e me atormenta
é a única coisa que conheço em mim,
é a única parte do mundo que posso entender.
É essa a mesma parte que ponho esperanças
misturando todas as tristezas e todas as alegrias
de tudo que não pude conhecer ou desconheci.
E apesar de serem palavras palavras diferentes,
todas as palavras provêm do local que não conheço,
o mesmo local que busco a mim e a todas as outras coisas que perdi,
mas só encontro o nada,
o mesmo que já havia ali e eu não vi.
Eu me calo então e busco preencher outro espaço,
mas enquanto só esvazio outros espaços
e resguardo algo que não entendo,
algo que também procrio e recrio.
Sem explicar e sem esperar
nasce num outro horizonte vertical
o isso, o aquilo
e todos os pronomes demonstrativos
que nunca mostraram nada
e são desconhecidos
do que deveriam representar.
Escrevo então sobre o que não entendo
para não errar
e não condenar-me
por tudo o que existe,
por tudo o que é triste,
tudo que me faz viver
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