada entre nós.
- "Aconteceu: nos apaixonamos sem querer. E acho melhor você ir embora, a gente nunca mais vai se reencontrar. Ele disse que iria te matar"
Choro. Ele então retira um revólver do bolso.
- O quê é isso?
- Já que não podemos ficar juntos, não quero você por aí, nem eu por aqui.
- E nesse momento ele aponta a arma em direção à testa dela - ele aponta o revólver - e aproxima-se - dá dois passos - puxa o gatilho.
Ele puxa o gatilho.
- Mas não há balas.
- Ela abre a mão e mostra as duas balas.
- Por que você fez isso?
- "Por amor, nós não podemos morrer, meu amor". Ela puxa a arma e a joga no chão. Ele tentar pegar, mas ela o empurra. Começa um tipo de luta coreografada, uma dança de amor e raiva, beijos e tapas.
Eles passam a brigar pelo revólver. Então caem. Próximos, os rostos transpiram. Levantam-se.
- Ela tenta resistir, mas não consegue.
Eles se beijam.
- Nesse momento o dono do cabaré chega, apanha a arma e mata os dois.
- Ainda bem que nesta história só há dois personagens.
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